Economia

Recessão americana chega ao fundo do poço, diz IESE

A bola de cristal segue opaca. Assim começa a edição de março do boletim de conjuntura econômica do IESE, escola de negócios da Universidade de Navarra, Espanha. Isso significa que está mais difícil do que nunca fazer previsões, e que não é possível vislumbrar a direção que a economia mundial vai tomar. O IESE, porém, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h59.

A bola de cristal segue opaca. Assim começa a edição de março do boletim de conjuntura econômica do IESE, escola de negócios da Universidade de Navarra, Espanha. Isso significa que está mais difícil do que nunca fazer previsões, e que não é possível vislumbrar a direção que a economia mundial vai tomar. O IESE, porém, apresenta alguns cenários do que pode estar por vir.

A primeira questão analisada no boletim diz respeito à recessão americana. Terá ela chegado ao fim? Os Estados Unidos tocaram o fundo do poço? Não é fácil saber, e o IESE apresenta dados e indicadores que apontam direções contrárias para a economia americana embora ela tenha crescido 0,2% no último trimestre do ano passado, a produção industrial caiu 5,9% em dezembro de 2001 (em relação ao mesmo mês do ano anterior).

O IESE afirma que tudo isso é normal nesta fase do ciclo pelo qual passa a economia americana: depois de entrar em recessão em março de 2001, sofreu um forte choque em 11 de setembro e agora começa a se recuperar à medida que as atividades retomam a normalidade mas isso acontece pouco a pouco. Em outras palavras, a recessão americana já tocou o fundo, talvez em novembro passado, talvez em janeiro deste ano. Mas, segundo o IESE, isso não quer dizer que se deve esperar uma recuperação brilhante e rápida.

O consumo é um dos fatores que ajudaram a manter a boa marcha da economia. Mas não se verá uma retomada rápida dessa variável, os níveis de um ano atrás não serão alcançados. A recessão, portanto, não está vencida, diz o IESE. Não se vê ainda a recuperação da indústria, que deixou de investir na ampliação da capacidade produtiva. Conclui o boletim: "Portanto, parece lógico esperar um ano não muito forte. Inclusive, com algum retrocesso depois de alguma vitória menor."

A Europa do euro

O segundo ponto discutido no boletim é o panorama econômico europeu. Segundo o IESE, na Europa do euro a situação não é muito diferente. Há indicadores de atividade que melhoraram, outras que pioraram. Isso tudo, porém, pode ser considerado passado. E o que diz o futuro? O que mostra então a bola de cristal?, pergunta-se o IESE. Ao que parece, encerrou-se a fase descendente do ciclo econômico mundial. Mas, novamente, os dados não apontam uma recuperação vigorosa.

Quanto às políticas econômicas, o IESE diz que o presidente George W. Bush está empenhado na recuperação americana, mas tem tido pouco êxito. Embora tenha aumentado os gastos públicos, só conseguiu até agora minimizar os prejuízos causados pelos atentados de 11 de setembro. A redução de impostos, por exemplo, está paralisada no Senado americano. Enquanto isso, na Europa, os governos têm sido menos ativos. Mas o IESE diz que nada indica que a situação pudesse estar melhor com o aumento do déficit público ou com a diminuição das taxas de juros. Medidas anti-recessão já foram tomadas e parecem suficientes até agora.

Locomotiva americana

Na segunda parte do boletim, o IESE analisa o papel dos mercados de capitais na crise econômica. É fato que a dependência do resto do mundo em relação aos Estados Unidos está maior do que nunca. O IESE diz que é preciso que a locomotiva americana volte a arrancar para que os Estados Unidos sigam importando bens e serviços e invistam em outros países. O ponto em questão é que a economia americana, por sua vez, depende enormemente do mercado de capitais. A interação entre os mercados financeiros e a economia real é maior do que nunca, afirma o IESE.

Se for observado o crescimento da economia americana e a evolução da bolsa na década de 90, o paralelismo é enorme. Naqueles anos, a economia cresceu graças ao forte aumento do consumo financiado, em parte, pelo endividamento familiar. As famílias se endividavam porque as taxas de juros baixavam e a bolsa subia. Isso fazia com que a porcentagem da dívida privada sobre a riqueza privada total se mantivesse em níveis aceitáveis.

Foi um período de crescimento real mas não ilimitado que culminou com a bolha financeira que acabou por estourar no ano passado. A situação de endividamento das famílias e das empresas dificulta, agora, a retomada rápida do crescimento. Não há dinheiro para gastar ou para investir. A situação do mercado de capitais tornou-se ainda mais complicada com a crise da Enron e de outras companhias. Os investidores alimentam agora uma desconfiança enorme, não sobre o futuro das empresas em si, mas sobre os valores contábies que são apresentados.

A conclusão do IESE é que a recessão atual é diferente das anteriores. A complexidade da crise financeira é grande, e seu impacto na economia real é indiscutível. É necessário, portanto, tomar o remédio amargo de aceitar a realidade: as expectativas de crescimento de muitas empresas nos Estados Unidos seguem, possivelmente, sobrevalorizadas e precisam de uma correção.

Leia o boletim na íntegra aqui (arquivo no formato PDF).

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