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Tensão com Irã coloca em xeque política agrícola do governo

Petrobras se recusou a abastecer navios iranianos por receio de sofrer sanções dos EUA, o que resultou em ameaças do Irã de suspender importações do Brasil

NAVIO IRANIANO NA COSTA BRASILEIRA: o Irã é o principal parceiro comercial brasileiro no Oriente Médio e principal importador do milho produzido no Brasil / (João Andrade/Reuters/Reuters) (João Andrade/Reuters)

Ligia Tuon

Publicado em 26 de julho de 2019 às 14h44.

Última atualização em 26 de julho de 2019 às 14h45.

A disputa envolvendo o abastecimento de navios iranianos atracados na costa brasileira destaca a postura do governo em relação ao Oriente Médio, grande importador de milho, açúcar e aves do Brasil.

Sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, a política externa do país, antes tradicionalmente neutra, agora está mais alinhada com os Estados Unidos e Israel. Um de seus primeiros anúncios depois de vencer as eleições do ano passado foi a intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O gesto preocupou empresas brasileiras que dependem dos mercados do Oriente Médio, mas os acontecimentos dos últimos dias intensificaram o desconforto.

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A Petrobras se recusou a reabastecer dois navios iranianos por receio de sofrer sanções dos EUA, o que resultou emameaças doIrã de suspender importações do Brasil. Embora a Petrobras tenha recebido uma ordem do Supremo Tribunal Federal para abastecer os navios, as preocupações com as relações de comércio persistem.

O Irã é o quarto maior importador de produtos agrícolas brasileiros, respondendo por um terço de todos os embarques de milho do país. O Oriente Médio comprou US$ 7,2 bilhões em produtos brasileiros, ou 8,5% das exportações agrícolas do país no ano passado.

"Ter esse problema resolvido é uma boa notícia", disse Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), em entrevista por telefone. “A maior parte da produção de grãos do Brasil vai para a Ásia e Oriente Médio. As relações comerciais não têm nada a ver com política.”

O Brasil deveria tentar uma reaproximação com a região, disse Ali Ahmad Saifi, diretor executivo da CDIAL Halal, empresa que responde por cerca de 60% de todo o frango cujo abate é certificado no país de acordo com a lei islâmica.

Representantes do governo planejam visitar os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e, possivelmente, o Catar em outubro.

"O Brasil tem a oportunidade de estar bem com todo o mundo", disse Saifi. "Não precisamos importar problemas externos."

Exportações do setor de agricultura do Brasil para o Oriente Médio em 2018 (em bilhões) (Bloomberg/Bloomberg)

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