Economia

Superação da crise passa por câmbio e liderança de Dilma

A alta do dólar pode ser uma das saídas para o Brasil superar a crise, além do indispensável ajuste fiscal que exige a atuação da presidente


	A presidente da República, Dilma Rousseff
 (José Cruz/ABr)

A presidente da República, Dilma Rousseff (José Cruz/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2015 às 16h30.

A alta do dólar, que faz do real a moeda mais desvalorizada do mundo em 2015, pode ser uma das saídas para o Brasil superar a recessão.

Enquanto o ajuste do câmbio já dá os primeiros sinais de efeito, o outro ajuste indispensável para superar a crise, o fiscal, ainda exige a aprovação de reformas que interrompam a escalada dos gastos públicos.

E para este ajuste, o papel da presidente Dilma Rousseff é fundamental.

Embora os sinais ainda sejam preliminares, a balança comercial de julho mostrou melhora, comparativamente ao mesmo período do ano passado.

O saldo acumulado no ano atingiu US$ 4,6 bilhões, contra um déficit de US$ 952 milhões no mesmo período do ano passado e de US$ 5 bilhões nos sete primeiros meses de 2013.

Não é nada brilhante, menos pelo saldo limitado e mais pelo fato de que o superávit está sendo assegurado unicamente pela queda das importações. As exportações ainda caem, mesmo com o dólar perto de R$ 3,50.

É normal que a melhora comece pela queda das importações e não pelo aumento das exportações, diz o ex-ministro Delfim Netto. O fato de a indústria brasileira estar com capacidade ociosa favorece a substituição das importações.

Com o dólar mais alto, empresas buscam trocar fornecedores estrangeiros por nacionais. A resposta das exportações, contudo, pode demorar até dois anos, pois o exportador precisa desbravar o mercado externo, cuja demanda também se mostra enfraquecida.

A volta do crescimento também exige que o governo reverta o déficit fiscal, preferencialmente sem aumento de impostos.

O aumento do endividamento pode levar as agências de rating a cortar a nota do Brasil, levando o país de volta ao clube dos devedores pouco confiáveis. “A S&P, a Moody’s e a Fitch sabem tão bem quanto nós para onde estamos indo se não fizermos mudanças”, alerta Delfim.

Delfim diz que Dilma precisa assumir a responsabilidade pela “tragédia deliberada” de ter agravado as contas públicas em 2014. Mas observa que o aumento dos gastos públicos vem ocorrendo paulatinamente pelo menos desde a constituição de 1988, que tornou o orçamento mais rígido e dificultou a administração das contas públicas.

“A Dilma desacelerou este desarranjo em 2014. Mas não foi ela que produziu este desequilíbrio. Este desequilíbrio estrutural está dentro do sistema”.

E combater o déficit aumentando impostos também pode não ser a solução. Primeiro, porque o aumento de impostos reduz o crescimento da economia, o que acaba por prejudicar as contas fiscais, via redução da receita.

Aumentar imposto significa tirar dinheiro do setor mais eficiente, o privado, e repassar ao mais ineficiente, o público, o que reduz a expansão média da economia. “Isso é uma questão de aritmética, não de economia”.

No longo prazo, o aumento dos impostos também tem sido ineficaz no combate ao déficit público, que volta sempre que a economia se desacelera, uma vez que as despesas têm crescido mais do que o PIB.

Delfim observa que a carga tributária aumentou de 24% do PIB em 1994 para os atuais 36%. E mesmo assim o déficit continua.

“Não adianta colocar a carga tributária em 50%”. Se a escalada dos gastos públicos não for interrompida, o déficit vai sempre voltar. A única solução, diz o ex-ministro, é a presidente assumir a iniciativa de enfrentar a crise com um ’’programa ambicioso’’ de mudanças, que reduzam a ineficiência de impostos como o ICMS e o PIS-Cofins e aumentem a idade mínima das aposentadorias.

Delfim também defende o fim da idade diferenciada para aposentadorias de homens e mulheres. “A mulher vive mais e é hoje mais preparada que o homem”.

Para Delfim, a falta de iniciativa e liderança do governo está impedindo os investidores de reagirem a outro fator importante para a retoma do crescimento, que é o pacote de concessões. ’’O programa de concessões é muito melhor do que no passado’’, diz Delfim, que também elogia os programas do governo para exportações e agricultura.

Nas concessões, o governo não tem de fixar a taxa de retorno, e sim a qualidade do serviço a ser feito pela concessionária, diz o ex-ministro. Se o governo fixa a taxa de retorno em nível baixo, o investidor vai definir uma qualidade igualmente baixa para o serviço.

O resultado são obras de baixa qualidade.

Sem a volta da confiança, será difícil o investimento aumentar no ritmo necessário para a economia superar a crise. Mesmo que a economia esteja agora em recessão, o governo precisa criar no investidor a perspectiva de que o crescimento vai voltar, prega o ex-ministro.

“O empresário só vai aumentar o investimento quando não estiver pensando em demitir e sim imaginando que vai ter demanda”.

Sobre a dificuldade do governo em aprovar medidas no Congresso, Delfim não vê como um desafio intransponível, desde que haja a iniciativa da presidente. “Com um mínimo de ordem, Dilma tem a maioria”.

A maior independência do Poder Legislativo também seria positiva, e não negativa. ’’O Legislativo hoje é mais eficiente do que foi. Está votando. Por que dá errado? Porque falta orientação adequada, falta liderança’’.

Acompanhe tudo sobre:Ajuste fiscalCâmbioDilma RousseffDólarMoedasPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresRecessão

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor