Londres - Cidades como São Paulo e Hong Kong dizem que a mudança climática ameaça suas economias e a maioria está tomando medidas para proteger os negócios, de acordo com um relatório do Carbon Disclosure Project publicado hoje.
Cerca de 76 por cento das 207 cidades pesquisadas pelo grupo sem fins de lucro disseram que condições meteorológicas extremas e outros efeitos da mudança climática colocam em risco a estabilidade de suas economias locais, disse o CDP. As ameaças incluem danos a transporte, infraestrutura e bens, além de riscos para a saúde humana, de acordo com a pesquisa.
As cidades estão na linha de frente do aquecimento global, pois a elevação do nível do mar representa um perigo para os habitantes das regiões costeiras, como Nova York, Miami e Bangkok.
Três quartos das ameaças informadas por empresas também são reportadas pelas cidades onde elas operam, de acordo com o CDP, que disse que as autoridades cívicas já estão trabalhando para proteger suas economias.
“Os governos locais estão se adiantando para proteger cidadãos e negócios dos impactos da mudança climática, mas é preciso uma maior colaboração com as empresas para aumentar a resiliência das cidades”, disse Larissa Bulla, diretora do programa de cidades do CDP.
“Através do fornecimento de informações, políticas e incentivos, as cidades podem ajudar a preparar as empresas para gerenciar esses riscos”.
As Nações Unidas estimam que os níveis do mar podem subir entre 26 centímetros a 98 centímetros até o fim do século. A previsão é também de que até 2100 as temperaturas médias globais aumentarão até 4,8 graus centígrados, uma taxa muito maior do que a do fim da última era do gelo.
Os pesquisadores das Nações Unidas estimam que até o mais recente período de aquecimento o máximo ritmo de aumento de temperatura foi de aproximadamente 1,5 grau centígrado por mil anos.
População das cidades
Lar de metade da população mundial e de mais de 80 por cento da produção econômica, as cidades também enfrentam secas, inundações e ondas de calor, além de outros riscos derivados do aquecimento global, disse o CDP.
Em muitos lugares as autoridades estão tomando medidas para proteger as empresas de ameaças detectadas, disse o CDP. Hong Kong está investindo US$ 2,7 bilhões em defesas contra inundações, como tanques subterrâneos de armazenamento, alargamento de rios e construção de túneis de drenagem.
São Paulo está trabalhando com empresas para melhorar a infraestrutura da água e reduzir o impacto do saneamento insuficiente na saúde, que pode piorar com temperaturas mais altas, disse o CDP.
No total, o projeto identificou 757 atividades distintas que as cidades pesquisadas realizam para adaptar a infraestrutura aos possíveis efeitos da mudança climática. O CDP disse que 102 cidades têm planos de adaptação climática em andamento.
O CDP afirmou que a expansão de sua pesquisa para 207 cidades em 2014, frente a 110 no ano passado, foi possível graças a uma subvenção da Bloomberg Philanthropies, que foi formada por Michael Bloomberg. Bloomberg é o fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, a matriz da Bloomberg News.
O CDP, com sede em Londres, é uma entidade de pesquisas climáticas sem fins de lucro que incentiva empresas e governos a divulgarem o impacto que provocam no meio ambiente.
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1. Sob "risco extremo"
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São Paulo –
Desastres naturais ocorrem em todo o planeta, a todo tempo. Mas em alguns países eles causam mais danos do que em outros, não tanto pela intensidade, mas pela capacidade da região de se recuperar do choque climático. Quer um exemplo? Embora a maior parte do Japão (40% da população) esteja mais susceptível a enfrentar ciclones tropicais do que as Filipinas, se ambos os países sofressem eventos semelhantes, morreriam 17 vezes mais pessoas nas Filipinas que no Japão, segundo estimativas da ONU. Um novo relatório da consultoria britânica de risco
Maplecroft corrobora essa ideia. Apesar de Japão e Estados Unidos liderarem o ranking de exposição às
mudanças climáticas, são as economias emergentes da China, Índia e Filipinas que representam o maior risco para os investidores devido à baixa capacidade de combater os impactos de um grande desastre. A ocorrência de uma catástrofe nesses países também pode ter impactos econômicos globais e afetar gravemente as cadeias de suprimentos. O nível de risco foi calculado avaliando uma série de fatores, incluindo a robustez econômica, a força de governança e a infraestrutura.
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2. 1 - Japão
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A exposição da economia japonesa aos perigos naturais é avaliada como de 'risco extremo' pela Maplecroft. Por ser a terceira maior economia do mundo, um desastre de grande magnitude, como o tsunami que atingiu o país em março de 2011, causa impactos financeiros que podem ser sentidos mundialmente. Os danos na usina nuclear de Fukushima afetaram o fornecimento de energia para a região, mas também a produção industrial. Em números gerais, o tsunami no Japão foi o evento sísmico global mais caro da história, com custo estimado em 210 bilhões de dólares. No entanto, ressalta a Maplecroft, o país tem resiliência exemplar e os esforços de construção e reconstrução garantem a retomada do crescimento econômico.
