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Espaços verdes, ciclovias e mais: o desafio das cidades europeias para trazer moradores de volta do campo

Milhares deixaram as cidades para evitar o vírus. A grande questão agora é fazê-los voltar

 (Dmitry Kostyukov/The New York Times)

(Dmitry Kostyukov/The New York Times)

Quando o coronavírus se espalhou por toda a Europa em março de 2020, a vida nas grandes cidades foi modificada, mantendo funcionários de escritório em casa, fechando o setor de hospitalidade e afetando a vida de milhões.

Livres do escritório – muitos pela primeira vez na vida profissional –, moradores de toda a Europa começaram a deixar os centros urbanos, alguns para evitar o vírus, mas outros para escapar de apartamentos apertados e caros e se conectar mais com o mundo natural.

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Agora, quase um ano depois dos primeiros confinamentos e com meses a mais de restrições pela frente, a suposição de que a maioria dos exilados da Covid-19 retornaria naturalmente uma vez que o vírus fosse controlado está sendo questionada. A questão agora não é como manter as pessoas no campo, mas como dissuadi-las de se estabelecer lá para sempre.

Para urbanistas e especialistas em design urbano, isso significa começar a enfrentar problemas que há muito atormentam várias dessas cidades – acessibilidade habitacional, transporte seguro e acesso a espaços verdes –, mas que se tornaram mais urgentes por causa da pandemia.

De forma mais ampla, as cidades terão de lidar com novos desejos de conexão com a natureza e "restabelecer a ligação com a vida", segundo Philipp Rode, diretor executivo do LSE Cities, centro de pesquisa da London School of Economics.

Um êxodo urbano semelhante foi visto nos Estados Unidos durante a pandemia, com os nova-iorquinos ricos se refugiando em sua casa de veraneio e técnicos do Vale do Silício se espalhando pelo país. O fenômeno pode ser ainda mais pronunciado nos Estados Unidos do que na Europa.

"De modo geral, a lealdade a um lugar na Europa é significativamente maior do que nos EUA", observou Rode, apontando para estudos anteriores que mostram que, mesmo entre as cidades em declínio econômico, as europeias sofreram relativamente menos perda populacional. "Muitos desses lugares têm história profunda, cultura profunda."

No entanto, muitas cidades europeias estão introduzindo características como opções de deslocamento para pedestres e ciclistas e espaços verdes expandidos.

As autoridades de Londres iniciaram o projeto Streetspace no ano passado, criando ciclovias temporárias e ampliando zonas de pedestres, pois a população tentava evitar os perigos do metrô e do ônibus lotados. Paris e Barcelona tomaram medidas semelhantes.

Mudanças como essas, que normalmente levariam anos, estão sendo feitas praticamente da noite para o dia, mostrou a empresa de engenharia britânica Arup. (E o ritmo do programa de Londres provocou batalhas legais.)

Mas Léan Doody, que lidera a seção de cidades integradas e rede de planejamento na Europa para a Arup, está otimista com as mudanças. Ela acredita que, embora a pandemia tenha destacado alguns dos problemas mais profundos da vida urbana, isso poderia realmente provocar um movimento para sua melhoria: "Há uma oportunidade de introduzir novos comportamentos à medida que a pandemia vai desaparecendo. Talvez as autoridades municipais, as autoridades de transporte e os empregadores possam pensar em políticas para criar uma visão do futuro que realmente funcione para todos."

Quantificar precisamente quantas pessoas deixaram as grandes cidades da Europa é difícil, porque a pandemia complicou a coleta de dados. Mas um estudo estimou que cerca de 700 mil habitantes deixaram Londres no último ano, a maioria trabalhadores estrangeiros que também podem ter reagido ao Brexit.

No entanto, Londres pode ser uma exceção. Uma pesquisa da Arup descobriu que 41 por cento dos londrinos haviam se mudado da cidade em algum momento da pandemia, em comparação com cerca de dez por cento em Madri, Milão e Berlim e 20 por cento em Paris. A empresa imobiliária Century 21 declarou que, durante o verão do Hemisfério Norte, havia registrado um aumento no interesse em deixar Paris, mas nenhum "êxodo em massa".

Relatórios imobiliários revelaram que trabalhadores de tecnologia deixaram Dublin em massa no ano passado, à medida que o trabalho remoto ia se tornando generalizado.

O alto preço da moradia era um ponto crítico em muitas cidades europeias antes mesmo da pandemia, que expôs e aprofundou a desigualdade. O trabalho remoto, porém, está "afrouxando a ligação" entre habitação e emprego, segundo Doody.

Os preços dos imóveis em Dublin explodiram nos últimos anos depois de um colapso do mercado imobiliário na esteira da crise financeira de 2008; uma queda acentuada na oferta encontrou uma demanda esmagadora, agravada pelo aumento dos aluguéis de curto prazo.

Doody afirmou que os planos do governo irlandês de criar um direito legal para que os funcionários solicitem trabalhar remotamente poderia ajudar a aliviar as tensões habitacionais em Dublin, ao mesmo tempo distribuindo trabalhadores de alta renda por outros lugares.

Brendan McLoughlin, de 29 anos, analista de negócios do serviço postal nacional da Irlanda, está entre os muitos cujo trabalho permanecerá pelo menos parcialmente remoto; ele planeja se mudar de sua residência compartilhada em Dublin para sua casa própria em uma cidade portuária ao norte da cidade ainda este ano. "Acho que a situação forçou essa reavaliação do que importa no seu ambiente e na sua vida doméstica", comentou ele.

Em Paris, que estava perdendo moradores antes mesmo da pandemia, a prefeita Anne Hidalgo já vinha defendendo a ideia da "cidade de 15 minutos" – uma visão de um futuro para os bairros que garantiria que todas as comodidades necessárias existissem a uma curta caminhada da casa das pessoas. Ela fez progressos na redução do tráfego de carros no centro da cidade e promoveu a criação de mais espaços verdes.

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Quando o coronavírus criou uma nova urgência, Paris rapidamente transformou a Rue de Rivoli, uma de suas vias principais, em uma rodovia de bicicletas, interrompeu o tráfego perto das escolas para melhorar a qualidade do ar e usou vagas de estacionamento para ampliar a capacidade de cafés. A cidade agora quer tornar permanentes alguns de seus projetos para a pandemia.

No entanto, encontrar a vontade política para uma mudança duradoura será um desafio, disse Rode, e dependerá em grande medida do nível de engajamento e de aceitação do público.

Malcolm Smith, especialista em design urbano da Arup, argumentou em um relatório recente que a pandemia já havia aproximado as cidades da visão da cidade de 15 minutos, e que agora havia o potencial de transformar a diminuição do tráfego, o ar mais limpo e o tempo maior com a família em características mais permanentes da vida urbana. "O momento mostrou a importância de desenvolver cidades em módulos menores, com serviços essenciais concentrados em torno de centros comunitários. No século XIX, a resposta à cólera em Londres trouxe infraestrutura, a rede de esgoto. Espero que a Covid-19 leve a muitas intervenções de menor escala, mas generalizadas", escreveu ele.

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