Economia

Apesar de retração no IBC-Br, economia avança, diz economista

Para alguns economistas, o IBC-Br com retração de 0,51% mostra que o segundo trimestre ainda tende a ser de recessão, mas há quem discorde

BC: o PIB do segundo trimestre pode ser uma boa surpresa (Gustavo Gomes/Bloomberg)

BC: o PIB do segundo trimestre pode ser uma boa surpresa (Gustavo Gomes/Bloomberg)

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Letícia Toledo

Publicado em 14 de julho de 2017 às 18h09.

Última atualização em 14 de julho de 2017 às 21h49.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é considerado a prévia do Produto Interno Bruto, divulgado nesta sexta-feira, mostrou uma retração de 0,51% da economia em maio, na comparação com abril. Para alguns economistas, o dado mostra que o segundo trimestre ainda tende a ser de recessão, mas há quem discorde. 

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados e colunista de EXAME Hoje, avalia que o dado não é negativo, já que na comparação com maio do ano passado, o indicador cresceu 1,4%.

Para ele, a crise política não foi capaz de afetar a retomada da economia e o segundo trimestre pode ser de um novo crescimento no PIB, ainda que bem mais modesto que a alta de 1% do PIB no primeiro trimestre. Confira a entrevista a seguir.

O IBC-Br caiu 0,51% em maio na comparação com abril. Essa foi a queda mais intensa desde agosto passado. O que o dado revela? Ainda não saímos da recessão?

A leitura que eu faço do IBC de hoje é positiva e não negativa. O dado mês a mês é muito volátil mesmo e não dá uma tendência para a economia. O importante é olhar o número e comparar com o do mesmo mês do ano anterior. Então, sobre esse ângulo, o IBC de maio cresceu 1,4%. Os números deste ano estão, em sua maioria, positivos e muito melhores do que as quedas de 5% e 6% do ano passado. Os dados que já saíram do mês de junho também mostram uma trajetória positiva. Então o PIB do segundo trimestre pode ser uma boa surpresa.

E o que seria essa boa surpresa?

Alta de 0,1% na comparação com o primeiro trimestre e estabilidade na comparação com o segundo trimestre do ano passado. Parece pouco, mas é muito bom, é uma sinalização de que a recuperação está acontecendo. Quando a gente olha para os próximos meses, mesmo no cenário político o pior que poderia acontecer, já aconteceu. A essa altura, se o presidente Michel Temer cair, já temos o Maia [presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ)]. Ele é um candidato que já sinalizou que vai manter a equipe e a posição econômica do governo atual. Então é no mínimo teremos uma estabilidade, do ponto de vista político. Além disso, na economia real,a taxa de juros vai continuar caindo e o mercado de trabalho criando vagas. Os indicadores econômicos estão positivos. Isso mostra uma resiliência importante da economia e demonstra recessão ficou para trás.

A crise política não afetou a economia então? Nem na segurança de investidores e empresários?

Num primeiro momento afetou, mas depois ficou claro que o Temer não é tão relevante em si, e sim a garantia de que a equipe econômica vai se manter. Isso trouxe tranquilidade para o mercado. O grande receio que se tinha era o de que o segundo trimestre, afetado por incertezas da crise política, levassem o banco central a interromper o corte de juros e Temer a não conseguir fazer mais nada. O que a gente viu foi o [Henrique] Meirelles sendo reforçado no cargo, a reforma trabalhista aprovada. Tudo continuou. Isso trouxe tranquilidade para os investidores, saber que as coisas continuaram.   

O mesmo é válido para o investidor estrangeiro? Como eles estão avaliando todo esse cenário político?

O olhar estrangeiro é de uma incredulidade por tudo que está acontecendo. Mas ao mesmo tempo fica um certo sentimento de que não é uma novidade, se tratando de Brasil, e que a agenda econômica vai continuar. Temos uma agenda que funciona, uma equipe altamente eficiente. A reforma trabalhista passou e isso trouxe um bom recado para o mercado. O único problema com a crise política é que ela trouxe um cenário eleitoral muito mais turbulento para 2018 e que o mercado ainda não incorporou. Não há um grande nome e se abriu a possibilidade para diversos tipos de candidatos. Isso vai causar uma turbulência no mercado.

Então o investidor ainda tem um interesse de curto prazo no país?

Sim, cada dia com a sua agonia. Até porque cada semana há uma tempestade nova. A eleição só deve começar a preocupar o investidor no fim do ano, em novembro, dezembro. No fim do ano já devem ter nomes de candidatos. Há ainda a dúvida se o Lula vai poder se candidatar.

E quanto ao investimento de longo prazo no país, por exemplo em infraestrutura? Como ficou com a crise?

A atividade em geral está voltando aos poucos, mas é óbvio que o investimento é sensível a todas essas incertezas que tivemos nos últimos meses. Minha percepção é que os dados de investimento ainda devem ser ruins esse ano, mas melhor do que nos últimos dois anos. A agenda de infraestrutura está sendo modernizada, os planos de concessão e investimento funcionaram. Obviamente a crise política atrasa esses investimentos, mas se tivermos um candidato político que sinalize que toda essa agenda vai continuar, teremos um ciclo forte de investimento em infraestrutura para continuar no país.

E a reforma da Previdência? Investidores ainda estão contando com sua aprovação?

Acho muito difícil imaginar que se terá qualquer evolução por agora, com esse cenário político. Agora, é preciso tentar acelerar, aprovar uma medida que é impopular no meio de toda essa crise política e de um ciclo eleitoral que vai começar é complicado. O grosso da reforma vai ficar para 2019. O cenário político mudou drasticamente, mas mesmo assim a reforma trabalhista, que também é impopular, passou, então o sinal é de que é possível passar o mínimo da Previdência. O governo continua empenhado em fazer reforma. O mercado vai aceitar que a equipe conseguirá fazer um ajuste fiscal, segurar até 2018, mesmo sem a reforma. O mercado está dando um fôlego para o governo, para trabalhar com a nova realidade de crise política.

 

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