Economia

Sistema financeiro tem até agora absorvido choques recentes, diz dirigente do BCE

Claudia Buch afirmou que os bancos enfrentam novos riscos, como mudanças climáticas, tensões geopolíticas e digitalização

Claudia Buch, presidente do conselho de supervisão do BCE (Martin Leissl/Getty Images)

Claudia Buch, presidente do conselho de supervisão do BCE (Martin Leissl/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 12 de março de 2024 às 16h40.

Última atualização em 12 de março de 2024 às 17h09.

Presidente do conselho de supervisão do Banco Central Europeu (BCE), Claudia Buch afirmou nesta terça-feira, 12, que o sistema financeiro tem até o momento absorvido choques recentes, mas advertiu para a incerteza no quadro, que deve deixar bancos atentos.

Durante discurso em evento do Morgan Stanley, a dirigente recordou que os bancos enfrentam agora novos riscos, como mudanças climáticas, tensões geopolíticas, digitalização e mudanças demográficas, os quais exigem "ajuste estrutural". "Quando e como esses riscos e mudanças estruturais se materializarão — e como afetarão nossas economias — é altamente incerto", admitiu.

No curto prazo, as previsões seguem "relativamente otimistas", de pouso suave em termos de crescimento econômico global. Buch advertiu, porém, que há muitas tendências e incertezas de mais longo prazo não refletidas nas medidas de risco baseadas no mercado.

Buch afirmou que há um ambiente macrofinanceiro que tem mudado de modo significativo. "A inflação e as taxas de juro estão mais altas, o crescimento enfraquece e há incerteza elevada sobre como a economia real irá se adaptar às tendências globais", disse ela. "A pressão por mudança estrutural certamente cresceu."

Na avaliação da dirigente, vulnerabilidades subjacentes no setor bancário "podem não ter sido expostas". Um bom gerenciamento de risco precisa reconhecer que os efeitos de taxas de juro mais altas mudam com o tempo", notou.

Buch citou o setor de imóveis comerciais como "particularmente vulnerável" a juros mais altos. Segundo ela, o BCE monitora de perto o quadro nesse setor desde 2018, em atividades de supervisão, e em 2023 comunicou falhas a alguns bancos "e esperamos que eles lidem com essas questões em tempo hábil".

A dirigente também mencionou que os juros mais altos representam risco para o setor financeiro não bancário. O quadro seria especialmente arriscado caso as condições financeiras apertassem mais e essas instituições fossem forçadas a reduzir posições de modo abrupto, notou.

Ela também citou riscos maiores por acidentes cibernéticos, e disse que os bancos precisam gerenciar seus riscos oriundos de tecnologia da informação.

Qualidade dos ativos

Claudia Buch afirmou, também nesta terça, que a sustentabilidade dos lucros dos bancos na zona do euro depende de decisões tomadas no momento atual. Segundo ela, isso será determinado por uma série de fatores, sobre os quais a avaliação no presente pode ser apenas imperfeita. Entre um desses fatores ela mencionou a qualidade dos ativos.

A dirigente disse que os indicadores de qualidade de ativos "têm sido muito robustos", mas acrescentou que há "sinais preliminares de deterioração nos portfólios de empréstimos", inclusive em empréstimos para empresas menores e para setor como construção e o imobiliário.

No evento do Morgan Stanley, ela defendeu que a região caminhe mais para uma união do mercado de capitais.

Já no caso do setor imobiliário, os atrasos em pagamentos, que sinalizam potenciais calotes, aumentaram "de modo significativo ao longo do último ano", embora ainda sigam em níveis inferiores à pandemia de covid-19, disse Buch.

Ela comentou ainda que a elevação nos juros pode provocar deterioração na qualidade dos ativos e um aumento no custo de risco.

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