Incêndio em tanques de combustíveis em Santos (SP) (Nacho Doce/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2015 às 19h44.
O porto de Santos deixou de exportar nos últimos dias 400 mil toneladas de soja e farelo de soja devido a restrições à entrada de caminhões pela margem direita, em função do incêndio em tanques de combustíveis nas proximidades da área portuária, que ocorre há uma semana.
A avaliação foi feita nesta quinta-feira por dirigentes da Abiove, a associação que representa as indústrias de soja no país, indicando que a redução nos embarques do principal produto da pauta de exportação do Brasil deve ter impacto na balança comercial em abril.
As restrições para levar soja até os terminais portuários ocorrem no momento do pico de escoamento de uma safra recorde do Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, o maior porto do país e o mais importante para embarques de soja deveria exportar cerca de 3 milhões de toneladas em abril, cerca de um quinto do volume anual de embarques do complexo soja.
"A performance do porto de Santos está prejudicada", disse o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, em entrevista à Reuters.
A soja está sendo levada para a margem direita somente em comboios de caminhões durante a noite, com o objetivo de minimizar perdas, de forma excepcional. Com o sistema, 2.320 veículos pesados passaram pelo local nos últimos dias, segundo o governo de Santos.
Diante das restrições, a Abiove pediu autorização à Prefeitura de Santos para que a multinacional norte-americana ADM tenha autorização para receber caminhões durante o dia, em função das maiores dificuldade da companhia, pelo fato de seu terminal estar no final do porto. Mas o governo municipal indicou a não aprovação da medida, em nota nesta quinta-feira. "A prefeitura compreende e se solidariza com a situação dos trabalhadores e empresários do setor de Indústrias de Óleos Vegetais, mas ressalta que o bloqueio foi uma decisão aprovada pelo Gabinete de Integração", afirmou o governo em nota.
Segundo a prefeitura, as restrições visam garantir a segurança da cidade e das pessoas. ALTERNATIVA De acordo com o secretário-geral da Abiove, Fábio Trigueirinho, o porto de Paranaguá, que realizou investimentos recentes para elevar sua capacidade de embarques, pode atender a demanda por soja se restrições em Santos continuarem.
O presidente da Abiove avaliou, no entanto, que os problemas recentes em Santos --que ocorreram após protestos de caminhoneiros em fevereiro, afetando o transporte de mercadorias--, não chegam a diminuir a demanda da China por soja brasileira.
Ele argumentou que os chineses não têm opção melhor no momento, uma vez que os Estados Unidos já exportaram boa parte da soja nesta época e a Argentina começa a colheita mais tarde que o Brasil.
"Não há opções (de origem de soja)... (Os problemas) não são suficientes para a China dizer 'não vou comprar mais'", disse Lovatelli, em entrevista na sede da associação. "Acho que não muda nada." A China é o maior importador de soja do Brasil, levando cerca de 70 por cento do total exportado pelos brasileiros, que disputam com os norte-americanos a liderança global na exportação do grão.
Estados Unidos, Brasil e Argentina são os três maiores produtores de soja, respectivamente. A soja foi, em março, o principal produto de exportação do Brasil. Com o escoamento da safra, a tendência é de que o grão ganhe ainda importância para a balança comercial brasileira.
A Abiove representa os principais exportadores de soja, incluindo Bunge, Cargill, ADM, Louis Dreyfus, Amaggi, entre outros.
PAGAMENTOS DE MULTAS
Segundo Trigueirinho, o setor já está tendo que arcar com multas em função do atraso para embarques de navios.
"Estamos tendo alguns problemas com custos, os navios não têm soja em volumes suficientes para ser carregada no porto", disse ele, estimando as multas de 25 mil dólares devido ao atraso na atracação das embarcações. Normalmente, o pagamento da sobrestadia é feito em bases diárias.
Segundo ele, a situação só não é pior para as exportações a partir de Santos porque os terminais da margem esquerda, no município de Guarujá, estão recebendo soja. Além disso, o produto também chega para a margem direita por ferrovia, enquanto comboios de caminhões estão levando o grão nas últimas noites. O diretor-geral acredita, no entanto, que haverá uma solução breve para os problemas.
O incêndio no terminal de combustíveis da Ultracargo, do Grupo Ultra, no distrito de Alemoa, continuava nesta quinta-feira pelo oitavo dia seguido, com focos de fogo na área ao redor dos tanques, informou a Defesa Civil do Estado de São Paulo.
*Texto atualizado às 19h44