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Favela no Rio de Janeiro (luoman/Getty Images)
CEO da Favela Holding
Publicado em 23 de janeiro de 2024 às 10h55.
E agora, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou o uso oficial do termo “favela”? É hora de dar adeus ao termo “aglomerado subnormal”, pois de subnormal as favelas brasileiras não têm nada. O que tem nas favelas, e muito, são os talentos mil, as mentes criativas, os negócios inovadores, as pessoas que inspiram, que servem de ponte e de conexão para outras pessoas -- todas esperando serem vistas, à procura de uma oportunidade. Reconhecer isto não significa ignorar a existência dos problemas, que não poucos.
Não me faltam exemplos no País para mostrar como, durante mais de duas décadas, os estados e as prefeituras tentaram a todo custo maquiar a existência e o uso da palavra “favela”. Vamos de exemplos: há locais nos quais as favelas são chamadas de periferia, região periféricaa, de área de “palafita”, vila, conjunto, baixada, grutas, grotas e por aí vai. Todo mundo querendo fugir da expressão vinda do sertão da Bahia. Mas, na realidade, é fácil mudar os nomes e difícil é assumir os problemas para mudar a realidade.
O fato é: fiz essa breve introdução para dizer que agora não tem mais jeito. Não tem escapatória no linguajar popular. Não tem para onde correr. O termo é “favela”, e ponto final. E quem está dizendo não é mais o Celso Athayde, a Nega Gizza o Preto Zezé, a Kalyne, o MV Bill, não é mais a CUFA, que assume esse nome há mais de 25 anos, desde a sua fundação.
Sabemos o quanto era difícil, mesmo para outras organizações, assumirem esse termo tão estigmatizado. Mas, agora é o Ministério do Planejamento e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística dizendo. E isto não é ao acaso, pois nos últimos sete anos estamos pedindo ao IBGE que troque o termo em uso e a resposta sempre foi a mesma: "não podemos mudar sem ouvir outros pensamentos".
Pois é, em 2023, fomos convidados (a CUFA e o Data Favela) para colaborar com a realização do censo nas favelas. Esta foi a chance de trazer todas essas reflexões e sugerir o desenvolvimento do seminário, que acabou acontecendo em Brasília com personagens de todos os segmentos sociais e, validou o termo a partir do debate.
E aqui não é papo de romantização. É papo de que as pessoas finalmente entenderam que mudar o nome dado a um território não causa nenhum tipo de transformação social importante lá. Hoje, o jovem da quebrada tatua o termo favela. Outro exemplo é de um dos maiores projetos de hip hop no Youtube, o “Favela Vive”, recorde em visualizações. Não há porque fugir.
Diante do novo cenário, é importante agradecer a toda equipe do IBGE, do Ministério do Planejamento, à ministra Simone Tebet, por ter encabeçado o projeto Favela no Mapa, juntamente com o Instituto Data Favela, que adentrou as vielas, becos e quebradas para ouvir a base, na fonte, as reais necessidades dos moradores destes espaços, para conhecer seus anseios e a partir do Censo, poder pensar políticas públicas afirmativas e impulsionadoras de uma nova realidade para esses 18 milhões de pessoas moradoras das favelas. O importante é deixar dito que o ideal é não ter favela nenhuma, mas, já que elas existem, vamos construir um espaço de oportunidade para seus moradores. "Valeu a pena, ê ê”.
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