ESG

Patrocínio:

espro_fa64bd

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Transição energética: Brasil atrai US$ 37 bilhões de investimentos, mas desafios persistem

Em Fórum da Bloomberg NEF, especialistas defendem que os altos riscos cambiais, entraves regulatórios e a falta de instrumentos financeiros inovadores limitam o pleno potencial do país

Embora estejam em alta, os investimentos em transição energética no Brasil ainda representam apenas 1,8% dos US$ 2 trilhões totais no mundo (Getty Images)

Embora estejam em alta, os investimentos em transição energética no Brasil ainda representam apenas 1,8% dos US$ 2 trilhões totais no mundo (Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 1 de abril de 2025 às 19h00.

Última atualização em 2 de abril de 2025 às 12h07.

O Brasil se consolidou como o sétimo maior destino global de investimentos em transição energética em 2024, com US$ 37 bilhões (R$ 192,4 bilhões) captados – um crescimento pelo terceiro ano consecutivo e que mostra seu potencial em soluções verdes, impulsionado por energia solar, eólica e veículos elétricos.

Por outro lado, há um paradoxo: o valor ainda representa apenas 1,8% dos 2 trilhões (R$ 10,4 trilhões) investidos no mundo e ainda é bastante aquém frente a sua liderança em recursos naturais e energias renováveis. 

É o que revela o novo relatório anual Brazil Transition Factbook 2025 da Bloomberg NEF e que também destaca um cenário em que o país precisa investir US$ 6 trilhões para zerar as emissões até 2050. 

Líder em matriz renovável no G20 (88%), 53% das emissões brasileiras ainda vêm do transporte e o motor para a descarbonização está na eletrificação. Este setor cresceu 126% no ano passado, com vendas de EVs atingindo 6% do mercado automotivo e impulsionadas pela chegada de montadoras chinesas como a BYD, que deve inaugurar uma fábrica no país ainda em 2025.

Segundo prevê a Bloomberg NEF, as finanças sustentáveis devem aumentar ainda mais neste ano, com a introdução de uma nova taxonomia, relatórios de riscos climáticos e amadurecimento do mercado de carbono regulado.

Mas os desafios persistem: riscos cambiais, entraves regulatórios e a necessidade de instrumentos financeiros inovadores ainda limitam o pleno potencial do Brasil, defenderam especialistas durante o Fórum da Bloomberg NEF realizado nesta terça-feira, 1° de abril, em São Paulo.

Desafios e oportunidades rumo à COP30

O painel Rumo à COP30: Oportunidades climáticas em finanças reuniu Joaquim Levy, atual líder da GFANZ (Aliança Financeira para o Net-zero) e ex-ministro da Fazenda do Brasil, Erika Medici, CEO da AXA Seguradora no Brasil e especialista em gestão de riscos climáticos, Guilherme Ferreira, cofundador e presidente da JiveMauá, gestora de investimentos alternativos que nasceu da fusão da Jive Investments com a Mauá Capital, e Luciana Ribeiro, sócia-diretora e CEO da eB Capital, à frente das discussões do setor privado.

Segundo Levy, o financiamento por meio do mercado de capitais já é uma realidade, com 40% dos projetos de energia limpa utilizando debêntures de infraestrutura verde (títulos de dívida emitidos por empresas). Mas alertou: "A taxa de juros real no Brasil ainda é o dobro da média dos emergentes, e o câmbio volátil continua assustando investidores estrangeiros".

A finalização da taxonomia sustentável até julho de 2025 e a expansão do programa Eco Invest lançado em 2023 pelo governo federal são passos cruciais para destravar novos recursos e reduzir riscos, destacou Levy.

Erika Medici, CEO da AXA Seguradora, trouxe à tona uma questão urgente: a proteção contra eventos climáticos extremos. Em 2024, apenas 40% das perdas globais por desastres climáticos tinham cobertura de seguros, percentual que caiu para 6% nas enchentes do Rio Grande do Sul.

A especialista defendeu "uma revolução" nos modelos de prevenção. "Para cada dólar investido em mitigação, economizamos US$ 7 em reconstrução", afirmou, destacando a importância dos investimentos em seguros frente ao cenário da crise climática.

Guilherme Ferreira, da JiveMauá, fez uma análise sobre a evolução dos investidores climáticos, os incluindo em quatro categorias de perfis distintos. De um lado, os céticos que ainda veem a agenda ambiental como custo, não como oportunidade.

No outro extremo, os investidores estratégicos que já compreendem a análise climática como vantagem competitiva. "O aço verde é o exemplo perfeito: seu prêmio de mercado já supera o custo adicional de produção", observou Ferreira. Dados da B3 corroboram essa tese: iniciativas com selo ESG apresentaram uma valorização 35% acima da média em 2024.

Mirando a COP30 em Belém em novembro de 2025, Luciana Ribeiro, da eB Climate, foi enfática: "Ou o Brasil chega como líder em soluções reais, ou será só mais um vendedor de commodities verdes".

A especialista, que coordena a força-tarefa de finanças do setor privado na COP30, acredita em três eixos estratégicos: posicionar o biocombustível como alternativa global ao diesel fóssil, estruturar o mercado de carbono (o Brasil detém 30% dos créditos do mundo) e atrair capital estrangeiro para impulsionar o hidrogênio verde.

Para destravar investimentos, os especialistas concordaram que a prioridade é termos regras claras — tanto na taxonomia sustentável quanto no mercado de carbono. Da mesma forma, a criação de instrumentos financeiros inovadores, como equity verde e seguros climáticos mais acessíveis, foi apontada para escalar o fluxo de capital.

Além disso, a COP30 pode ser uma oportunidade única do Brasil assumir um papel de liderança na diplomacia climática global.

"O mercado já entendeu que clima é oportunidade. Agora, precisamos provar que o Brasil é onde essa conta fecha", destacou Levy. Os números mostram que o país tem ativos valiosos — da matriz energética renovável ao potencial ainda inexplorado no mercado de carbono.

Acompanhe tudo sobre:ESGEnergia renovávelTransição energéticaCOP30Carbono

Mais de ESG

O ‘novo normal’ dos eventos extremos e a resiliência no fornecimento de energia elétrica

Banco da Amazônia encerra COP30 com nova arquitetura financeira verde

Para avançar no ESG, empresas apostam na formação de jovens aprendizes

Da frota elétrica ao mercado global: como Manaus quer monetizar sua descarbonização