Economia

Yellen defende pacote fiscal de Biden e fala em agir com grandeza contra crise

"Com juro baixo, o melhor a fazer é agir com grandeza", declarou a indicada nesta terça-feira, durante sessão do Comitê de Finanças do Senado americano

Yellen: em busca de sua aprovação para a Secretaria do Tesouro, Yellen afirmou aos senadores que passou sua vida pensando "em como ajudar pessoas a superar tempos difíceis" (Leah Millis/Reuters)

Yellen: em busca de sua aprovação para a Secretaria do Tesouro, Yellen afirmou aos senadores que passou sua vida pensando "em como ajudar pessoas a superar tempos difíceis" (Leah Millis/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 14h46.

Última atualização em 19 de janeiro de 2021 às 15h59.

A indicada pelo presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden para assumir a Secretaria do Tesouro, Janet Yellen, defendeu o pacote fiscal de 1,9 trilhão de dólares anunciado na semana passada pelo futuro líder da Casa Branca.

"Os benefícios superam os riscos. Com juro baixo, o melhor a fazer é agir com grandeza", declarou a indicada nesta terça-feira, durante sessão do Comitê de Finanças do Senado americano que votará sua confirmação no cargo. "Economistas nem sempre concordam, mas há um consenso agora: sem mais ação fiscal, corremos o risco de recessão prolongada. É preciso fazer mais para apoiar a economia americana", afirmou.

O pacote fiscal de Biden — que ainda precisa ser apreciado pelo Parlamento — multiplica benefícios concedidos à população afetada pela crise econômica trazida pelo novo coronavírus. Entre as propostas, está a expedição de um novo cheque de 1.400 dólares a cidadãos elegíveis, o que, somado aos 600 dólares já aprovados pelo Congresso, totalizaria 2.000 dólares para cada beneficiário do programa. Porém, como mostrou na sexta-feira o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o pacote deve ser enxugado pelos deputados e senadores.

Embora tenha defendido a aprovação do pacote fiscal de Biden, Janet Yellen reconheceu que, para aplicá-lo, será preciso aumentar o endividamento do país. "É essencial pôr o orçamento público em uma trajetória sustentável, mas é preciso oferecer apoio fiscal agora. Responsabilidade fiscal neste momento de crise é oferecer estímulo", declarou. A dívida pública americana já bateu 130% do produto interno bruto (PIB) americano e está em trajetória ascendente, como mostrou reportagem do Broadcast.

Em busca de sua aprovação para a Secretaria do Tesouro, Yellen afirmou aos senadores que passou sua vida pensando "em como ajudar pessoas a superar tempos difíceis". Ela foi presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de 2014 a 2018, antecedendo o atual dirigente da autoridade monetária, Jerome Powell. "Quero garantir que tenhamos uma economia competitiva, com bons empregos e salários. Temos de investir em infraestrutura e qualificação de mão de obra. Temos de reconstruir a economia americana, então contem comigo para um trabalho bipartidário", afirmou, durante a sessão.

O governo de Joe Biden terá maioria no Senado americano, mas com margem apertada: tem apenas o voto de Minerva da futura presidente da Casa, a vice-presidente eleita Kamala Harris.

Yellen ainda defendeu a vacinação em massa contra a covid-19 "o quanto antes" como forma de recuperar plenamente a economia do país, e negou ter conflito de interesses para assumir a Secretaria do Tesouro. O Senado ainda não votou sua indicação, mas a expectativa é que o nome seja aprovado no Congresso.

"EUA não vão lutar por dólar fraco"

Yellen, afirmou que o país, sob gestão democrata, não vai lutar por enfraquecer sua moeda para ganhar vantagem competitiva. Ela participa neste momento de sessão no Comitê de Finanças do Senado americano que votará sua indicação ao cargo.

"A variação do dólar e outras moedas deve ser determinada pelos mercados. Devemos nos opor a países que manipulam câmbio por vantagem competitiva", declarou Yellen aos senadores.

A indicada não citou a China, mas o país asiático é comumente criticado por autoridades americanas por supostamente desvalorizar, de maneira proposital, o yuan para obter vantagens no campo comercial.

China

Yellen defendeu o enfrentamento ao que chamou de "práticas abusivas, injustas e ilegais" por parte da China. Ela é participante neste momento de sessão no Comitê de Finanças do Senado americano que votará sua indicação ao cargo. "Estamos prontos para usar toda a gama de ferramentas contra isso", declarou.

A ofensiva dos EUA contra a China foi uma das marcas da gestão de Donald Trump, de saída da Casa Branca.

Joe Biden toma posse como presidente americano na quarta-feira, 20, mas, embora tenda a adotar um tom "menos belicoso" se comparado ao antecessor, não deve retroceder na postura adotada em relação ao país asiático. Hoje, uma das principais batalhas entre as duas maiores economias do mundo é o protagonismo na rede 5G.

