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Cosan: a descarbonização é uma indústria e Brasil deve negociar com o mundo soluções locais

Em entrevista à EXAME durante a COP28, CEO e vice-presidente de sustentabilidade da companhia afirmam que os biocombustíveis são um caminho viável para a redução do uso do petróleo

Paula Kovarsky, vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da Raízen e Luis Guimarães, CEO da Cosan: regulação do mercado de carbono traz oportunidades (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 14 de dezembro de 2023 às 09h55.

Dubai, Emirados Árabes Unidos

O setor privado tem marcado presenças nas COPs, conferências do clima da ONU, e não foi diferente na 28ª edição, encerrada nesta quarta-feira, 13. Realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, a conferência teve como grande tema a eliminação dos combustíveis fósseis, medida fundamental, segundo a ciência, para contar as mudanças climáticas. Mas, se há consenso entre os cientistas de que acabar com o petróleo é imperativo, entre empresários, todos concordam que fazer isso de uma hora para outra é inviável.

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“Acredito que é impossível que os combustíveis fósseis desapareçam da noite para o dia e acho que essa ficha já caiu para todo mundo, então o que é importante entender qual é a forma de construir uma transição que permita um phase out [do inglês, eliminação gradual] dos combustíveis fósseis”, afirma Paula Kovarsky, vice-presidente de estratégia e sustentabilidade da Raízen, joint-venture entre a brasileira Cosan e a anglo-holandesa Shell que atua com biocombustíveis.

Para Kovarsky, uma tendência é o drop in, que se refere à mistura dos combustíveis de fontes renováveis com os combustíveis fósseis, mirando na diminuição da utilização deste segundo – o que corresponde a uma diminuição das emissões de gases de efeito estufa (GEE). “Permitindo, assim, que isso seja feito de uma forma faseada, economicamente viável, usando a infraestrutura existente”, disse a vice-presidente.

O poder do biocombustível brasileiro

Essa mistura já existe – reforça Luis Guimarães, CEO da Cosan – como é o caso do biometano sendo misturado ao gás natural, que está disponível nas redes de distribuição. Seguindo a tendência mundial que já acontece em países como a Índia e os Estados Unidos, que já se preparam para escalar a alternativa. Segundo Guimarães, não existe apenas uma solução, e a sociedade terá que se acostumar com uma série de saídas para essa questão.

“Acho que a próxima grande onda que o Brasil vai poder contribuir com o mundo combustível sustentável de aviação, o famoso SAF, porque ele tem característica exatamente igual ao JET (combustível tradicional), só com uma pegada de carbono muito menor”, afirmou Guimarães.

É certo: o Brasil tem o potencial de se tornar uma referência no assunto dos biocombustíveis, mas para isso, a produção precisa crescer consideravelmente com investimentos a longo prazo. E aqui está a importância de programas como o RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis, sob a Lei nº 13.576/2017, que tem como objetivos principais: auxiliar no cumprimento dos compromissos brasileiros, segundo o Acordo de Paris, promover o crescimento dos biocombustíveis e a sua regulamentação – além de assegurar a previsibilidade do mercado.

“O RenovaBio incentiva a infraestrutura, ou seja, o investimento a longo prazo por meio de confiança ao investidor, ter o framework regulatório e a segurança jurídica no Brasil que é muito importante que os investimentos sejam feitos pelos brasileiros e mundo afora. Assim, acredito que o Brasil pode ser um protagonista extremamente importante nessa transição e ser a potência verde nesse próximo século”, disse Guimarães.

A regulamentação no mercado de carbono

Para Kovarsky, é importante ter no radar os padrões internacionais de regulação deste mercado. “Nós queremos objetivamente poder exportar essa vantagem competitiva e capturar o valor dela aqui fora, é fora do Brasil onde o crédito de carbono tem que ser o maior valor”, afirmou a vice-presidente.

“Tudo que fizermos no Brasil em termos de certificação precisa ser reconhecido pelo mercado internacional para que possamos capturar esse valor. E, assim, achamos que o mercado regulado demore um pouco mais para se consolidar, mas temos uma série de oportunidades”, disse Kovarsky. Os acordos bilaterais são exemplos de como o mercado de carbono tem se organizado no Brasil.

“Temos que encarar como brasileiro, como governo e como iniciativa privada que isso é uma indústria. Temos que estar na mesa de negociação para construir regras para que as nossas soluções sejam comercializadas. Hoje, existe um desconto do crédito brasileiro em relação ao mercado global e precisamos fechar essa lacuna para garantir que venha riqueza para o povo brasileiro, para que possamos tirar milhões de brasileiros da pobreza e garantir que a Amazônia seja viável economicamente”, afirmou Guimarães.

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