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Estudo avalia que serviços de saúde não conseguem prover atendimento especializado para essas populações, ao passo que mudanças ambientais ameaçam cada vez mais sua qualidade de vida (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Repórter de ESG
Publicado em 25 de novembro de 2024 às 15h52.
As mudanças climáticas e as crises ambientais impactam a saúde da população de forma desproporcional, sendo as comunidades negras, indígenas e os povos tradicionais os mais afetados. A informação é do boletim “Saúde, Raça e Clima”, produzido pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) em parceria com o Ministério da Saúde, divulgado nesta semana.
O estudo analisa como a saúde pública e as crises climáticas se interligam com o racismo ambiental, conceito que explica os efeitos climáticos sobre as minorias étnicas. Um exemplo é que elas são as principais afetadas por eventos climáticos extremos, como ondas de calor e enchentes.
De acordo com o material, o modelo atual de desenvolvimento econômico e exploração dos recursos naturais prejudica especialmente essas populações vulneráveis. Essas comunidades enfrentam dificuldades para ter acesso aos serviços de saúde, têm moradias precárias em áreas inadequadas e sofrem com a contaminação de águas, solos e alimentos – devido ao uso intensivo de agrotóxicos e práticas predatórias, como o desmatamento e o garimpo ilegal.
Além disso, a expansão da poluição e os impactos de uma política energética que avança sobre territórios tradicionais agravam as condições de vida, enquanto sistemas alimentares desiguais perpetuam a insegurança alimentar e nutricional nesses grupos.
O acesso ao saneamento básico também é crítico para essas populações. Entre indígenas, apenas 29% contam com instalações sanitárias nos domicílios, taxa que chega a 68% entre pardos e 75% entre pretos. A taxa média entre brancos sobe para 83%, enquanto 91% das pessoas amarelas contam com esgotamento sanitário.
Esse fator se conecta diretamente com a saúde das comunidades vulneráveis: de acordo com o Atlas do Saneamento, a falta de saneamento básico foi responsável por ao menos 135 mil mortes entre 2018 e 2019. A região Norte apresenta a menor cobertura de saneamento básico do país, com 46%, quase 20 pontos percentuais abaixo da média nacional.
A qualidade das moradias também está relacionada à saúde dos povos negros e indígenas. Do total de cada dez brasileiros que residem em moradias precárias, o estudo revela que sete são pessoas pretas, pardas ou indígenas.
Para o CBJC, o enfrentamento das mudanças climáticas precisa priorizar a justiça social. “Reconhecer o impacto do racismo ambiental e implementar políticas específicas para mitigar essas desigualdades são passos fundamentais para um futuro mais sustentável e equitativo”, alerta o relatório.
Enquanto as ameaças ambientais e climáticas impactam de forma mais direta as populações que já convivem com a desigualdade social, os serviços de saúde não conseguem prover atendimento especializado e de qualidade às suas necessidades. Em 2021, apenas 371 dos 5.570 municípios brasileiros contavam com políticas de saúde integral para o povo negro.
Pretos e pardos também são os maiores dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS): de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 76% dos atendimentos e 81% das internações no SUS são realizadas para pessoas negras.
O uso de agrotóxicos também foi apontado pelo estudo como um fator nocivo à saúde dos povos em vulnerabilidade. Entre 2019 e 2022, mais de 15 mil casos de intoxicação foram registrados, resultando em 439 mortes. “Esses produtos não apenas afetam diretamente a saúde humana, mas comprometem ecossistemas inteiros, aumentando a vulnerabilidade climática e social das comunidades”, afirma o estudo.
Como solução para a exclusão das populações no sistema de saúde, o CBJC defende políticas públicas que considerem a interseccionalidade entre raça, saúde e clima. Entre elas: