Redução de meta de inflação é elogiada, mas embute risco
Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, diz que a mudança para 2019 já era esperada, mas a de 2020 foi novidade
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de junho de 2017 às 13h44.
Última atualização em 29 de junho de 2017 às 14h47.
São Paulo - O Conselho Monetário Nacional ( CMN ) decidiu hoje mudar, pela primeira vez desde 2005, o centro da meta de inflação no Brasil.
O Banco Central terá que perseguir um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,25% em 2019 e de 4% em 2020 com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A decisão foi unânime, de acordo com o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, diz em nota que a mudança para 2019 já era esperada, mas a de 2020 foi novidade.
O que abriu o caminho foi um decreto presidencial publicado na manhã desta quinta-feira (29) estendendo o horizonte de fixação da meta de 18 meses para 30 meses.
Para Schwartsman, a decisão relacionada ao futuro pode inclusive ajudar a manter a inflação baixa já no presente, já que há um horizonte na fixação de preços.
"Em um cenário onde o Banco Central consegue ancorar as expectativas, e então convence os fixadores de preços que a melhor aposta em relação à inflação futura é a meta, diminuir a meta empurra para baixo também a inflação atual", diz a nota.
A capacidade do Banco Central ancorar as expectativas não é um "poder mágico", continua o texto, e sim resultado da credibilidade conquistada pela equipe que assumiu há pouco mais de um ano.
Atualmente, os economistas consultados pelo Boletim Focus já esperam que a inflação feche 2017 em 3,48%, abaixo da meta de 4,5%.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, concorda que as metas são "críveis e atingíveis" diante da credibilidade da equipe e do ambiente benigno para a inflação.
"Acreditamos firmemente que entregar inflação baixa e estável é a melhor contribuição que o BC pode dar para criar condições para um crescimento e desenvolvimento sólido, sustentável e socialmente empoderador. A decisão de hoje do CMN é um passo à frente nesta direção", diz a nota.
Ele aponta que mesmo países latino-americanos tem metas mais baixas e com menor margem de tolerância, como Chile, Colômbia e México (meta de 3% com tolerância de 1 ponto percentual) e Peru (meta de 2% com tolerância de 1 ponto percentual).
Mas há uma ameaça: o fiscal. Se uma ampla reforma da Previdência não for aprovada, os gastos com pensões e aposentadorias ocuparão um espaço cada vez maior no Orçamento.
Isso tornaria inviável o teto de gastos e segundo Schwartsman, ressuscitaria o temor de "dominância fiscal" muito debatido no início de 2016.
Na coletiva de imprensa concedida hoje após a decisão, a equipe econômica tentou isolar a questão monetária da fiscal.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que as reformas abaixam a taxa de juros estrutural da economia, mas que "as metas de inflação serão cumpridas" independentemente disso.
"O BC nunca disse que não conseguiria entregar a meta sem a reforma, o BC vai entregar a meta, sim. A sinalização foi sobre a dosagem dos instrumentos”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Em outras palavras: para conseguir atingir a meta em um cenário onde o fiscal não colabora, os juros teriam que ficar mais altos e por mais tempo.
É grande a expectativa em relação à próxima reunião do Copom nos dias 25 e 26 de julho. O BC havia indicado redução no ritmo de corte de juros, atualmente em 1 ponto percentual, diante da crise política.
Mas o mercado continua relativamente calmo e a inflação em queda livre: há quem espere que o IPCA deve mostrar deflação em junho pela primeira vez em 11 anos.