"A China é claramente, nosso concorrente estratégico mais importante", lembrou Yellen aos senadores. "Pequim prejudica as empresas americanas, fazendo dumping de produtos, dando subsídios ilegais às corporações, ganhando vantagem tecnológica injusta", defendeu.

Sanções

Em referência ao Oriente Médio, a indicada para a secretaria do Tesouro disse aos senadores ser favorável a uma lei que facilite a identificação efetiva de empresas de fachada. Este é um dos grandes entraves à política de sanções dos Estados Unidos, sobretudo no cerco ao Irã.

O país persa, que vive sob sanção de Washington, tem conseguido transportar petróleo por meio de empresas de fachada. "Temos de fazer a diferença, melhorar a eficácia das sanções e, assim, melhorar nossa capacidade de lidar com o financiamento ao terrorismo", declarou Yellen.

Aumento do salário mínimo nos EUA

Janet Yellen defendeu o aumento dos salários mínimos para US$ 15 por hora, proposto no pacote de recuperação da crise do próximo governo americano, que assumirá na quarta-feira, 20. Segundo Yellen, o aumento não só ajudará os trabalhadores do país, como não deve ter grande impacto sobre o emprego nos EUA.

"Estudos recentes feitos em Estados que aumentaram o salário mínimo mostram pouco impacto posterior, se houve algum, sobre o nível de empregos sustentado pela economia", explicou a ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), durante audiência de confirmação no Senado dos EUA.

Apoio fiscal

Após defender o pacote fiscal anunciado por Biden, Yellen afirmou que não é o momento de "reter" o apoio dado pelo governo federal a Estados e municípios.

A fim de dar mais sustentação à economia americana, a indicada para o Tesouro disse que poderia examinar a possibilidade do órgão emitir títulos de 50 anos durante a sua gestão.

Yellen afirmou ainda que, em sua visão, ganhos de capital devem começar a ser taxados "em algum momento". Sobre impostos, a ex-dirigente do Fed defendeu durante a sessão no Senado um sistema tributário em que mais ricos e companhias pagando sua "parte justa".

"Ricos e corporações devem pagar parte justa"

Indicada pelo presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden para assumir a secretaria do Tesouro, Janet Yellen deixou clara sua posição sobre uma eventual reforma tributária no país: é preciso buscar um sistema mais progressivo, com classes altas e grandes corporações pagando mais - o que a indicada chamou de "parte justa". Yellen é participante nesta terça-feira de sessão no Comitê de Finanças do Senado americano que votará sua indicação ao cargo.

"Nós vamos assegurar a competitividade das empresas, mas com impostos um pouco mais altos", declarou a ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Ainda assim, a indicada como próxima secretária do Tesouro garantiu que não haverá reversão completa dos cortes de impostos promovidos pelo presidente Donald Trump em 2017.

A elevação de tributos para grandes empresas e classes altas já é algo esperado para governo de Biden, favorável também a regulações no setor de tecnologia e serviços de comunicação.

Para além de corrigir distorções no sistema como um todo, a reforma tributária a ser apresentada pelo democrata pretende reverter desonerações fiscais da administração Trump que aumentaram o déficit público americano, hoje em trajetória ascendente. Na visão do governo eleito, as medidas tiveram pouco efeito prático em estimular a economia dos EUA.

Críticas a programa do Fed

Janet Yellen fez críticas nesta terça-feira ao Main Street, programa de empréstimos voltado a pequenas empresas criado pelo Federal Reserve para atenuar os efeitos da crise econômica trazida pela pandemia de covid-19. "Não foi muito eficaz no auge da crise. Então, essa é uma área importante para avançarmos e garantirmos que o capital esteja disponível para as empresas. Assim, vamos criar empregos e prosperar", afirmou.

Por outro lado, Yellen afirmou que grandes empresas, com acesso ao mercado de capitais, não têm problemas para obter empréstimos durante a crise. "O nosso problema é com as empresas de pequeno e médio porte", avaliou.

Questão ambiental e investimentos sustentáveis

O combate às mudanças climáticas e os investimentos sustentáveis serão o foco do governo do presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden. A declaração foi feita nesta terça-feira, 19, pela indicada do democrata para assumir a secretaria do Tesouro, Janet Yellen. Ela é participante de sessão no Comitê de Finanças do Senado americano que votará sua indicação ao cargo.

"Este é um dos problemas mais críticos que nosso país e o mundo enfrentam, representa uma ameaça existencial. O Tesouro vai cooperar procurando maneiras de direcionar o investimento sustentável", disse Yellen aos senadores.

A indicada ainda revelou que Biden apoia a restauração de incentivos fiscais à produção de veículos elétricos.

O "lado sustentável" do governo eleito nos Estados Unidos, que toma posse amanhã, inclusive, tem o potencial de gerar atritos com o Brasil.

Durante a campanha, Biden criticou o avanço do desmatamento e de queimadas na Amazônia, gerando críticas do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

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