Valcke: "O governo tem as mesmas preocupações que nós. Temos que garantir que o país ofereça a todos a possibilidade de se deslocar e se hospedar" (Arnd Wiegmann/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de dezembro de 2013 às 18h32.
O secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, declarou nesta quinta-feira em entrevista à AFP que a entidade está negociando com o governo brasileiro para fazer um "apelo ao bom senso" contra preços exorbitantes praticados no país durante a Copa do Mundo de 2014.
Há um ano, o senhor falou em "Fifa Samba", explicando que a entidade passou a ser mais flexível no seu relacionamento com o Brasil. Como está a situação agora?
"Não podemos ser acusados de não sermos flexíveis quando nos deparamos com vários estádios que não ficam prontos dentro dos prazos. A imagem pode parecer estúpida, mas quando alguém lhe dá um copo meio cheio, é preciso usar o que se tem nesse copo para ter garantir que tudo funciona. Isso não coloca em risco a organização da Copa do Mundo. Deixa apenas o nosso trabalho um pouco mais complicado, às vezes. É impossível ter o sentimento de ter 100% de segurança. Li que o ministro dos esportes, Aldo tinha declarado que a noiva sempre chegava atrasada, mas não impedia o casamento de acontecer. Concordo com ele".
Qual foi seu sentimento nas últimas semanas, quando sentiu que os atrasos estavam se acumulando?
"O fato de um estádio ficar pronto no dia 15 de janeiro e não em 31 de dezembro não é um problema fundamental, era mais uma questão de princípio. Agora o fato de ser o dia 15 de março é mais problemático (O presidente da Fifa, Joseph Blatter, disse nesta quinta-feira que o Itaquerão, palco do jogo de abertura, em 12 de junho, ficaria pronto apenas em "meados de abril"). Deixa menos tempo para ter certeza de que tudo funciona".
O fato do estádio de São Paulo ter previsão de ficar pronto apenas em abril é um grande baque?
"Em relação ao que o presidente Joseph Blatter disse, é preciso ressaltar que o relatório que recebemos é apenas preliminar. Meados de abril ou final de abril, é a data na qual esperamos poder organizar o primeiro evento-teste com 33% da capacidade do estádio. Se for o caso, vai funcionar, e poderemos organizar o jogo de abertura em São Paulo. Mas estamos chegando ao limite"
Como o senhor viveu a onda de protestos que houve no Brasil durante a Copa das Confederações?
"Todos nós fomos surpreendidos com este movimento. Não apenas a Fifa, mas as autoridades brasileiras também. A Fifa viveu isso como uma situação complicada, que poderia ter colocado em risco a organização da Copa das Confederações. Protestar é um direito legítimo. Na França, temos protestos, não apenas uma vez por ano, mas no dia a dia, várias vezes por semana. Soube inclusive que a polícia francesa foi chamada para treinar as forças policiais brasileiras. Sabemos que podem haver outros protestos, mas manifestantes e torcedores conseguiram conviver. Não houve agressões entre os dois grupos. Para a Copa do Mundo, com o Brasil tendo a segunda oportunidade em 64 anos de ser campeão em casa, imagino que haverá muito apoio da população. Não significa que não teremos protestos, mas também vai haver apoio. Não estou falando em apoio à Fifa, mas à organização da Copa do Mundo".
O senhor teme um aumento dos preços durante a Copa. Qual é a margem da Fifa para negociar com o governo?
"Esta alta nos preços está acontecendo, já está sendo observada, como aconteceu na África do Sul durante a Copa de 2010. O governo tem poder sobre as empresas públicas, mas não é o caso com as empresas privadas. Tem o poder de fazer um apelo ao bom senso, para evitar que o país seja criticado. Os preços, podem, sim, ser um pouco mais altos, mas dentro do razoável. Há preços de voos domésticos que passam do limite. O governo tem as mesmas preocupações que nós. Temos que garantir que o país ofereça a todos a possibilidade de se deslocar e se hospedar. Minha maior preocupação é que o fã de futebol, que é a figura mais importante para nós, possa chegar ao Brasil nas melhores condições, se deslocar em um país com dimensões continentais e poder acompanhar a sua equipe. Que ele possa acompanhar uma Copa do Mundo normal, e não uma Copa reservada a uma minoria por causa de empresas que praticam preços elevados demais.