Economia

Trump afirma ter inventado expressão econômica dos anos 30

Dados errados e debate sobre cortes de impostos marcaram conversa do presidente americano com a revista The Economist

Donald Trump: falta de apoio dentro do próprio partido (Carlos Barria/Reuters)

Donald Trump: falta de apoio dentro do próprio partido (Carlos Barria/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 11 de maio de 2017 às 15h09.

Última atualização em 12 de maio de 2017 às 18h22.

São Paulo - "Prime the pump": a expressão em inglês se refere ao processo, necessário em bombas d'água antigas, de colocar uma dose inicial de água para disparar o mecanismo.

É uma metáfora usada desde os anos 30 por economistas para ilustrar como o estímulo fiscal do governo pode movimentar uma economia em depressão.

A tese foi estruturada pelo economista britânico John Maynard Keynes e colocada em prática após a Grande Depressão americana que estourou com a crise de 1929.

Isso pode ser visto em um desenho da época que satiriza a iniciativa. Em 1939, os professores Egbert Ray Nichols e William E. Roskam lançaram o livro "Pump-Priming Theory of Government Spending".

Mas em uma entrevista para a The Economist realizada na quarta-feira passada (04) e liberada hoje (11), o presidente americano Donald Trump sugere que a expressão foi criada por ele.

O contexto era a discussão sobre o plano tributário do seu governo, que até agora só teve uma página divulgada e prevê redução no imposto das empresas de 35% para 15%.

Veja a transcrição:

Trump: Você já ouviu essa expressão antes, para esse tipo específico de ocasião?

The Economist: Priming the pump?

Trump: Sim, você já ouviu?

The Economist: Sim.

Trump: Você já ouviu essa expressão usada antes? Porque eu não ouvi. Quer dizer, eu apenas... eu apareci com ela uns dois dias atrás e achei que era boa. É o que você tem que fazer.

Talvez o presidente não se lembre, mas além de ser conhecida há décadas, a expressão foi usada pelo próprio Trump em uma entrevista para o The New York Times em março.

A conversa com a Economist acabou ofuscada na mídia pela decisão do presidente, nesta terça-feira, de demitir James Comey, diretor do FBI, em meio às investigações sobre a relação de sua campanha com a Rússia.

Mas deixa claro para onde está indo o discurso e as práticas do governo Trump em alguns assuntos econômicos.

Steve Mnuchin, o Secretário do Tesouro, e Gary Cohn, diretor do Conselho Econômico Nacional, também participaram. Veja um resumo:

Cortes de impostos

Mnuchin anunciou no final de abril que o plano de Trump seria “o maior corte de impostos” na história dos Estados Unidos.

O presidente diz na entrevista que os EUA são o país mais taxado do mundo (o que não é verdade por nenhum critério) e nega que o corte de impostos vá piorar a situação das contas públicas.

Sua justificativa é que o plano vai gerar tanto crescimento e receita que acabará se pagando. Isso foi argumentado de forma similar em décadas anteriores e sempre acabou desmentido pelos dados.

Agora não será diferente, uma posição unânime de acordo com uma pesquisa com dezenas de economistas de diferentes orientações nas principais universidades do país.

Trump negou que o plano favoreça a camada mais rica da população, como apontam vários estudos. Ele diz que os cortes serão compensados pela eliminação da possibilidade de dedução, mas não deu detalhes.

NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio)

Trump diz na entrevista que os Estados Unidos tem um déficit de US$ 15 bilhões com o Canadá, mas os dados oficiais americanos mostram o oposto: um superávit de US$ 12,5 bilhões em 2016.

Ele disse também que "tudo no NAFTA é ruim" e que só não deixou o bloco após ser convencido pelos presidentes do México, Enrique Peña Nieto, e do Canadá, Justin Trudeau.

No entanto, não quis detalhar sua visão do que seria um acordo justo.

China

Trump acusava a China de manter sua moeda artificialmente fraca para estimular exportações e prometeu que em seu primeiro dia no governo iria rotular oficialmente o país como manipulador - o que não aconteceu.

Na entrevista, Trump justificou o recuo afirmando que que precisa da colaboração chinesa para outras questões (como Coreia do Norte) e que o país havia mudado de atitude.

"Na hora que o presidente foi eleito, eles foram para o outro lado", ecoou Mnuchin.

No entanto, já faz anos que a China queima suas reservas justamente com o objetivo oposto: impedir que sua moeda desvalorize demais.

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