Rio de Janeiro busca sua Felicidade Interna Bruta
A premissa do FIB é a de que o crescimento econômico está integrado com o psicológico, o cultural e o espiritual
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2012 às 16h20.
Rio de Janeiro - Uma das grandes questões para o planejamento do futuro das cidades, principalmente naquelas em que há desigualdade social, é como integrar sua população garantindo qualidade de vida a todos. O Rio de Janeiro , cidade sede da Rio+20 – que discute, justamente, “O futuro que queremos” – enfrenta um desafio ainda maior.
Além das diferenças de classe, precisa lidar com níveis de violência excepcionais e um território controlado pelo crime. “No Rio de Janeiro, parece natural ter medo. A depressão é uma atitude coletiva, porque as pessoas são céticas quanto ao futuro e às possibilidade de construção de uma nova realidade”, disse Ricardo Henriques, economista e ex-secretário de Desenvolvimento Humano do governo do estado do Rio de Janeiro, durante o seminário FIB Rio – Um novo paradigma de bem-estar: desenvolvimento social e ambiental, realizado ontem na cidade.
Como explica Henriques, as agências públicas cariocas trabalham para retomar o controle territorial de 22 áreas da cidade, que abrigam cerca de 100 comunidades. Para ele, as políticas públicas implementadas na cidade, especialmente nas UPPs – Unidade de Polícia Pacificadoras, precisam se basear na ciência.
Também devem olhar para as comunidades, completamente heterogênias entre si, com uma visão para a participação de seus moradores e integrada entre os diversos setores que atuam na região, como educação, saúde e segurança. “Assim podemos construir outra sociedade que dê conta do tempo da urgência e que consiga reconfigurar o tecido social.
Hoje nossa sociedade é tão desigual que desperdiça talentos diariamente. Se todos tivessem o mesmo tratamento, teríamos melhores médicos, advogados e engenheiros”, afirmou.
A defesa de Henriques por ciência e empoderamento está em sintonia com os propósitos do FIB – Felicidade Interna Bruta*, um indicador que avalia o progresso de uma comunidade ou nação a partir da felicidade de seus habitantes.
O grau de satisfação da população é medido por nove dimensões – bem estar psicológico, educação, cultura, uso do tempo, meio ambiente, governança, vitalidade comunitária, padrão de vida e saúde. A premissa do FIB é a de que o crescimento econômico está integrado com o psicológico, o cultural e o espiritual. A conferência de hoje no Rio teve o objetivo de atrair a atenção da cidade para o tema e iniciar um projeto piloto local.
Wellington Nogueira, fundador do Doutores da Alegria, foi o mestre “sem cerimônia” do FIB Rio, que contou com a participação de Karma Ura, vice-presidente do Conselho Nacional do Butão; John Hellwell, professor de economia pela University of British Columbia, e Susan Andrews, coordenadora do FIB no Brasil (ao fundo)
Ciência da felicidade
Criado no Butão, pequeno país do Himalaia, com o apoio do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o FIB é baseado na Ciência Hedônica, que busca descobrir e conduzir o bem estar social. O índice é calculado a partir de um questionário global, que é adaptado por cada nação à sua realidade. As dimensões do índice não só ajudam a avaliar o nível de felicidade de uma população, como servem de referência para o governo melhorar a oferta de seus serviços.
“Normalmente o governo produz segurança, justiça e empregos, mas o mais importante é a meta de felicidade. Por isso, precisamos de indicadores que guiem para esse objetivo. Apesar de a felicidade ser experimentada pessoalmente, ela tem que ser produzida coletivamente. Um movimento pró felicidade através do estado é extremamente importante. Também devemos aprender com outras nações, comparando suas práticas na geração de bem estar”, disse Karma Ura, vice-presidente do Conselho Nacional do Butão.
O diagnóstico mundial da felicidade está no World Happiness Report, elaborado pelos economistas John Hellwell, Richard Layard e Jeffrey Sachs e que aponta, por exemplo, que a distribuição de renda é diferente da distribuição da felicidade em todo o mundo. “Foi realizado um número surpreendente de experiências que mostram que você faz mais para si próprio dando algo para outro do que dando para si mesmo.
Imagine como podemos usar isso para mudar as situações além do nosso círculo familiar, da nossa comunidade e da nossa nação”, disse Hellwell, professor de economia pela University of British Columbia do Canadá, que veio ao Rio de Janeiro para participar do seminário.
