Indígenas da tribo Ticuna aguardam vacinação contra o coronavírus do Sinovac (COVID-19), em Tabatinga, estado do Amazonas, Brasil 19 de janeiro de 2021. (Adriano Machado/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 23 de fevereiro de 2021 às 13h11.
A região da América Latina e Caribe, onde o coronavírus causou o pior impacto econômico e mais de 25% das mortes no mundo, agora é vítima da lenta campanha de vacinação. Batalhas políticas e gargalos de produção dificultam os esforços de imunização no Brasil. O México tenta aumentar a oferta de imunizantes, já que seu número de mortos ultrapassa o da Índia. A Colômbia só começou a administrar vacinas na semana passada.
Esse atraso, juntamente com o recente aumento das infecções, pode prejudicar a recuperação econômica já lenta na região.
A recuperação econômica da América Latina já perdia força depois de uma nova rodada de restrições em resposta ao aumento de casos na temporada de Natal. Desde janeiro, o JPMorgan Chase tem reduzido as previsões de crescimento no primeiro trimestre para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, citando preocupações com o aumento de casos e novas restrições.
O PIB da região encolheu mais de 7% no ano passado, segundo o FMI, o pior resultado global. Segundo o Fundo, a economia da região não deve retornar aos níveis pré-pandemia antes de 2023, e este ano teve um começo difícil.
A atividade deve se acelerar ao longo do ano, mas uma forte recuperação depende de as vacinas se tornarem mais amplamente disponíveis nos próximos meses. Destacando a importância de uma distribuição eficiente de vacinas, investidores já recompensam a única história de sucesso da América Latina até agora: o Chile, que no ritmo atual poderá vacinar 75% da população em apenas seis meses, de acordo com o rastreador de vacinas da Bloomberg.
Neste mês, a Moody’s Investors Service e o Banco Santander revisaram para cima as projeções de crescimento para o Chile, isolando o país de seus vizinhos. A economia chilena pode retornar aos níveis pré-pandemia três a seis meses antes da maioria dos outros países da região, de acordo com Nikhil Sanghani, economista da Capital Economics, em Londres.
Outros países da região não chegam nem perto. No ritmo atual, o Brasil levaria dois anos e meio para atingir o nível de 75% da população vacinada, que é o limite que especialistas dizem ser necessário para um retorno à normalidade. O México levaria 3,6 anos e a Argentina, mais de uma década. Os EUA, em contraste, devem alcançar a imunidade de rebanho até o fim do ano.
Essa perspectiva pode melhorar nas próximas semanas, à medida que alguns dos problemas iniciais com a distribuição de vacinas começarem a diminuir, disse Sanghani.
Atrasos nas entregas levaram países que se apoiaram muito em determinadas vacinas, como México e Colômbia, a correr para assinar contratos de última hora com concorrentes. A Argentina tenta produzir mais localmente.
Os atrasos nas campanhas de vacinação não são todos autoinfligidos.
Desde o início, os países mais pobres foram empurrados para o final da fila pelos mais ricos, que rapidamente fecharam acordos com as fabricantes de medicamentos, ou que agora exigem vacinas produzidas em seu território para seus próprios cidadãos.
Em grande parte do Caribe e da América Central, ainda levará semanas para o início das campanhas. No mês passado, o primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, acusou os países ricos de “acumular” vacinas.
Economistas que acompanham tendências de mobilidade se preparam para outro impacto na atividade causado por pessoas mais uma vez isoladas em casa e empresas fechadas. Com exceção do Chile, continuam céticos quanto ao alívio das restrições para o resto da região devido ao atraso para iniciar a vacinação e à distância dos principais distribuidores de vacinas.
“Os países mais ricos já começaram a comprar tudo o que podiam, deixando apenas migalhas para o resto”, disse Joan Domene, economista da Oxford Economics, na Cidade do México.