Liu He, vice-premiê da China e Donald Trump, presidente dos EUA assinam acordo comercial inicial (15 de janeiro de 2010) (Zach Gibson/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 18 de janeiro de 2020 às 09h00.
Ao assinar um acordo comercial inicial com a China na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometeu que novas negociações para resolver algumas das reclamações mais antigas das empresas americanas começariam “muito, muito em breve” e que tarifas sobre cerca de US$ 360 bilhões em importações da China seriam mantidas como poder de barganha.
O que Trump não disse é que quase ninguém acredita que as negociações para a convencer a China a controlar sua ampla rede de subsídios industriais e reduzir o papel das empresas estatais na economia devem ser fáceis ou se concretizarão no curto prazo.
Isso significa que as empresas dos EUA podem enfrentar outro ano ou mais de custos com tarifas e de turbulência na cadeia de fornecedores, problemas que levaram muitos a implorar para que Trump assinasse um acordo parcial.
Desde o momento em que as tarifas contra a China foram impostas em 2018, Trump e sua equipe insistiram que as taxas serviriam como pressão necessária para negociar com um crescente poder econômico que deixou seus antecessores perplexos.
Na fase um, autoridades dos EUA insistem que as tarifas ajudaram a conseguir compromissos significativos da China em propriedade intelectual, moeda e na abertura do setor de serviços financeiros. Isso além das promessas de US$ 200 bilhões em gastos chineses que, se funcionarem conforme descrito no acordo, aumentarão as exportações para a China para um recorde de mais de US$ 250 bilhões este ano e mais de US$ 300 bilhões em 2021.
Segundo Trump e equipe, a mesma estratégia com as tarifas se aplica à segunda fase. “Estou mantendo-as porque, caso contrário, não temos cartas com as quais negociar”, disse Trump a CEOs como David Calhoun, da Boeing, que compareceu à assinatura do acordo na quarta-feira.
Mas a realidade que muitos especialistas em comércio veem é uma China que até agora conseguiu lidar com essa pressão e dificilmente fará mais concessões, mesmo que Trump seja reeleito este ano. Uma prova disso foi quando no ano passado, com a escalada das tensões que deixou mercados financeiros nervosos, Trump foi obrigado a negociar o acordo por partes, argumentam.
“Os chineses disseram não à maioria dos elementos que estariam em um acordo de fase dois em face de uma pressão tarifária bastante generalizada e sustentada”, disse Edward Alden, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores. “Os chineses não vão mudar seu modelo econômico para apaziguar os Estados Unidos. Essa é uma conclusão muito clara de todo esse exercício, e os EUA e o mundo terão que aprender a conviver com isso.”