Economia

Scriven, do BID: foco no setor privado

Camila Almeida O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) inaugurou seu segundo escritório no Brasil nessa segunda-feira, em São Paulo. A ideia é focar em créditos para o setor privado, e, para isso, o grupo BID resolver dar mais força para seu braço especializado na relação com as empresas: a Corporação Interamericana de Investimentos (CII). EXAME Hoje conversou […]

JAMES SCRIVEN: Presidente da CII, braço de créditos ao setor privado do BID, aposta em ampliação no Brasil / Divulgação

JAMES SCRIVEN: Presidente da CII, braço de créditos ao setor privado do BID, aposta em ampliação no Brasil / Divulgação

DR

Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2017 às 14h57.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h09.

Camila Almeida

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) inaugurou seu segundo escritório no Brasil nessa segunda-feira, em São Paulo. A ideia é focar em créditos para o setor privado, e, para isso, o grupo BID resolver dar mais força para seu braço especializado na relação com as empresas: a Corporação Interamericana de Investimentos (CII). EXAME Hoje conversou com o presidente global da CII, James Scriven, que está participando do Brazil Investment Forum, evento promovido pelo Palácio do Planalto para fomentar investimentos no país. Scriven falou sobre a ampliação da participação do setor privado no desenvolvimento do país e os setores que mais podem atrair empresas estrangeiras.

O BID não tem, em nenhum outro país, um escritório que esteja fora da capital. Qual a importância desse escritório em São Paulo para os negócios do banco?

O escritório em São Paulo é parte de um plano estratégico de estar mais perto dos nossos clientes. O que nós fizemos foi aprovar, no ano passado, um conceito de descentralização e ampliação da nossa participação junto ao setor privado, expandindo o quadro de pessoas dedicadas a isso dentro do grupo BID – hoje, 10% dos profissionais do banco estão trabalhando nesse campo e o plano é chegar a 40% até o final do ano. Com esse propósito em mente, fizemos um levantamento na América Latina e no Caribe e percebemos que, no caso do Brasil, nosso único e maior escritório estava em Brasília. Sentimos que expandir nossa presença para mais perto dos clientes e dos clientes potenciais – que estão especialmente em São Paulo, maior centro econômico do país – seria importante. Então, nós decidimos abrir um segundo escritório e o grupo BID chega agora a São Paulo.

No Brasil, o BID tem uma longa tradição de parceria com o setor público e, agora, o foco é o setor privado. Por que essa mudança de perspectiva?

Não é bem uma mudança. O grupo BID tem dois grandes braços: um é o setor público, outro é o privado. Os dois funcionam separadamente, e são iniciativas diferentes. O BID empresta para os governos, a CII empresta para as empresas. A corporação existe há mais de 30 anos, mas não estava tendo um papel importante no desenvolvimento na região. Cerca de um ano e meio atrás, houve uma decisão do corpo de governança do grupo BID de recapitalizar a instituição e recapitalizá-la. Desde então, nós trouxemos cerca de 450 pessoas, tivemos um aumento de capital significativo de 2,5 bilhões de dólares e estamos crescendo nossa participação na América Latina e no Caribe.

No setor público, o BID está muito focado em desenvolvimento urbano e inclusão social, que são considerados pontos chaves para o crescimento da região. No setor privado, quais serão as prioridades?

Em 2015, desenvolvemos a estratégia do grupo BID para o Brasil, e ela engloba tanto as atividades no setor público quanto no setor privado. Eu diria que os pontos mais críticos para o desenvolvimento que estamos visualizando junto com empresas do setor privado são nos setores de infraestrutura e energia. São quatro grandes áreas de atuação: transporte, energia, agronegócio e instituições financeiras. Estamos basicamente investindo em empresas que estão trabalhando para promover acesso a serviços básicos para a população, como energia limpa, comida, transporte e serviços financeiros. Também estamos trabalhando junto às empresas com bastante foco em inovação, para ajudá-las a criar novos produtos que ajudem a desenvolver o capital do mercado local.

Quais são as companhias interessadas nesses créditos?
O BID e a CII têm atuado junto ao setor privado no Brasil há muitos anos. Nós já temos entre 800 e 900 milhões de dólares no portfólio brasileiro, mas, no último ano e meio, estamos focando no desenvolvimento dessa nova estratégia, que vai contar com investimentos na ordem de 1,5 bilhão de dólares. Não podemos citar nomes dos acordos que estamos fechando, porque ainda estão sob confidencialidade, mas posso dizer que estamos muito presentes no programa de concessões lançado pelo governo, com bastante atuação na questão de rodovias, aeroportos e portos, e no setor de energia.

Durante o evento, foi anunciado um novo fundo de parceria do Brasil com a China, que vai contar com 20 bilhões em investimentos. Qual o interesse da China no país?

Nós não temos ligação direta com esse fundo, que é o fundo Clai. O que eu posso dizer é que o governo da China é um grande parceiro da CII e tem trabalhado junto conosco, com ampliação dos coinvestimentos para ajudar a desenvolver a América Latina e o Caribe. Nós assinamos alguns acordos com instituições chinesas que estão expandindo sua presença. O fundo Clai é uma delas, o fundo Silk Road é outra, e há mais. A China se tornou um importante investidor no Brasil. A Three Gorges Corporation (CTG) é uma das maiores empresas de energia do mundo e é a segunda maior produtora privada de energia no Brasil. Assim como a CTG, há diversas empresas que têm investido no país. Temos trabalhado para ampliar essa presença, que já é bem forte.

A crise brasileira, na política e na economia, não é um problema para a atração de investimentos e para dar confiança aos investidores?

Obviamente, sim. Qualquer crise política tem um efeito nos investimentos estrangeiros diretos. Nós somos o maior investidor no país, e continuamos com nossa perspectiva de longo prazo. Temos uma experiência longa, que inclui passagens por ciclos como esse, e o que nós percebemos é que, nesses momentos de incerteza, um banco de desenvolvimento como o nosso deve estar mais presente do que nunca. A mensagem geral que queremos transmitir é que estamos aqui para ficar, nos bons e maus momentos.

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Economia

Brasil exporta 31 mil toneladas de biscoitos no 1º semestre de 2024

Corte anunciado por Haddad é suficiente para cumprir meta fiscal? Economistas avaliam

Qual é a diferença entre bloqueio e contingenciamento de recursos do Orçamento? Entenda

Haddad anuncia corte de R$ 15 bilhões no Orçamento de 2024 para cumprir arcabouço e meta fiscal

Mais na Exame