ESG

Diversidade em fornecedores é critério de desempate, diz CEO da Mais Diversidade

Ricardo Sales, CEO da consultoria Mais Diversidade, analisa o cenário da inclusão no Brasil e aborda como grandes empresas têm buscado fornecedores mais diversos

Ricardo Sales, CEO da Mais Diversidade (Mais Diversidade/Divulgação)

Ricardo Sales, CEO da Mais Diversidade (Mais Diversidade/Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 28 de julho de 2022 às 07h00.

Conforme a pauta da diversidade e inclusão avança internamente nas empresas, mais desafios começam a ser percebidos. Um deles é sobre como toda a cadeia pode ser envolvida nos processos ao ter fornecedores mais inclusivos, que respeitem os mesmos parâmetros das contratantes.

Para auxiliar as companhias, consultorias como a Mais Diversidade tem realizado treinamentos em fornecedores, assim como PMEs em geral. Para Ricardo Sales, sócio-fundador da consultoria, o processo racional é parecido. "A diversidade tem que percorrer pontos como sensibilização das pessoas, engajamento da alta liderança e definição de objetivos estratégicos para o negócio", afirma.

O executivo também avalia o cenário da diversidade e inclusão no país como um todo, bem como as necessidades de avanços e caminhos possíveis. Veja a entrevista completa.

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Quais foram os principais avanços nas grandes empresas nos últimos anos?

Nos últimos anos há uma série de avanços. Há cinco anos as práticas de diversidade estavam restritas as multinacionais e, em seguida, as brasileiras se aproximaram do tema. Mas há dez anos, por exemplo, havia enorme dificuldade de tratar as temáticas LGBTI+, apesar de hoje ainda haver questões para superar, como a empregabilidade e inclusão trans. A questão racial até 2019 também não era tratada com a prioridade que merece, e agora começa a aparecer de algum modo.

Quais os desafios atuais para evoluir?

Hoje uma das principais fronteiras é a inclusão nas pequenas, médias e familiares empresas. O tema ainda é concentrado nas grandes organizações. As empresas de capital aberto entenderam seu trabalho de de educação dos funcionários, fornecedores e investidores.

Para evoluir, por exemplo, é preciso analisar as práticas em formulários de contratação de empresas menores, por exemplo, dando prioridade as que são signatárias de compromissos de direitos humanos.

Empresas no Brasil estão de fato preocupadas com a diversidade e inclusão nos fornecedores?

Temos notado que a cada ano as demandas dos clientes da Mais Diversidade vão ganhando um grau de complexidade. Aquela etapa de grandes empresas que começaram a aprender, de modo geral, já passou. E isto agora começa a passar pelos programas de fornecedores, algo que vemos com otimismo porque tem impacto grande na sociedade.

Há um bom exemplo de quem já exija diversidade dos fornecedores?

O Gustavo Werneck, CEO da produtora de aço Gerdau, comunicou que a partir de 2025 a empresa que não tiver políticas de inclusão não será mais fornecedora da Gerdau. A partir disto, ajudamos na estruturação das jornadas dos fornecedores da companhia.

É um trabalho de escala com desde quem, por exemplo, faz parte de um restaurante da fábrica até quem tem matéria-prima para a produção do aço. A iniciativa também contempla diferentes realidades e regiões do país.

Além disso, é importante falar da necessidade do envolvimento da alta liderança. O Gustavo participa disso ativamente, e colabora com a construção do plano para a melhoria dos fornecedores, entendendo que empresas como a qual ele lidera pode ajudar a construir um caminho para o avanço dos setores empresariais.

Como ser um fornecedor diverso pode impactar nos negócios?

Se olharmos para as grandes empresas, por exemplo, que estão começando a trabalhar o tema nos fornecedores vemos uma demanda por conscientização, políticas de tolerância zero como temas de compliance, assédio e mais. O percentual de funcionários diversos chega num segundo momento. E, se a empresa é liderada por alguém de um grupo socialmente minorizado esse pode ser um critério de desempate na hora de escolher o fornecedor. Nenhuma empresa no Brasil está na condição de ter isso como critério exclusivo, mas é um elemento de diferenciação para os negócios.

Os desafios das PMEs são diferentes das grandes empresas na jornada de diversidade?

Pode haver adaptações, mas o processo racional é parecido. A diversidade tem que percorrer pontos como sensibilização das pessoas, engajamento da alta liderança e definição de objetivos estratégicos para o negócio.

É possível falar sobre esse tema com qualquer pessoa de qualquer empresa desde que se utilize o tom de diálogo, respeito e criação de concessos. É um trabalho didático, que não pode reproduzir polarizações. Além disso, empresas menores podem ser até mais ágeis desde que tenham clareza do caminho.

Como a inclusão é relacionada com as práticas ESG?

As práticas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) avançam. Na agenda ambiental se fala da redução das emissões por escopo, e o mercado passar a exigir que as empresas tenham a atenção redobrada na cadeia, até por forças regulatórias.

Mas, o desafio é uma agenda ESG à brasileira, que considere o nosso contexto e coloque o social no centro e exija um comprometimento elevado em combate ao racismo e desigualdade, por exemplo. O que vem acontecendo com a frente ambiental pode servir de exemplo para o social e passe a ter parâmetros claros sobre inclusão.

Um exemplo de que isto é possível vem da CVM, que decidiu pela inclusão de informações sobre representatividade racial e de gênero por linha na empresa, do conselho até a base. Devem ser informadas também diferenças salariais motivadas por gênero e raça e indica um ordenamento e detalhamento de informações chegando ao social.

 

 

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