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3. 2 - Estados Unidos
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Os Estados Unidos são o segundo país com maior exposição aos desastres naturais, segundo a Maplecroft, também sendo classificado como de “risco extremo”. A temporada de furacão americana de 2011 foi uma das mais intensas da história dos EUA, com mais de 1.100 tornados registrados. Os incêndios devastadores, como o que atingiu o Colorado em junho, são outra constante na região, e também a seca, que chegou a níveis recordes este ano,
afetando o preço dos grãos em todo o mundo. Mas, segundo o relatório, esses eventos extremos são contrabalanceados por um sistema eficaz de infraestrutura do governo e boa resiliência socioeconômica, ou seja - o país é capaz de recuperar bem dos danos e perdas causadas pelas tempestades severas e tornados.
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4. 3 - China
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O perigo no gigante asiático mora próximo de seus rios, incluindo o Yangtsé, o maior do país. Em dias de fortes chuvas, eles transbordam, inundam as cidades e estragam plantações. A classificação da China entre os países sob “risco extremo” reflete a exposição econômica chinesa a este e outros desastres naturais. Dada a escala da economia, um evento extremo apresenta riscos significativos que vão além das fronteiras do país. O relatório da Maplecroft destaca que boa parte da produção econômica se concentra ao longo da zona costeira no leste da China, em particular em torno do Mar Amarelo, região exposta a terremotos.
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5. 4 - Taiwan
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Terremotos e tufões são os dois principais riscos naturais em Taiwan. Semana passada, o governo de Taiwan determinou a retirada de 3.000 pessoas e mobilizou centenas de soldados ante a aproximação do tufão Tembin, que ameaça a ilha com fortes ventos e chuvas torrenciais. A exposição do país a fortes ciclones tropicais foi demonstrado pelo dano causado pelo tufão Morakot em agosto de 2009. O impacto econômico da tempestade foi limitado porque a maioria dos danos se concentraram nos setores da agricultura e do turismo, que compreendem uma porção relativamente pequena de produção global da economia do país. Mas, segundo o relatório da Maplecroft, o custo e as implicações do tufão Morakot teriam sido substancialmente maiores se as tempestades atingissem áreas chaves de produção, como os centros industriais.
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6. 5 - México
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A exposição aos furacões é uma constante no México, principalmente nos litorais do país com o Atlântico e o Pacífico. A cada ano, o aumento da frequência de perdas econômicas causadas por esses fenômenos vem afetando profundamente a produção agrícola. Há mais de duas décadas sem receber ajuda relevante do governo, o setor agrícola carece de investimento em diversos fatores de produção, de maquinaria à logística.
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7. 6 - Filipinas
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As Filipinas são um país especialmente suscetível ao aquecimento global, com consequências que refletem direto na economia e na segurança alimentar do país. A consultoria destaca alguns fatores que têm contribuído para a maior incidência de desastres, como níveis de precipitação alta, particularmente durante as monções sazonais, a rápida urbanização e o desmatamento ilegal, que expõem o solo à degradação. Eventos climáticos extremos afetam uma de suas principais atividades agrícolas, o cultivo de arroz, grão também onipresente na dieta da população local. Segundo o Banco de Desenvolvimento Asiático, se não forem tomadas medidas para adaptar o país aos efeitos das mudanças climáticas, a produção de arroz do país pode cair até 70% até 2020. O problema é que o país é relativamente fraco na hora de se preparar para responder às emergências. Um exemplo é a corrupção no governo, que torna ineficaz a prevenção de extração ilegal de madeira e mineração, atividades que aumentam os riscos deslizamentos de terra.
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8. 7 - Índia
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O segundo país mais populoso do mundo é também um dos mais vulneráveis aos desastres naturais. Quase toda a Índia tem um grau elevado ou extremo de sensibilidade, devido à pressão da população e seu ritmo de crescimento econômico, que gera tensão aguda na demanda por recursos naturais. Esta situação é agravada por um alto grau de pobreza, sistema de saúde precário e dependência agrícola de grande parte da população. Para não falar da insegurança energética – grande consumidor de combustíveis fósseis baratos, como carvão, que contribuem fortemente para as altas emissões, a Índia enfrentou um apagão histórico este mês, que deixou mais da metade do país no escuro. Uma catástrofe natural de grandes proporções pode afetar profundamente a economia indiana.
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9/9 (Sergio Moraes/Reuters)