UE deve trocar Brasil por EUA como principal fornecedor de soja
“A China está concentrando as compras no Brasil, e o restante do mundo está recorrendo aos EUA”, diz Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de junho de 2018 às 08h00.
Última atualização em 30 de junho de 2018 às 08h00.
A disputa comercial entre EUA e China não gera apenas más notícias para os produtores de soja norte-americanos.
As tarifas iminentes provavelmente limitarão as exportações americanas da commodity para a China, mas oportunidades estão surgindo na União Europeia, a segunda maior importadora do mundo.
A disputa elevou os preços no Brasil, o maior exportador, forçando as processadoras da UE a buscarem oferta em outros lugares. Com isso, os EUA provavelmente superarão o Brasil como maior vendedor ao bloco formado por 28 países na próxima safra, segundo o Rabobank International.
“Se a China implementar tarifas, acreditamos que a UE importará mais grãos dos EUA do que do Brasil”, disse Michael Magdovitz, analista de oleaginosas em Londres do Rabobank, um banco para traders de commodities agrícolas. “O desconto no preço do grão americano em relação ao brasileiro provocará isso.”
As tensões comerciais se intensificaram nas últimas semanas, quando a China prometeu retaliar as tarifas que o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça aplicar a mais US$ 200 bilhões em importações chinesas.
A China é a maior importadora mundial de soja, parte dela usada para a produção de ração animal, e a perspectiva de redução das exportações dos EUA aumentou os prêmios da oleaginosa no mercado brasileiro.
Na quinta-feira, a soja para embarque no porto brasileiro de Paranaguá em setembro registrava prêmio de US$ 1,95 por bushel em relação aos contratos futuros da Chicago Board of Trade, segundo a corretora Ary Oleofar, que tem sede em São Paulo. É o dobro do mês anterior. Os futuros em Chicago caíram 15 por cento no mesmo período.
A UE é o segundo principal destino da soja do Brasil, maior exportador para o bloco durante pelo menos seis safras, segundo dados do governo brasileiro e da Comissão Europeia. Isso pode mudar em breve, porque a possível guerra comercial deverá aumentar a participação da China nas importações de soja da América do Sul para 90 por cento de junho a dezembro, segundo estimativas da empresa de pesquisa Oil World, com sede em Hamburgo.
A China poderá substituir cerca de 4 milhões de toneladas de soja dos EUA por oferta brasileira no quarto trimestre se as tarifas forem implementadas, segundo o Rabobank. Essa perda seria parcialmente compensada por 2 milhões de toneladas em demanda não chinesa que se deslocaria do Brasil para os EUA, impulsionada em grande parte pela UE, afirmou o banco.
“Isso já está acontecendo”, disse Pedro Dejneka, sócio da MD Commodities, com sede em Chicago. “A China está concentrando as compras no Brasil, e o restante do mundo está recorrendo aos EUA.”