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O Brasil superou recentemente a marca de mil ônibus elétricos em circulação e o setor está em plena expansão (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 11h30.
Última atualização em 23 de dezembro de 2025 às 11h37.
Responsável por cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o setor de transporte é peça-chave para que o país alcance suas metas climáticas e avance rumo à neutralidade de carbono até 2050.
Grande parte do desafio vêm do alto consumo de energia e a eletrificação se torna solução diante de uma matriz energética brasileira predominantemente renovável e limpa.
Mas não se trata só de uma questão ambiental: a transição completa da frota poderá gerar um incremento de 300 bilhões de reais à economia e criar mais de 500 mil empregos até 2050, apontam dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Nesse contexto, o Banco Mundial aprovou na segunda-feira, 22, a primeira fase de um programa que representa um investimento de US$ 500 milhões para acelerar a eletrificação do transporte público brasileiro.
Na fase inicial, o foco será em financiar a substituição de ônibus movidos a diesel por cerca de 540 ônibus elétricos e construir a infraestrutura necessária: estações de recarga, modernização de garagens e melhorias na rede de distribuição de energia.
O projeto será implementado pela Caixa Econômica Federal, que atuará como intermediária financeira oferecendo linhas de crédito para cidades e operadores.
A expectativa é beneficiar cerca de 1,3 milhão de moradores que vivem próximos a corredores de transporte público diretamente e 280 mil usuários e motoristas regulares.
Além de ajudar na descarbonização do setor, os novos veículos reduzem significativamente o ruído e a poluição do ar nos centros urbanos, com impactos diretos na saúde e na qualidade de vida da população.
Para Jean Rodrigues Benevides, vice-presidente em exercício da Caixa, é um avanço significativo na modernização do transporte público.
"A iniciativa assegura investimentos, assistência técnica e inovação para acelerar a transição energética e alinhar o país às metas climáticas nacionais", destacou em nota.
O movimento ocorre em um momento de forte expansão da eletrificação no país.
O Brasil superou recentemente a marca de mil ônibus elétricos em circulação. Embora o número ainda seja inferior ao de países vizinhos como Chile (2,6 mil) e Colômbia (1,7 mil), o crescimento tem sido expressivo.
Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram emplacadas 306 unidades no primeiro semestre de 2025, um salto de 141% em relação ao mesmo período de 2024.
São Paulo lidera a transição, com 841 ônibus elétricos, representando 6,3% da frota municipal. A meta da capital paulista é ambiciosa: chegar a 20% dos 13,3 mil ônibus até o fim de 2028.
A indústria também responde ao aumento da demanda. A BYD anunciou nos últimos dias a construção de uma nova fábrica de grande porte para chassis de ônibus elétricos no Brasil, prevendo elevar a produção de cerca de 600 unidades acumuladas na última década para até 7 mil chassis por ano nos próximos três anos.
O programa também prevê a criação de empregos em diversos setores da cadeia produtiva, incluindo fabricação de ônibus, operações, manutenção e serviços especializados.
Do total de US$ 500 milhões, US$ 490 milhões serão destinados aos investimentos em veículos e infraestrutura, enquanto US$ 10 milhões financiarão assistência técnica e fortalecimento institucional.
Um dos diferenciais é a inclusão de medidas para ampliar a participação feminina no setor, oferecendo capacitação profissional para que cobradoras e trabalhadoras possam migrar para funções como motoristas, técnicas e gestoras de frota.
"É um ponto de inflexão para o transporte urbano no Brasil", afirmou Cécile Fruman, diretora do Banco Mundial para o Brasil.
"Ao combinar investimento com reformas institucionais e fortalecimento de capacidades, o Brasil pode atrair capital privado, fortalecer sua indústria doméstica e tornar o transporte público mais confiável e inclusivo para milhões de usuários", destacou.
A Caixa disponibilizará linhas de crédito dedicadas para municípios e operadores de transporte interessados em adquirir frotas de ônibus elétricos e a infraestrutura associada.
Além disso, a ideia é desenvolver um mercado de créditos de carbono proveniente dos projetos, o que pode gerar recursos adicionais para a sustentabilidade financeira das operações.
Apesar dos avanços, o setor de transportes segue como um dos principais desafios climáticos do país. O recém-aprovado Plano Clima estabelece que o Brasil zere as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 e reduza entre 59% e 67% das emissões até 2035, em comparação com 2005, conforme a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
Embora o maior peso das emissões brasileiras esteja no uso da terra e na agropecuária — responsáveis por mais de 70% do total —, o transporte enfrenta um gargalo estrutural na forte dependência do modal rodoviário.
Essa concentração compromete a eficiência energética e dificulta a transição para alternativas mais sustentáveis, tornando o transporte um dos poucos setores com previsão de aumento das emissões até 2030.
Em entrevista recente à EXAME, Aloisio de Melo, secretário nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), explicou que, nas cidades, a principal fonte de emissões está no uso de gasolina e diesel no transporte urbano de passageiros e de carga de curta distância.
“A aposta é na eletrificação e, principalmente, no aumento da participação do transporte coletivo. Há um desafio importante no setor, mas também uma oportunidade de transformação tecnológica”, afirmou.