“A felicidade não é uma competição por recursos escassos, mas uma situação de vantagem mútua, porque você melhor a felicidade dos outros e melhora a sua própria”, complementou.
Se para Guimarães Rosa “infelicidade é uma questão de prefixo”, para o FIB é uma questão de estagnação social. Caso precisasse escolher uma única sensação que resulta em felicidade, Susan Andrews, coordenadora do FIB no Brasil, elegeria “pertencimento”. “O mais importante é a sensação de conexão com a sua comunidade.
Isso traz muito mais bem estar do que dinheiro no bolso”, afirmou. Na verdade, o dinheiro pode estar atrelado ao bem-estar. Mas como consequência, não como causa. Pessoas felizes, de acordo com Susan, têm melhor desempenho no trabalho, ajudam mais seus colegas, faltam menos, são líderes melhores, mais sociáveis, têm maior auto estima e ganham mais. “Felicidade é um bom negócio”, brincou.
Segundo Susan, na mesma época em que o PIB dos Estados Unidos triplicou, os americanos usaram 21 vezes mais plásticos, viajaram 25 vezes mais de avião, dobraram o número de carros na garagem, mas um em quatro americanos estava infeliz ou depressivo. A quantidade de divórcios e de suicídio entre adolescentes triplicaram, enquanto crimes violentos quadriplicaram.
Susan está certa de que o PIB não é uma boa métrica para medir progresso. “O ser humano tem um ponto de saturação com o plano material. Por isso, às vezes mais não é melhor, mais é demais. Por isso que a felicidade americana caiu. Passamos por um momento em que as pessoas estão sedentas por valores”, afirmou.
Fib no Brasil
Além de ser um indicador, o FIB também desenvolve metodologias locais para a promoção do bem-estar e do empoderamento social. Nos últimos três anos, foram aplicados projetos pilotos nas cidades de Angatuba, Itapetininga e Campinas, em São Paulo; Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e no núcleo rural Rajadinha, em Brasília. Nestas experiências, lideranças locais capacitadas, apelidadas de “felicitadores”, seguem a velha máxima “pensar global, agir local”, para melhorar as condições das comunidades em que estão inseridas. O Rio de Janeiro já bons exemplos em que se inspirar.
Rio de Janeiro - Uma das grandes questões para o planejamento do futuro das cidades, principalmente naquelas em que há desigualdade social, é como integrar sua população garantindo qualidade de vida a todos. O Rio de Janeiro , cidade sede da Rio+20 – que discute, justamente, “O futuro que queremos” – enfrenta um desafio ainda maior.
Além das diferenças de classe, precisa lidar com níveis de violência excepcionais e um território controlado pelo crime. “No Rio de Janeiro, parece natural ter medo. A depressão é uma atitude coletiva, porque as pessoas são céticas quanto ao futuro e às possibilidade de construção de uma nova realidade”, disse Ricardo Henriques, economista e ex-secretário de Desenvolvimento Humano do governo do estado do Rio de Janeiro, durante o seminário FIB Rio – Um novo paradigma de bem-estar: desenvolvimento social e ambiental, realizado ontem na cidade.
Como explica Henriques, as agências públicas cariocas trabalham para retomar o controle territorial de 22 áreas da cidade, que abrigam cerca de 100 comunidades. Para ele, as políticas públicas implementadas na cidade, especialmente nas UPPs – Unidade de Polícia Pacificadoras, precisam se basear na ciência.
Também devem olhar para as comunidades, completamente heterogênias entre si, com uma visão para a participação de seus moradores e integrada entre os diversos setores que atuam na região, como educação, saúde e segurança. “Assim podemos construir outra sociedade que dê conta do tempo da urgência e que consiga reconfigurar o tecido social.
Hoje nossa sociedade é tão desigual que desperdiça talentos diariamente. Se todos tivessem o mesmo tratamento, teríamos melhores médicos, advogados e engenheiros”, afirmou.
A defesa de Henriques por ciência e empoderamento está em sintonia com os propósitos do FIB – Felicidade Interna Bruta*, um indicador que avalia o progresso de uma comunidade ou nação a partir da felicidade de seus habitantes.
