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Primeiro painel "Agenda ESG em 2025: nova economia, velhos desafios?" contou com a presença de Annali Duarte, Dilma Campos, Grazielle Parenti e mediação de Lia Rizzo (Eduardo Frazão)
Repórter de ESG
Publicado em 3 de dezembro de 2024 às 18h57.
Última atualização em 3 de dezembro de 2024 às 19h22.
Sororidade, resiliência e foco, intencionalidade e autoestima. Embora não exista uma fórmula mágica para a equidade no mercado de trabalho, estas palavras podem nos guiar para chegarmos lá. A jornada é longa: estima-se pelo menos 130 anos para alcançarmos a igualdade entre homens e mulheres nos negócios, e quando olhamos para o recorte racial, o tempo sobe para 171 anos.
Caso se cumpra, nenhuma de nós estará aqui para assistir. Mas sem dúvidas, muitas terão protagonizado e assinado esta grande luta. Algumas, estiveram presentes nesta terça-feira (3) no "Elas Lideram", promovido por EXAME Plural.
Com lineup exclusivamente feminino, a 2º edição do evento trouxe as perspectivas de mulheres em cargos de liderança em relação à diversidade e inclusão nos negócios e promoveu a troca de ideias entre diferentes setores. Mesmo com uma série de desafios, há razões para ter esperança: elas mostram ser possível chegar lá -- e ainda apontam caminhos possíveis rumo à equidade.[/grifar]
Grazielle Parenti, vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Syngenta Brasil, foi uma das participantes do primeiro painel "Agenda ESG em 2025: Nova economia, velhos desafios", e ressaltou que o agronegócio é um setor muito masculino, e que traz entraves para a participação feminina.
"Este nós contra eles não funciona. A forma de manter a pauta atenta no dia a dia das organizações, seja como executiva ou conselheira, é promovendo ações concretas", destacou. Para ela, está claro que ficar só nas conversas sobre a importância de incluí-las, não é suficiente. "O papel da mulher na sala é ser a voz das que não estão lá. Eu venho de uma geração em que não tivemos facilidade para subir, mas como podemos ajudar umas as outras"?
Além da sororidade e intencionalidade, um dos caminhos para chegar ao topo seria se aliar aos homens. "Sabemos que não é fácil, mas juntos precisamos construir um caminho para que ela tenha a oportunidade nas discussões de calibração de performance", acrescentou.
Annali Duarte, head de Serviços Globais de Pagamentos (GPS) no Bank of America, também percebe um avanço nos últimos dez anos na participação feminina no mercado financeiro, um dos mais masculinos. Neste setor, as mulheres são 34%. Ela celebra a evolução, mas entende que é preciso muito mais.
"Algumas décadas atrás, éramos rodeadas de homens. Às vezes éramos as únicas. Precisávamos falar como eles entendiam, mas também nos esforçar muito para trazer conteúdo. Uma coisa é dizer que você tem 50% de mulheres, mas outra é estar no topo da pirâmide", disse.
O "ser entendida" também foi levantado por Grazi, já que o mundo corporativo foi criado por homens e "para eles", frisou. "Para nós entrarmos nesse lugar, precisamos falar o que eles entendem. Se a gente ficar só no relatório e construção da reputação no longo prazo, você tem um ganho, mas não conversa com a linguagem do negócio".
Dilma Campos, CEO da Nossa Praia, participa ativamente de um conselho para incluir mulheres negras. Ela acrescentou que tem visto o cenário mudar, embora ninguém esteja feliz com o ritmo lento.
"Mesmo assim, precisamos ver o copo mais cheio do que vazio. Estamos em um período difícil, onde a intencionalidade precisa ser cada vez mais ação. Não podemos mais só falar, precisamos agir. E temos que ter esperança, pois somos todas ativistas corporativas", destacou.
Segundo ela, o obstáculo mais difícil de driblar nas corporações é justamente a alta gerência que barra os movimentos de inclusão. Para mudar o cenário, é preciso estar nesse lugar.
"É trazer uma VP negra. Então você quebra a barreira e acelera intencionalmente o processo. Estamos nesse lugar – caminhamos, conseguimos ver avanços e deixamos de ser a geração "da única" a ocupar estes espaços", complementou.
Se já é um trabalho árduo conquistar um cargo C-level sendo mulher, o marcador racial torna o cenário ainda pior -- e a desigualdade aumenta. Embora mulheres negras ocupem um lugar central nas famílias e comunidades, o mesmo não é visto no mercado de trabalho.
Uma pesquisa divulgada neste ano pelo Pacto Global da ONU no Brasil e a 99jobs revelou que 81% das empresas brasileiras têm, no máximo, 10% de mulheres negras em cargos de liderança.
Além disso, 57% disseram nem as encontram no ambiente de trabalho -- e 70% tem apenas homens como chefes diretos.[grifar] As especialistas são unânimes: é preciso investir em ações afirmativas para mudar esta realidade.
Naamisis Campos, CHRO da RD Station e negra, conta que ao se tornar executiva, a primeira decisão foi voltar para a terapia e investir em autoconhecimento -- o que foi essencial para permanecer no cargo e melhorar sua autoestima.
"Recebi apoio, mas precisava estar presente para entender a expectativa dos outros e a minha para atingir o meu melhor. Acredito em vulnerabilidade, sentei com o time para pedir ajuda visando liderar e representar as pessoas. Se entender é o ideal", disse. Na RD, empresa de tecnologia, ela destaca que o ambiente acredita em diversidade e inclusão.
Viviane Elias Moreira, conselheira fiscal no Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, complementou dizendo que nunca vivemos em um mundo corporativo com uma crise de ética e integridade tão grande -- e não só para pretas. "Vemos pessoas sendo demitidas por usar cartão privado, casos de insegurança psicológica e assédio moral sendo normalizado pelo silêncio de quem é conivente".
Segundo ela, quando perdemos espaços e conquistas, quem perde primeiro são as mulheres negras. Isto porque, existe o pacto da branquitude. "Temos capacidades técnicas e carreiras definidas, mas sempre somos questionadas quanto a nossa competência. A raça vem sempre à frente", lamentou.
Thais dos Santos, diretora de Comunicação, DE&I e Sustentabilidade na L'Oréal, também sente na pele o racismo e a falta de representatividade no dia a dia. Segundo ela, idealmente não precisaríamos estar falando disso -- e confessa estar cansada. "Falamos da jornada da pessoa preta no corporativo e na educação, e mexe numa dor minha, dos meus ancestrais e da minha própria família".
Para as três, um dos caminhos é se aliar umas as outras."Mulheres pretas pedem a ajuda das aliadas, mas o silêncio nós expele do mercado. Não falar do óbvio não mantém mulheres pretas na cadeira", disse Vivi.
"Eles combinaram de nos matar e nós combinamos de não morrer. Enquanto eu puder contribuir, estarei aqui e chamarei os outros para essa luta. Continuarei na representatividade, colocando ações em prática", acrescentou Thais.
Outro ponto é se reconhecer como mulher negra, e lidar com as adversidades. Neste sentido, investir na autoestima é primordial, concordam elas. E para além de "repetir um sistema ou 'hackear'", Vivi provoca a reflexão de criarmos um novo. "A construção diariamente precisa ser outra. Falo de raça desde 1994, quando tudo era mato, e digo que não quero 'hackear' mais nada", concluiu.
Atualmente, as mulheres são maioria (70%) na indústria da saúde. Embora o ritmo da equidade ainda seja lento -- com a expectativa de a alcançarmos apenas em 2053 -- o setor está bem na frente de outros.
Giovana Pacini, Country Manager da Merz Aesthetics Latam, conta o motivo da maior diversidade de mulheres na saúde: surgiu como necessidade na 2º Guerra Mundial, quando elas precisaram tomar o espaço dos homens que morriam nas batalhas. A farmacéutica Merz, mesmo sendo uma empresa familiar e com um fundador homem, sempre se aliou à presença feminina, e elas ocupam 80% dos cargos de liderança.
"O mais forte é a questão da liderança, mas aí há um viés para o bem e para o mal, da mulher ser mais cuidadosa nesse segmento. É um cargo solitário, mas é importante nos vermos. Devemos ser interessadas em diversos temas, e não interesseiras", destacou.
Isabella Wanderley, vice-presidente corporativa da farmacêutica Novo Nordisk Brasil, complementa que quando vocês têm mulheres na liderança, elas começam a ser exemplo para outras crescerem e se desenvolverem.
"Quando falamos de saúde, falamos de cuidado e atenção. Ao colocar isto na agenda de diversidade e equidade, vemos que a roda gira", frisou.
Suellen Rodrigues, Diretora Científica na MSD LATAM, também acredita na sororidade entre as mulheres. "É sobre trazer esse lugar de acelerar as tecnologias e colocar as pessoas para se desenvolver e aprender sobre outros negócios. Temos nos aproximado também do universo de startups, não só de saúde, mas também na ideia de elevar resiliência e foco", concluiu.