COP16: Brasil busca novo modelo de financiamento da biodiversidade, diz Marina Silva
Ministra do Meio Ambiente contou os avanços e objetivos nas negociações por parte da delegação brasileira
Repórter de ESG
Publicado em 31 de outubro de 2024 às 17h38.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 11h35.
De Cali, Colômbia*
Os avanços e as negociações entorno da participação brasileira na COP16, a Conferência da ONU sobre a biodiversidade, foram detalhados na manhã desta quinta-feira, 31, pela ministra do meio ambiente Marina Silva.
O financiamento necessário para garantir a manutenção da biodiversidadeé um dos pontos que, segundo Marina Silva, estão aquém do necessário. “Chegamos a cerca deUS$ 200 milhõesvoltados a proteção dos ecossistemas, valor muito inferior ao necessário. Há ainda a promessa de atingirmosUS$ 407 milhõesno Fundo Global da Biodiversidade”, afirmou. A ministra afirmou que o trabalho inclui garantiro acesso por países em desenvolvimento e megadiversos.
Maria Angélica Ikeda, diretora do departamento ambiental do Itamaraty, afirmou que o Brasil está empenhado em propostas para a melhor implementação do Marco Global da Biodiversidade.“Não podemos ficar na promessa do financiamento de 2% da meta dos países desenvolvidos”, disse.
Marina Silva ainda afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca umareforma nos mecanismos multilaterais de financiamento, uma vez que as fontes financeiras globais podem não atender às necessidades doSul Global.
“Queremos um mecanismo novo de financiamento no espaço dasiniciativas privadas, não apenas em doações. Assim, não terá um grande peso o pagamento dos países desenvolvidos, já que esse recurso viria das empresas. Não é uma doação, é um pagamento”, reforçou.
Remuneração às comunidades
De acordo com a ministra, a prioridade do Brasil é que as negociações determinem uma remuneração justa às populações tradicionais, indígenas e afrodescendentes pelo seu trabalhonos saberes e domínio dos recursos genéticos da biodiversidade.
O tema gera um impasse. Uma das negociações em andamento é sobre o possível pagamento das companhias que exploram os dadosgenéticosda biodiversidade para ascomunidades tradicionais. O tema inclui gigantes da indústria farmacêutica, beleza e cosméticos. A discussão é sobrequais empresas devem pagar, quanto deveriam custear e se esse pagamento deve ser obrigatório ou voluntário.
Enquanto o Brasil e países africanos votam que a remuneração aos povos deve serobrigatória– e fixa em 1% dos lucros da companhia --, nações como Suíça, Japão, Estados Unidos e a União Europeia votam pelos pagamentosvoluntários.
“O que queremos é repartição justa dos benefícios para as populações tradicionais”, disse a ministra.
Inclusão dos povos indígenas e afrodescendentes
A ministra ainda afirmou que é importante para o Brasil que esta COP da biodiversidade conte com a determinação sobre o Artigo 8J. Trata-se de um documento da Organização das Nações Unidas que reforça aimportância dos saberes tradicionais, das inovações e práticas indígenas e afrodescendentes na manutenção da biodiversidade. Nesta quinta-feira, 31, foi aprovado o grupo de trabalho sobre o tema, o que acelera o alcance das metas do Marco Global.
A cooperação entre as três conferências das ONU – além da COP da biodiversidade, também existem a do clima e a contra a desertificação – também foi citada pela ministra. O objetivo é que haja mais sinergia entre as convenções, de forma que atuem em uma forte colaboração entre os temas na busca de um mesmo objetivo: a melhoria dos ecossistemas. “Esperamos mais união entre as COPs que nasceram a partir da Conferência Rio 1992, e que, daqui em adiante, possamos ter mais clareza sobre como essa sinergia vai acontecer”, disse.
*A jornalista viajou a convite.