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Rivalidade entre China e Índia pode aproximar os dois

Os países têm lançado recentemente programas no setor de fabricação industrial visando transformações, o que poderia aproximar economicamente os dois

Indústria: a China visa se tornar uma rival da Alemanha ou do Japão, mas a Índia se contentará com chegar ao ponto onde a China está hoje (ia_64/Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2015 às 21h10.

Talvez soe como mais um exemplo da rivalidade entre os países mais populosos do mundo.

Recentemente, o Partido Comunista anunciou um programa chamado Fabricado na China no intuito de transformar seu setor de fabricação industrial, meses depois que o primeiro-ministro Narendra Modi apresentou seu plano Fabricar na Índia , que também visa a produção industrial.

No entanto, uma análise mais de perto revela sinais que apontam para uma ampla mudança que poderia aproximar economicamente os dois gigantes asiáticos nos próximos anos.

Fabricado na China 2025 é uma campanha de dez anos para fazer com que o país vá além do trabalho com uso intensivo da mão de obra e entre em setores mais sofisticados, da robótica até o setor aeroespacial.

O objetivo de Modi é levar a fabricação industrial básica para uma economia que precisa de mais empregos com salários decentes.

Em resumo, a China visa se tornar uma rival da Alemanha ou do Japão, mas a Índia se contentará com chegar ao ponto onde a China está hoje.

“A Índia poderá capturar qualquer setor que a China descarte com o passar dos anos”, disse Frédéric Neumann, um dos diretores de pesquisa econômica sobre a Ásia do HSBC Holdings Plc em Hong Kong.

“Os caras avançados vão descobrir que finalmente terão que concorrer frente a frente com a China, e acho que isso vai ser uma enorme dor de cabeça para esses países industrializados”.

China

Além da simples escala, a China está anos, se não décadas, à frente de sua vizinha. Segundo dados do FMI e do Banco Mundial, o PIB per capita da China, de US$ 7.600, é quase cinco vezes maior do que o da Índia, e seu setor de fabricação industrial, de cerca de US$ 3 trilhões, é dez vezes maior. No entanto, a China está perdendo milhões de trabalhadores, como aconteceu com o Japão no final da década de 1990.

A campanha está nos estágios iniciais, e a China nem sempre materializa suas grandiosas ambições. Por exemplo, o governo já não fala mais da meta de ter cinco milhões de veículos elétricos em circulação até 2020, pois as vendas nunca se popularizaram.

Em um exemplo ilustrativo das penúrias da China, os exportadores no centro de fabricação industrial do Delta do Rio das Pérolas enfrentam uma escassez crônica de mão de obra e custos em alta.

Em uma pesquisa recente do Standard Chartered Plc, projetou-se que os salários na região vão aumentar 8,4 por cento neste ano, e mais de 85 por cento dos participantes disseram que a insuficiência de mão de obra é tão ruim quanto no ano passado.

Cerca de 11 por cento das companhias consultadas pretendem transferir fábricas para o exterior a fim de manter os custos baixos, e o Vietnã e o Camboja são os primeiros da lista de destinos preferidos.

Índia

Vietnã e Camboja? Não se o primeiro-ministro da Índia conseguir o que quer.

Anunciada em setembro, a campanha Fabricar na Índia, de Modi, busca atrair investimentos estrangeiros e aumentar a quota de fabricação industrial na terceira maior economia da Ásia para 25 por cento até 2022, frente aos atuais 18 por cento, uma porcentagem que praticamente não mudou desde 1947.

Conte a Foxconn Technology Group entre as empresas atraídas. Sua unidade FIH Mobile Ltd. disse que começará a montar smartphones no país neste ano.

No entanto, abundam os desafios. A notória burocracia da Índia contribuiu para que o país figurasse na 142º posição do último Índice de Facilidade para Fazer Negócios do Banco Mundial, que inclui 189 países – a Índia ficou abaixo da Etiópia e de Serra Leoa, e também da China, que ocupou o 90º lugar.

A burocracia é tal que normalmente são necessários 30 dias e 12 permissões para registrar uma empresa no centro industrial de Noida, perto de Nova Délhi. É um período de tempo três vezes maior do que em um país-membro da OCDE.

“O Estado chinês é capaz de articular e impulsionar um conjunto de metas de forma consistente”, disse Peter Martin, diretor associado da APCO Worldwide para a Índia.