O grau de satisfação da população é medido por nove dimensões – bem estar psicológico, educação, cultura, uso do tempo, meio ambiente, governança, vitalidade comunitária, padrão de vida e saúde. A premissa do FIB é a de que o crescimento econômico está integrado com o psicológico, o cultural e o espiritual. A conferência de hoje no Rio teve o objetivo de atrair a atenção da cidade para o tema e iniciar um projeto piloto local.
Wellington Nogueira, fundador do Doutores da Alegria, foi o mestre “sem cerimônia” do FIB Rio, que contou com a participação de Karma Ura, vice-presidente do Conselho Nacional do Butão; John Hellwell, professor de economia pela University of British Columbia, e Susan Andrews, coordenadora do FIB no Brasil (ao fundo)
Ciência da felicidade
Criado no Butão, pequeno país do Himalaia, com o apoio do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o FIB é baseado na Ciência Hedônica, que busca descobrir e conduzir o bem estar social. O índice é calculado a partir de um questionário global, que é adaptado por cada nação à sua realidade. As dimensões do índice não só ajudam a avaliar o nível de felicidade de uma população, como servem de referência para o governo melhorar a oferta de seus serviços.
“Normalmente o governo produz segurança, justiça e empregos, mas o mais importante é a meta de felicidade. Por isso, precisamos de indicadores que guiem para esse objetivo. Apesar de a felicidade ser experimentada pessoalmente, ela tem que ser produzida coletivamente. Um movimento pró felicidade através do estado é extremamente importante. Também devemos aprender com outras nações, comparando suas práticas na geração de bem estar”, disse Karma Ura, vice-presidente do Conselho Nacional do Butão.
O diagnóstico mundial da felicidade está no World Happiness Report, elaborado pelos economistas John Hellwell, Richard Layard e Jeffrey Sachs e que aponta, por exemplo, que a distribuição de renda é diferente da distribuição da felicidade em todo o mundo. “Foi realizado um número surpreendente de experiências que mostram que você faz mais para si próprio dando algo para outro do que dando para si mesmo.
Imagine como podemos usar isso para mudar as situações além do nosso círculo familiar, da nossa comunidade e da nossa nação”, disse Hellwell, professor de economia pela University of British Columbia do Canadá, que veio ao Rio de Janeiro para participar do seminário.
“A felicidade não é uma competição por recursos escassos, mas uma situação de vantagem mútua, porque você melhor a felicidade dos outros e melhora a sua própria”, complementou.
Se para Guimarães Rosa “infelicidade é uma questão de prefixo”, para o FIB é uma questão de estagnação social. Caso precisasse escolher uma única sensação que resulta em felicidade, Susan Andrews, coordenadora do FIB no Brasil, elegeria “pertencimento”. “O mais importante é a sensação de conexão com a sua comunidade.
Isso traz muito mais bem estar do que dinheiro no bolso”, afirmou. Na verdade, o dinheiro pode estar atrelado ao bem-estar. Mas como consequência, não como causa. Pessoas felizes, de acordo com Susan, têm melhor desempenho no trabalho, ajudam mais seus colegas, faltam menos, são líderes melhores, mais sociáveis, têm maior auto estima e ganham mais. “Felicidade é um bom negócio”, brincou.
Segundo Susan, na mesma época em que o PIB dos Estados Unidos triplicou, os americanos usaram 21 vezes mais plásticos, viajaram 25 vezes mais de avião, dobraram o número de carros na garagem, mas um em quatro americanos estava infeliz ou depressivo. A quantidade de divórcios e de suicídio entre adolescentes triplicaram, enquanto crimes violentos quadriplicaram.
Susan está certa de que o PIB não é uma boa métrica para medir progresso. “O ser humano tem um ponto de saturação com o plano material. Por isso, às vezes mais não é melhor, mais é demais. Por isso que a felicidade americana caiu. Passamos por um momento em que as pessoas estão sedentas por valores”, afirmou.
Fib no Brasil
Além de ser um indicador, o FIB também desenvolve metodologias locais para a promoção do bem-estar e do empoderamento social. Nos últimos três anos, foram aplicados projetos pilotos nas cidades de Angatuba, Itapetininga e Campinas, em São Paulo; Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, e no núcleo rural Rajadinha, em Brasília. Nestas experiências, lideranças locais capacitadas, apelidadas de “felicitadores”, seguem a velha máxima “pensar global, agir local”, para melhorar as condições das comunidades em que estão inseridas. O Rio de Janeiro já bons exemplos em que se inspirar.