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Senado discute hoje autonomia do BC; governo quer ter direito de aprovar contas da autarquia

No texto da PEC, o Banco Central deixaria de ser uma autarquia federal não vinculada a ministérios e passaria a ser uma empresa pública

Agência o Globo
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Publicado em 14 de agosto de 2024 às 06h41.

Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 06h49.

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O governo Lula não deve interditar a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autonomia financeira do Banco Central (BC), mas o governo quer o direito de dar a palavra final no orçamento do órgão e que as remunerações dos funcionários obedeçam o teto do funcionalismo. O projeto está na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira.

Na versão atual, o BC deixaria de ser uma autarquia federal não vinculada a ministérios e passaria a ser uma empresa pública.

Mas, segundo integrantes do governo, é de interesse da Fazenda encontrar um modelo de autonomia financeira para o BC. Caso o orçamento do órgão fique fora do controle do governo, com os custos sendo bancados por receitas próprias, abre-se um espaço nas contas da União para outros gastos, como investimentos. Em 2024, a dotação orçamentária do BC é de cerca de R$ 4,0 bilhões.

A avaliação, porém, é de que é preciso ter razoabilidade, especialmente considerando o impacto na estrutura da administração pública. A equipe econômica concorda que o orçamento do BC fique separado, mas tem certo incômodo com a vantagem que o BC busca de não depender de discussões orçamentárias. O tema é assunto de conversas entre integrantes da Fazenda e as principais lideranças do Senado.

Orçamento do BC

Para o governo, é necessário que o orçamento do BC seja aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e não só fiscalizado pelo Senado. Haveria ainda permissão para contratação sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), especialmente em áreas estratégicas, como tecnologia.

Mas os salários de todos os funcionários precisariam respeitar o teto remuneratório do funcionalismo público, que hoje é limitado pelo salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Outro pré-requisito para o governo é que o modelo jurídico de autarquia seja mantido, mas uma autarquia sui generis, que não esteja no Orçamento Geral da União (OGU). Nesse ponto, além do receio com um possível impacto primário no caso de transformação em estatal, há também preocupação de se abrir um precedente perigoso para outras carreiras.

A avaliação da equipe econômica é de que se o BC “virar uma figura muito diferente”, outras carreiras vão pleitear algo semelhante.

O relator da matéria, senador Plínio Valério (PSDB-AM), contudo, é contra a manutenção do BC como autarquia, porque, segundo auxiliares, derruba o cerne da PEC, que é a autonomia orçamentária e financeira da instituição.

A avaliação é que o formato de autarquia concederia independência orçamentária "maquiada", porque o orçamento teria de passar por quatro barreiras antes de ser liberado, com decisão final do governo.

Líder pediu adiamento

Antes do recesso parlamentar, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), pediu o adiamento da discussão na CCJ para dar tempo de o governo apresentar uma alternativa ao parecer do relator, senador Plínio Valério (PSDB-AM). O receio do governo, segundo Jaques Wagner, é de um possível impacto primário com a transformação do BC em empresa pública.

Ao virar estatal, o aporte do Tesouro Nacional para cobrir eventuais prejuízos do BC na gestão das reservas internacionais teria impacto primário, ao contrário do que ocorre atualmente, em que a despesa é financeira.

Em 2023, o BC teve prejuízo de R$ 114,2 bilhões, totalmente devido ao resultado de reservas e derivativos cambiais, que foi negativo em R$ 123 bilhões. Conforme as regras, que envolvem hoje redução do patrimônio do BC para abater parte do resultado negativo, o Tesouro terá de repassar no ano que vem para a autoridade monetária R$ 111,2 bilhões.

Este ano, o Tesouro vai transferir R$ 36,5 bilhões ao BC relativos ao prejuízo de 2022.

Proposta atual

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) no formato atual traz três principais alterações: a natureza do BC que passaria ser empresa pública; o regime dos servidores e a gestão do orçamento.

Desde 2021, o BC tem autonomia operacional, ou seja, não está vinculado ao Ministério da Fazenda, mas ainda depende dos recursos do Tesouro Nacional. A proposta insere na Constituição um dispositivo que assegura ao BC autonomia técnica, operacional, administrativa, orçamentária e financeira.

Isso significa que a instituição terá autonomia orçamentária e poderá aprovar e executar seus recursos de forma independente do governo, embora tenha ainda de prestar contas ao Congresso Nacional.

A PEC também estabelece uma mudança no regime dos servidores que deixariam de ser regidos pelas normas do regime jurídico único (RJU) para serem empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas garante a estabilidade.

O texto foi protocolado no Senado em novembro do ano passado, sob autoria do senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). O texto ganhou apoio quase imediato da cúpula do Banco Central que pede reajustes salariais e uma disponibilidade maior de orçamento para a autarquia.

Na avaliação do BC, a autonomia orçamentária e financeira estão alinhadas com as melhores práticas de governança de bancos centrais, assim como com a experiência de bancos centrais de referência no cenário global.

Na experiência internacional, cerca de 90% dos BCs com autonomia operacional, também têm independência orçamentária e financeira. Além disso, o projeto endereça a limitação orçamentária que tem afetado as atividades da autoridade monetária, na visão do BC.

Para projetos, como o Pix e o Drex, há queda no orçamento desde 2018, de R$ 163,3 bilhões para R$ 12,1 bilhões em 2023, um corte de 92,6%, o que provoca atrasos na agenda de inovação.

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