Economia

Sucessor de Raúl Castro herdará Cuba muito diferente da deixada por Fidel

Primeiro desafio do novo governante será acelerar a aplicação da abertura econômica promovida pelo atual presidente do país

Raúl Castro: lideranças vubanas afirmam que Cuba não vive uma transição política, mas uma troca de geração na cúpula revolucionária (Adalberto Roque/AFP/AFP)

Raúl Castro: lideranças vubanas afirmam que Cuba não vive uma transição política, mas uma troca de geração na cúpula revolucionária (Adalberto Roque/AFP/AFP)

E

EFE

Publicado em 17 de abril de 2018 às 22h24.

Última atualização em 17 de abril de 2018 às 22h47.

O futuro presidente de Cuba herdará um cenário no país muito diferente daquele que Raúl Castro recebeu de seu irmão Fidel há dez anos, mas um problema persiste: a economia.

Acelerar a aplicação da ponderada abertura econômica promovida pelo atual presidente é o primeiro desafio do novo governo, que também deverá lidar com a clara mensagem de continuísmo já manifestada pelo Partido Comunista Cubano.

As lideranças afirmam que Cuba não vive uma transição política, mas sim uma troca de geração na cúpula revolucionária.

O próprio Partido Comunista Cubano, definido pela Constituição como "força dirigente superior da sociedade e do Estado", se reuniu um mês antes do "revezamento" para definir as prioridades futuras e os detalhes pendentes da reforma raulista. Faltam ainda ser eliminados o sistema duplo de câmbio e a reforma da Carta Magna, redigida em 1976.

Alguns analistas políticos sugerem que a reforma constitucional pode estabelecer uma separação de poderes, pondo fim à centralização nas mãos do partido estabelecida pela norma atual, elaborada sob medida por Fidel Castro.

Para o opositor moderado Manuel Cuesta Moruá, o desafio do novo presidente será estabelecer uma visão de país que inclua todos os setores da sociedade cubana.

"Construir uma nação na qual esteja incluída toda a pluralidade e não só estreitas visões políticas ou cívicas será o principal desafio", afirmou Moruá. "E na qual as decisões do Estado respondam à Constituição, ao estado de direito e à soberania dos cidadãos. Caso contrário, Cuba não prosperará", completou.

No entanto, a julgar pela mensagem continuísta anunciada nos últimos meses, as mudanças políticas são improváveis. As reformas econômicas só ocorrem para sustentar a manutenção do sistema.

"Para garantir a continuidade, é preciso mudar", afirmou à Agência Efe o ex-diplomata e analista cubano Carlos Alzugaray. Para ele, o conceito de revolução de Fidel Castro contemplava um "sentido de momento histórico, de mudar tudo o que precisa ser mudado".

O próprio Partido Comunista Cubano reconhece que parte das reformas de Raúl ainda estão pendentes. Falta, por exemplo, a consolidação do sistema de trabalho autônomo, que emprega mais de 500 mil pessoas - os chamados "cuentapropistas". A regularização está paralisada desde agosto para passar por um "aperfeiçoamento".

O governo quer continuar regulando esse tipo de atividade, pretende limitar a concentração de riqueza privada e combater a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal.

Por outro lado, os "cuentapropistas" lamentam que as dificuldades oficiais superem as oportunidades para desenvolver um setor que já domina 30% do mercado trabalhista.

"É evidente que há consciência de que é preciso avançar, resolver o problema das taxas de câmbio, da unificação monetária. Há uma infinidade de problemas e acredito que esses serão desafios muito importantes", avaliou Alzugaray.

Na avaliação de especialistas, a economia cubana ainda é extremamente centralizada. As profissões mais estratégicas e qualificadas seguem claramente sob controle do estado, subsídios anacrônicos ainda são mantidos e um elevado número de empresas públicas deficitárias absorvem os lucros das que funcionam.

A situação deixa poucas margens para investimento e crescimento.

"Melhorar o desempenho econômico passa por aumentar os níveis de investimento, as exportações, reformar o setor público, incluindo as empresas estatais", afirmou o economista Ricardo Torres, membro do Centro de Estudos da Economia Cubana.

"Essas áreas viram pouca ou nenhuma melhoria entre 2007 e 2018. De fato, o país atravessa uma crise séria de balança de pagamentos, devido, em grande medida, ao pobre desempenho das exportações", analisou o especialista.

Torres avalia que o governo deve focar em reduzir as distorções macroeconômicas provocadas pelo sistema duplo de câmbio e "libertar" as forças produtivas internas, o que implica em repensar o enfoque interno para o setor privado.

Além disso, o economista cita a questão da diáspora cubana, com cerca de 2 milhões de pessoas, que não pode fazer investimentos diretos no país. Apesar disso, o peso desse grupo na economia é inegável, com US$ 3 bilhões em remessas durante 2017.

Esse panorama de incapacidade própria de investir e dificuldade de captar investimentos externos dificulta outro dos grandes desafios de Cuba: o aumento do salário médio, que atualmente é de apenas US$ 30 mensais.

"A prosperidade seria a primeira prioridade que o novo governo deveria enfatizar, porque muitos jovens que não conseguem materializar seus sonhos, suas aspirações, vão embora de Cuba", afirmou Alzugaray.

Torres concorda e ressalta ser preciso "melhorar significativamente o desempenho econômico para garantir melhores padrões de vida para os cubanos".

Outros desafios da nova geração no poder serão a ampliação do acesso à internet e a promoção de melhorias na saúde e na educação, bandeiras da revolução cubana. A qualidade dos dois setores também acabou afetada pela falta de recursos nos últimos anos.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaCubaEleições

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor