Economia

Sonho de esteticista mostra paradoxo do baixo desemprego

Pequenos empresários ajudaram gerar 1 milhão de empregos neste ano, 82% deles nos setores de serviços e comércio


	Cabeleireiro: desemprego no segundo maior país emergente do mundo caiu de 6,1% em janeiro de 2011 para 4,6% em novembro passado
 (Oli Scarff/Getty Images)

Cabeleireiro: desemprego no segundo maior país emergente do mundo caiu de 6,1% em janeiro de 2011 para 4,6% em novembro passado (Oli Scarff/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 16h11.

Rio de Janeiro - Mônica Werneck e o marido compraram um depósito infestado de ratos nas proximidades de uma favela do Rio de Janeiro, em 2012. Eles construíram um salão de beleza que foi aberto na semana passada, completado por duas manicures que vão ser registradas em carteira.

“É um sonho que está começando a se concretizar”, disse Werneck, 32, em seu salão recentemente pintado na favela do Complexo do Alemão. “Ainda tenho muita coisa em mente para fazer. Creio que Deus me dá saúde, me dá força para mim conseguir”. Os planos incluem contratar duas costureiras e uma esteticista.

Estes pequenos empresários ajudaram o Brasil a gerar 1 milhão de empregos registrados neste ano, de janeiro a outubro, 82 por cento deles nos setores de serviços e comércio, o que inclui desde lavanderias até consultórios de odontologia, oficinas mecânicas e serviços de fotocópias. Embora o número esteja abaixo dos 1,3 milhão do mesmo período de 2012, ainda é suficiente para manter a taxa de desemprego próximo a uma baixa recorde.

Durante os quase três anos de mandato da presidente Dilma Rousseff na presidência, o desemprego no segundo maior país emergente do mundo caiu de 6,1 por cento em janeiro de 2011 para 4,6 por cento em novembro passado, mesmo com o crescimento médio do PIB no nível mais baixo em dez anos. Isso acontece porque a maioria dos empregos foram criados no setor de serviço, o que proporciona uma baixa produtividade, segundo o ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni.

“Isso explica esse aparente paradoxo em que se tem uma economia com crescimento do PIB a 2 por cento, mas operando em pleno emprego”, disse Langoni, em entrevista em seu escritório, no Rio de Janeiro. Pela atual taxa de desemprego, considera-se que o Brasil opera em pleno emprego, disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em 10 de dezembro.

Ritmo insustentável

Langoni disse que a menos que a criação de empregos se espalhe para outros setores, essa baixa taxa de desemprego não conseguirá se sustentar. “Se seguirmos crescendo a 2 por cento, cedo ou tarde o mercado de trabalho refletirá a desaceleração”, disse ele. “O setor de serviços não é capaz de manter essa taxa sozinho”.


O empregado médio do setor de serviços contribui menos para o PIB do que trabalhadores de outros setores, como o industrial. Os setores de serviços e varejo responderam por 73 por cento de todos os empregos registrados em setembro, segundo a Confederação Nacional de Serviços. No entanto, esses setores geraram apenas 58,5 por cento do PIB do terceiro trimestre, que recuou 0,5 por cento em relação ao período anterior, segundo o IBGE.

Já existem sinais de que o mercado de trabalho do Brasil está perdendo força. A criação de empregos nos 10 primeiros meses do ano marcou o terceiro declínio consecutivo em relação aos 2,5 milhões de 2010. A média móvel de desemprego nos últimos 12 meses caiu em todos os meses da administração de Dilma Rousseff até abril, para 5,43 por cento, contra 6,74 por cento em dezembro de 2010, o mês anterior à sua chegada à presidência. O total, desde então, se estabilizou e foi de 5,42 por cento em novembro.

Polo industrial

Até mesmo o polo industrial de Vitória, capital do Espírito Santo, está dependendo do setor de serviços para o aumento dos empregos. O incremento da média móvel de três meses na produção industrial do estado excedeu tanto a média nacional quanto a regional por quatro anos, até setembro, disse o Banco Central. Serviços e comércio respondem por 57 por cento dos empregos criados neste ano até outubro.

Na bolsa de empregos do governo do Espírito Santo, Edison Arcanjo está procurando um trabalho após concluir um mestrado em artes na universidade estadual. Ele quer se tornar professor.

“Estava vivendo com uma bolsa de estudos e ela acabou no mês passado, então eu tenho que retornar ao trabalho”, disse Arcanjo, 47. “Enquanto espero um concurso na minha área, estou buscando utilidades temporária qualquer”.

O escritório ofereceu a ele 15 opções, todas no setor de comércio. Ele escolheu fazer uma entrevista para um emprego de repositor de mercadorias.

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