Economia

Venezuela deixa de exportar petróleo e passa a exportar pessoas

Com a fuga de 1,6 milhão de pessoas, o país latino ganha divisas à medida que venezuelanos enviam dinheiro a suas famílias destruídas pela crise

Venezuela: as remessas enviadas dispararam para US$ 1,5 bilhão em 2017 e aumentarão mais 60 por cento neste ano, para US$ 2,4 bilhões (Juan Torres/NurPhoto/Getty Images)

Venezuela: as remessas enviadas dispararam para US$ 1,5 bilhão em 2017 e aumentarão mais 60 por cento neste ano, para US$ 2,4 bilhões (Juan Torres/NurPhoto/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2018 às 07h00.

Última atualização em 6 de outubro de 2018 às 07h00.

A Venezuela praticamente parou de exportar petróleo e, em vez disso, passou a exportar pessoas.

A produção de petróleo caiu quase dos terços nos últimos 16 anos, o que transformou o país com as maiores reservas comprovadas do mundo em um mero ator marginal nos mercados internacionais.

Enquanto isso, os venezuelanos estão fugindo em massa. Estima-se que 1,6 milhão tenham saído do país desde 2015 – cerca de 5 por cento da população.

Agora, a Organização das Nações Unidas estima que cerca de 2,3 milhões de venezuelanos morem no exterior, frente a apenas 437.000 em 2005.

Esta nova exportação está gerando dividendos. À medida que a renda da diáspora venezuelana vai crescendo, mais dinheiro é enviado para os familiares em dificuldades na Venezuela.

As remessas dispararam para US$ 1,5 bilhão em 2017 e aumentarão mais 60 por cento neste ano, para US$ 2,4 bilhões, segundo a Ecoanalítica, uma consultoria com sede em Caracas.

A quantia é irrisória em comparação com as riquezas que um bom ano de exportações do petróleo pode gerar. E é apenas uma fração do que os países que são tradicionalmente dependentes de remessas recebem (o diminuto El Salvador, por exemplo, recebe cerca de US$ 5 bilhões por ano).

No entanto, em um país onde milhões caíram na pobreza profunda por causa da hiperinflação e da paralisia econômica, cada dólar conta.

As transferências, que podem ser de apenas US$ 10 por mês, driblam os controles cambiais e chegam ao bolso dos venezuelanos por meio de redes de pequenas empresas e familiares com a sorte de ter conta em um banco estrangeiro.

A Ecoanalítica estima que aproximadamente 2,1 milhões de venezuelanos mandaram dinheiro para casa no ano passado.

Asdrúbal Oliveros, diretor de uma empresa, diz que o acesso a dólares dividiu a Venezuela, cuja inflação deve chegar a 1 milhão por cento neste ano, segundo estimativas, e que sofrerá a escassez de tudo, da carne de frango a autopeças.

“Há praticamente duas sociedades vivendo lado a lado”, disse Oliveros. Para quem não recebe ajuda do exterior, “a hiperinflação torna muito provável acabar na pobreza ou miséria.”

Distorções

Salários e preços estão distorcidos por causa dos controles cambiais estabelecidos pelo falecido Hugo Chávez em 2003 na tentativa de deter a fuga de capitais. Esses controles se tornaram cada vez mais complicados na presidência de seu sucessor, Nicolás Maduro.

Neste ano, o governo de Maduro aceitou tacitamente a cotação do livre mercado e reajustou os controles, com uma desvalorização da moeda de 95 por cento e a retirada de cinco zeros do bolívar no mês passado. Em agosto, o governo autorizou empresas e indivíduos a trocar dinheiro em casas de câmbio designadas.

Francisco Rodríguez, economista-chefe do banco de investimento Torino Capital, de Nova York, disse que os ajustes fazem parte de uma tentativa de conseguir mais receita.

“Mas eles não terão sucesso enquanto não estiverem dispostos a reconhecer e validar a taxa de equilíbrio do mercado – o mercado paralelo”, disse Rodríguez.

Até lá, os venezuelanos continuarão procurando ajuda no exterior.

“Dois anos atrás, isso não era nada”, disse Oliveros. “Enquanto a situação continuar assim, isso só vai ficar maior.”

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