Carros elétricos no Brasil elevarão oferta global de açúcar
A demanda por etanol no Brasil provavelmente começará a diminuir em 2030 à medida que os veículos elétricos se popularizam
Bloomberg
Publicado em 15 de junho de 2021 às 13h25.
Última atualização em 22 de junho de 2021 às 11h41.
Por Isis Almeida, Fabiana Batista e Leonardo Lara, da Bloomberg
O Brasil está prestes a inundar o mercado mundial de açúcar porque a transição do país para veículos elétricos reduzirá a demanda por biocombustíveis de base agrícola. A conclusão está em um estudo liderado por um influente executivo do setor.
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A demanda por etanol no Brasil provavelmente começará a diminuir em 2030 à medida que os veículos elétricos se popularizam, disse Soren Jensen, que já foi diretor operacional da maior trading de açúcar do mundo, a Alvean, e conduziu o estudo junto com Mariana Perina Jirousek. A situação deixará as usinas do Brasil — o maior exportador mundial de açúcar — sem opção a não ser produzir mais açúcar em vez de etanol.
A mudança no País representa um revés para o mercado mundial de açúcar. Os efeitos negativos de superávits globais do produto e preços mais baixos serão sentidos em locais como Tailândia e Índia, onde o custo de produção é mais alto. É também um revés para empresas como Raízen Energia e BP, que recentemente expandiram a capacidade de produção de etanol.
“Está claro que uma adaptação das novas tecnologias representará uma ameaça significativa para o setor de processamento de cana-de-açúcar do Brasil”, disse Jensen, que trabalha há três décadas no agronegócio. “Os participantes do setor devem começar a levar isso em consideração ao tomar decisões de investimento gradualmente de agora em diante.”
A demanda por etanol, que em alguns anos corresponde a mais de 50% de toda a cana moída no Brasil, pode começar a diminuir a partir de 2025 e recuar cerca de 40% até 2035, de acordo com o cenário mais pessimista traçado pelo estudo. De 2035 a 2040, haveria perda adicional de 20%, deixando a demanda em apenas 40% do nível atual.
As usinas brasileiras têm a possibilidade de alternar rapidamente a produção do açúcar para o etanol, reagindo às flutuações no mercado internacional de açúcar. Em tempos de superávit, as usinas fabricam mais etanol, em muitos casos eliminando o excedente global de açúcar. A adoção de veículos elétricos significa que o Brasil perderá a capacidade de equilibrar o mercado de açúcar, prejudicando outros países produtores que já enfrentam a queda da demanda à medida que as preocupações com a saúde levam as pessoas a diminuir o consumo de açúcar.
Nos últimos 15 anos, essa flexibilidade absorveu choques em períodos de excesso de oferta de açúcar, segundo Jensen. Sem essa possibilidade, os preços ficarão mais voláteis, acrescentou o executivo.
A gravidade do impacto da adoção dos carros elétricos vai depender da velocidade da mudança, de acordo com o estudo. No pior cenário, os autores consideram que os carros híbridos plug-in (carregados na corrente elétrica) prevalecerão no panorama de veículos elétricos no Brasil devido ao avanço dos aplicativos de transporte particular.
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