“Para a Índia, igualar esse nível de consistência em seu impulso com políticas para a fabricação industrial é um desafio. E isso tem a ver com uma diferença fundamental nos sistemas políticos que se vincula estreitamente à comparação entre a democracia descentralizada da Índia e o Estado desenvolvedor de partido único da China”.

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Talvez soe como mais um exemplo da rivalidade entre os países mais populosos do mundo.

Recentemente, o Partido Comunista anunciou um programa chamado Fabricado na China no intuito de transformar seu setor de fabricação industrial, meses depois que o primeiro-ministro Narendra Modi apresentou seu plano Fabricar na Índia , que também visa a produção industrial.

No entanto, uma análise mais de perto revela sinais que apontam para uma ampla mudança que poderia aproximar economicamente os dois gigantes asiáticos nos próximos anos.

Fabricado na China 2025 é uma campanha de dez anos para fazer com que o país vá além do trabalho com uso intensivo da mão de obra e entre em setores mais sofisticados, da robótica até o setor aeroespacial.

O objetivo de Modi é levar a fabricação industrial básica para uma economia que precisa de mais empregos com salários decentes.

Em resumo, a China visa se tornar uma rival da Alemanha ou do Japão, mas a Índia se contentará com chegar ao ponto onde a China está hoje.

“A Índia poderá capturar qualquer setor que a China descarte com o passar dos anos”, disse Frédéric Neumann, um dos diretores de pesquisa econômica sobre a Ásia do HSBC Holdings Plc em Hong Kong.

“Os caras avançados vão descobrir que finalmente terão que concorrer frente a frente com a China, e acho que isso vai ser uma enorme dor de cabeça para esses países industrializados”.

China

Além da simples escala, a China está anos, se não décadas, à frente de sua vizinha. Segundo dados do FMI e do Banco Mundial, o PIB per capita da China, de US$ 7.600, é quase cinco vezes maior do que o da Índia, e seu setor de fabricação industrial, de cerca de US$ 3 trilhões, é dez vezes maior. No entanto, a China está perdendo milhões de trabalhadores, como aconteceu com o Japão no final da década de 1990.

A campanha está nos estágios iniciais, e a China nem sempre materializa suas grandiosas ambições. Por exemplo, o governo já não fala mais da meta de ter cinco milhões de veículos elétricos em circulação até 2020, pois as vendas nunca se popularizaram.

Em um exemplo ilustrativo das penúrias da China, os exportadores no centro de fabricação industrial do Delta do Rio das Pérolas enfrentam uma escassez crônica de mão de obra e custos em alta.

Em uma pesquisa recente do Standard Chartered Plc, projetou-se que os salários na região vão aumentar 8,4 por cento neste ano, e mais de 85 por cento dos participantes disseram que a insuficiência de mão de obra é tão ruim quanto no ano passado.

Cerca de 11 por cento das companhias consultadas pretendem transferir fábricas para o exterior a fim de manter os custos baixos, e o Vietnã e o Camboja são os primeiros da lista de destinos preferidos.

Índia

Vietnã e Camboja? Não se o primeiro-ministro da Índia conseguir o que quer.

Anunciada em setembro, a campanha Fabricar na Índia, de Modi, busca atrair investimentos estrangeiros e aumentar a quota de fabricação industrial na terceira maior economia da Ásia para 25 por cento até 2022, frente aos atuais 18 por cento, uma porcentagem que praticamente não mudou desde 1947.

Conte a Foxconn Technology Group entre as empresas atraídas. Sua unidade FIH Mobile Ltd. disse que começará a montar smartphones no país neste ano.

No entanto, abundam os desafios. A notória burocracia da Índia contribuiu para que o país figurasse na 142º posição do último Índice de Facilidade para Fazer Negócios do Banco Mundial, que inclui 189 países – a Índia ficou abaixo da Etiópia e de Serra Leoa, e também da China, que ocupou o 90º lugar.

A burocracia é tal que normalmente são necessários 30 dias e 12 permissões para registrar uma empresa no centro industrial de Noida, perto de Nova Délhi. É um período de tempo três vezes maior do que em um país-membro da OCDE.

“O Estado chinês é capaz de articular e impulsionar um conjunto de metas de forma consistente”, disse Peter Martin, diretor associado da APCO Worldwide para a Índia.

“Para a Índia, igualar esse nível de consistência em seu impulso com políticas para a fabricação industrial é um desafio. E isso tem a ver com uma diferença fundamental nos sistemas políticos que se vincula estreitamente à comparação entre a democracia descentralizada da Índia e o Estado desenvolvedor de partido único da China”.

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