Fintech americana arara.io chega ao Brasil (Thithawat_s/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 9 de agosto de 2021 às 14h37.
Enquanto a Europa reescreve as regras de investimento para proteger o planeta da mudança climática, gestoras de ativos dizem que veem diferenças na forma como essas normas estão sendo interpretadas.
Desde março, gestores na Europa tiveram que se adaptar ao Regulamento para Divulgação de Finanças Sustentáveis. Pensado para combater o chamado greenwashing ao impor um conjunto uniforme de padrões de divulgação, conhecido pela sigla em inglês SFDR, é mais ambicioso do que qualquer outro regulamento aprovado em outras partes do mundo.
Mas uma pesquisa da Bloomberg com cerca de 20 grandes bancos e gestoras de ativos europeus sugere que a regulamentação deixa muito espaço para interpretação. Isso significa que, apesar dos amplos recursos investidos em projetos com padrões ambientais, sociais e de governança, ou ESG na sigla em inglês, os esforços para desviar capital dos emissores de carbono podem, em última análise, falhar.
Baard Bringedal, diretor de investimentos da Storebrand Asset Management, diz que os gestores ainda precisam lidar com “muitas incertezas e pontos cegos” ao tentar alocar dinheiro. “Como um regulamento antigreenwashing”, o SFDR foi um passo importante, disse. “Mas não vem sem limitações.”
É uma visão compartilhada no setor de gestão de ativos. A falta de comparabilidade cria até “insegurança jurídica” para profissionais de investimento, disse o porta-voz do CaixaBank.
O UBS, maior gestor de patrimônio do mundo, disse à Bloomberg que vê uma fragmentação “problemática” na forma como as regras ESG estão sendo lidas. Supervisores nacionais estão apresentando “várias interpretações e requisitos adicionais” antes que haja “qualquer esclarecimento adicional da Comissão Europeia”, disse o UBS.
Os reguladores nacionais manifestam suas próprias preocupações. A Autoridade de Supervisão Financeira da Suécia disse em maio que as novas regras climáticas da UE colocariam um fardo irracional sobre a agência. E também há sinais de que gestores de ativos estão exagerando seu compromisso com o ESG.
Essa confusão pode desacelerar os esforços para combater o aquecimento global em meio a sinais claros de que já está causando mortes no coração da Europa, com inundações repentinas no oeste da Alemanha e na Bélgica no mês passado, deixando a região em estado de choque.
Na segunda-feira, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas divulgou uma avaliação que revela uma ligação “inequívoca” entre a atividade humana e o aquecimento global. António Guterres, secretário-geral da ONU, disse que as conclusões do relatório representam um “código vermelho para a humanidade”, e que os dados “devem soar como a sentença de morte para o carvão e combustíveis fósseis antes que destruam nosso planeta”.
Enquanto isso, gestores de ativos tentam acompanhar o forte fluxo de capital em busca de causas éticas. A Bloomberg Intelligence estima que, até 2025, o mercado de investimentos ESG deve ultrapassar US$ 50 trilhões, mais de um terço do total de ativos sob gestão do mundialmente.
“Reconhecemos a crescente urgência climática de agir e vemos a situação claramente difícil do lado regulatório para acompanhar o ritmo do mercado de investimentos de impacto climático”, disse o Erste Group Bank em sua resposta à pesquisa. “Ainda assim, acreditamos que os regulamentos devem fornecer uma base clara para todos os participantes do mercado e devem ser bem preparados.”
A Europa está bem à frente dos Estados Unidos e da Ásia na criação de uma estrutura regulatória para tentar evitar o greenwashing, ou a prática de exagerar metas ambientais. Nos dois anos até 2020, gestores de ativos na região tiveram que admitir que cerca de US$ 2 trilhões classificados como investimento climático e social não sobreviveram ao rótulo. A questão agora é se esse número pode aumentar.
“Os gestores de ativos estão analisando cuidadosamente suas ofertas de fundos agora para determinar quais carteiras parecem adequadas para investidores ‘verdes’”, disse Hortense Bioy, chefe de pesquisa de sustentabilidade na Morningstar. “Há muito em jogo com o SFDR.”