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Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente: “Hoje até dou risada quando vejo certas pessoas defendendo a implementação do código florestal” (Elza Fiúza/Agência Brasil/Agência Brasil)
Rodrigo Caetano
Publicado em 18 de agosto de 2020 às 11h11.
Última atualização em 18 de agosto de 2020 às 11h24.
O período em que Izabella Teixeira comandou Ministério do Meio Ambiente, entre 2010 e 2016, registra duas grandes conquistas. A primeira, é a do menor desmatamento da história recente na Amazônia. Em 2012, a destruição da floresta ficou em 4,6 mil quilômetros quadrados, menos da metade do registrado no ano passado. A segunda, é a aprovação do Código Florestal.
“Hoje até dou risada quando vejo certas pessoas defendendo a implementação do código”, afirma a ex-ministra. “São os mesmos que adotavam uma postura reativa quando visitavam meu gabinete.” Aprovada há oito anos, a legislação ainda não foi implementada por falta de regulação. Mas, atualmente, é defendida tanto por ambientalistas, quanto por ruralistas. Teixeira diz que sofreu forte pressão dos ambientalistas, na época, por defender o diálogo com os produtores rurais.
Os tempos eram outros. “Havia um ambiente de disputa, mas amistoso. Não é como hoje, em que há uma guerra declarada”, lamenta. Para ela, o atual governo erra ao encarar a questão ambiental como um obstáculo ao desenvolvimento, não só por ser possível conciliar crescimento econômico e proteção ao meio ambiente, mas, principalmente, por abdicar de um protagonismo construído desde 1992. No momento em que, finalmente, a agenda ambiental se torna prioritária, o Brasil decide brigar com o próprio passado e ir contra o resto do mundo.
“A sustentabilidade foi uma preparação do século 20 para o século 21”, diz Teixeira. “E o Brasil liderou boa parte das discussões. Não havia um tema ambiental sequer que não fôssemos chamados à mesa. Agora, estamos olhando de fora. A impressão que eu tenho é de que nunca superamos o 7 a 1 e passamos a jogar como time de várzea.”
Esse protagonismo brasileiro foi construído lentamente, explica Teixeira. Começou com a Rio 92, primeira conferência do clima da ONU, quando a sociedade civil foi chamada a contribuir. Na conferência de Copenhague, em 2009, o Brasil “virou a mesa” e liderou a construção do Acordo de Copenhague, juntamente com Estados Unidos, China, Índia e África do Sul. O documento reconhecia as mudanças climáticas como um desafio global e propunha ações para manter o aumento da temperatura abaixo de 2 graus. A Europa, que hoje abraça o combate às mudanças climáticas como um pilar da política externa, foi contra.
Os esforços brasileiros também foram importantes para a construção do Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países. Uma das bases do acordo é a Plataforma de Durban, criada na conferência do clima de 2011, realizada na África do Sul, que é o instrumento jurídico responsável por gerir as medidas de mitigação das emissões. As negociações haviam chegado a um impasse em função de termos utilizados no documento. Foi a intervenção do negociador-chefe brasileiro, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, que solucionou a questão. Na época, Teixeira comandava o Ministério do Meio Ambiente e participou das negociações.
De país estratégico para o desenvolvimento global sustentável, o Brasil se tornou um entrave numa agenda que passa a dominar as negociações comerciais entre os países. Com isso, diz a ex-ministra, o governo se coloca numa posição frágil, propensa a ataques movidos por interesses externos.
“Negar a verdade, a ciência e o que nós mesmos fizemos é de uma miopia muito grande”, diz ela. “Não tem problema fazer mudanças. Mas, tem de conversar com a sociedade. Neste momento, devíamos usar a biodiversidade a nosso favor e não ficar guerreando. É natural e democrático discordar. Agora, de 10 questões, você debate 2 e avança em oito. Nós estamos empacados em 2 e perdendo as outras 8. É um perde, perde, perde”.