ESG

72% das mulheres sofreram assédio no trabalho, aponta pesquisa da Aberje

A pesquisa A Mulher na Comunicação - sua força, seus desafios, realizada pela a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), mostra dispardade salárial, liderança feminina e outros aspectos no ambiente corporativo

A Mulher na Comunicação - sua força, seus desafios, é a mais recente pesquisa divulgada pela a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).  (Morsa Images/Getty Images)

A Mulher na Comunicação - sua força, seus desafios, é a mais recente pesquisa divulgada pela a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).  (Morsa Images/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 7 de maio de 2022 às 08h00.

A questão mais importante enfrentada pela mulher no ambiente de trabalho hoje é o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, o que demonstra ainda a presença da cultura onde a mulher é a responsável pela administração das questões do núcleo familiar, segundo a pesquisa A Mulher na Comunicação - sua força, seus desafios, realizada pela a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). 

O levantamento realizado para compreender os desafios da mulher no mercado de trabalho mostra ainda que há a desigualdade de remuneração em relação aos homens (34%), e a falta de oportunidades de promoção (22%) também são vistas como questões importantes enfrentadas.

Para 50% das entrevistadas, o que mais impede que mulheres cheguem ao topo da carreira está associado à subestimação de suas capacidades, que faz com que não seja considerada para uma função/oportunidade. Em segundo lugar, com 47%, o impeditivo de crescimento acontece quando elas expressam suas opiniões e são julgadas por isso.

“Embora as mulheres estejam majoritariamente presentes no mercado de Comunicação Corporativae observamos isso pela nossa rede de associadas, a pesquisa mostra que ainda há desafios e barreiras na questão da equidade de gênero dentro das organizações, que são reflexo da própria sociedade", diz Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Aberje. 

Exemplo disso são a perda de seu papel e/ou a redução de suas responsabilidades em decorrência da maternidade (35%), os rótulos excessivamente assertivos ou agressivos (33%) e a chamada “Síndrome da Impostora” (25%), quando a mulher acredita não ser capaz de algo e pratica autossabotagem.

Os principais problemas enfrentados pelas 554 mulheres entrevistadas que atuam na área de comunicação em diversas organizações e regiões do país, são: a falta de treinamento para as mulheres (38%), o baixo nível de promoção das mulheres (37%), a falta de sororidade entre as mulheres (36%), a desigualdade de tratamento entre os gêneros (28%), os menores salários pagos às mulheres (24%) e o assédio por parte dos colegas de trabalho (17%).

Equidade de gênero nas empresas

A maioria das participantes (81%) acredita ainda que ter uma política implantada contribui para a equidade de gêneros na organização. Porém, apenas 29% delas conhecem as políticas nas suas empresas e adotam práticas formais em relação à equidade de gêneros.

Além disso, é maior o número de homens em cargos de liderança na maioria (61%) das organizações atuais das participantes. Porém, em 32% das organizações, o número de mulheres em cargos de liderança já é maior ou igual ao número de homens. Embora 18% das entrevistadas dizem não se incomodar com a comparação,  41% se sentem desconfortáveis ou muito desconfortáveis com esse desequilíbrio entre homens e mulheres em cargos de liderança.

As iniciativas das organizações relacionadas ao desenvolvimento das mulheres em liderança ainda são modestas, uma vez que apenas 24% das organizações atuais das participantes têm programas específicos para esse fim. Para as entrevistadas, as competências/habilidades mais importantes a serem abordadas em programas de desenvolvimento de liderança feminina são, nesta ordem: planejamento de carreira (57%) e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (46%), construção de imagem – personal branding (38%), confiança (38%), postura executiva (37%) e comunicação (37%). 

Quando questionadas em que áreas os homens não percebem as mulheres como eficazes, as participantes apontaram majoritariamente solução de problemas (74%) e foco em resultados (71%).

O estudo também aponta sobre as barreiras e principais desafios estruturais enfrentados pelas mulheres. De acordo com as respostas, 52% acreditam na propensão de homens beneficiarem outros homens na sucessão de cargos ou indicação. Além disso, 38% acham que a cultura  organizacional ainda discrimina a condição feminina e 36% acreditam ter dificuldade no desenvolvimento da carreira em razão da gestão das questões profissionais e familiares.

Em quase um quarto (23%) das organizações, a remuneração da mulher é menor que a do homem no mesmo cargo, e em um terço (33%), as mulheres têm menos oportunidade de crescimento profissional que os homens.

Assédio

Outro ponto destacado na pesquisa é a questão do assédio, um dos maiores problemas enfrentados pela mulher no local de trabalho: 72% das participantes, ou três em cada quatro, já enfrentaram assédio no local de trabalho, da mesma forma que 77% já presenciaram atos de assédio contra outras mulheres no local de trabalho. 

As medidas que as participantes acreditam ser mais efetivas no combate ao assédio sexual no local de trabalho são: punições mais enérgicas para o assediador (55%), implementação de mecanismos eficazes de acolhimento às reclamações (40%), trabalhar mais fortemente na sensibilização dos homens (36%) e ampliar a participação feminina nas instâncias de poder da organização (34%). A criação, pelo poder público, de leis mais rígidas de combate ao assédio sexual (21%) e até a sensibilização das mulheres (8%) também foram citadas como importantes para esse combate ser mais efetivo.

Ainda assim, a maioria acredita nas organizações, uma vez que 52% das participantes entendem que o mais conveniente nesses casos é acessar o canal de denúncia disponibilizado.

Estratégias e tendências para a equidade

As principais mudanças e/ou estratégias a serem implementadas pelas organizações e que mais contribuirão para o alcance da equidade de gênero são: mudanças na cultura organizacional (51%), estratégias afirmativas de igualdade de oportunidade entre os gêneros (49%), mudanças nas políticas e práticas de recrutamento e seleção (43%) e ampliação do número de mulheres em papéis de tomada de decisão (40%).

As participantes acreditam que as iniciativas organizacionais mais eficazes para se ultrapassar as barreiras/desafios enfrentados pelas mulheres em sua organização atual são: definir e monitorar metas para a equidade de gênero (38%), dedicar recursos para impulsionar iniciativas de equidade de gênero (36%), intensificar a comunicação da organização em torno do compromisso com a equidade de gênero

(35%) e desenvolver a carreira das mulheres (34%).

O acesso às melhores oportunidades de carreira nas organizações atuais das participantes ocorre em razão de três elementos determinantes: a experiência profissional (56%), a performance individual no trabalho (48%) e a rede de contatos (41%). Esse acesso ainda ocorre em 15% das organizações das participantes em razão do gênero.

Perfil das participantes

Com relação ao perfil pessoal, a maioria das participantes da pesquisa (76%) são autodeclaradas brancas, número praticamente mantido em relação à pesquisa realizada em 2017. Em relação à idade, 14% preferiram não responder. Das que responderam, a maioria, 43%, são integrantes da geração Y/millennials (idade entre 26 e 41 anos). A geração X, com idade entre 42 e 57 anos, está composta por 33% dos participantes. Quanto à identidade de gênero, a maioria absoluta (98%) se declarou como cisgênero, ou seja, identificadas com seu gênero de nascimento - outras respostas à questão foram não-binário, transgênero ou não quiseram responder.

Quanto à formação acadêmica, todas as participantes têm ensino superior, sendo que 3% ainda estão cursando graduação. O curso de formação para 52% das participantes é o Jornalismo, para 19% é Relações Públicas e para 14% é Publicidade e Propaganda. 64% delas fez ou está fazendo especialização/MBA, 10% mestrado e 4% doutorado. Comunicação (40%) e Marketing (26%) são as áreas preferidas para a Pós Graduação.

A maioria das participantes (67%) trabalha em organizações privadas, sendo, 41% em nacionais e 26% em multinacionais. As empresas em que trabalham abrangem quase todos os setores da economia, com destaque para agências de comunicação (18%) e o setor de serviços (11%). A maioria dessas empresas (51%) é de grande porte e tem mais de mil funcionários (50%). 52% exercem cargos de liderança em suas organizações, sendo 11% em nível de diretoria/vice-presidência, 18% em nível de gerência e 23% em nível de coordenação/supervisão. 

Os processos mais abrangidos pelos cargos atuais das participantes são a comunicação interna (71%) e a comunicação externa (70%). Outros processos são: mídias digitais e sociais (61%); relações com a imprensa (60%), eventos (59%) e gestão de crises e riscos (51%). Entre os processos menos abrangidos temos relações governamentais (13%) e memória empresarial (16%).

Acompanhe tudo sobre:ComunicaçãoDiversidadeMulheres

Mais de ESG

Nvidia bate consenso – mais uma vez – e reporta lucro de US$ 19,3 bilhões no terceiro trimestre

Como analisar o ROA de uma empresa para saber se vale a pena investir

COP29: países ricos se comprometem a parar de abrir centrais a carvão

Bitcoin ultrapassa marca de US$ 94 mil com nomeações de Trump no radar e avanço de ETFs