Alexandre Tombini também destacou avanços recentes, como a unificação do mercado de câmbio em 2005 e o fim da obrigatoriedade da cobertura cambial nas importações e exportações em 2006 (Marcello Casal Jr/ABr)
Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2011 às 20h56.
São Paulo - A perspectiva pouco benigna, segundo a visão de analistas, para a inflação doméstica no curto e médio prazo deve levar a um aumento na demanda pelas NTN-B nos próximos meses, mesmo com a possibilidade de mais quedas no juro básico à frente. E essa maior busca deve ocorrer já no próximo leilão do Tesouro Nacional, na terça-feira.
As Notas do Tesouro Nacional-série B (NTN-B) são títulos públicos cujo rendimento é composto por uma taxa de juros fixa --definida no momento da compra e hoje em torno de 6 por cento ao ano-- mais a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o regime de metas de inflação do governo.
"Acho que o mercado vai vir com uma demanda boa na terça...Esse aumento vai fazer com que as taxas recuem", afirmou o gerente da mesa de títulos públicos da corretora Icap, Ricardo Ramos. "O mercado está meio cético com relação à inflação, e aí vai buscar proteção nas NTN-B", acrescentou.
O Tesouro Nacional ofertará nesta terça-feira papéis com vencimento em 2014, 2016, 2020, 2030, 2040 e 2050, de acordo com o cronograma de leilões de setembro.
O IPCA subiu 0,37 por cento em agosto, acumulando em 12 meses alta de 7,23 por cento, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o indicador se distanciou ainda mais do teto da meta oficial de inflação, de 6,5 por cento.
A pressão inflacionária foi um dos motivos que levaram economistas a prever que a Selic seria mantida em 12,50 por cento ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, segundo pesquisa da Reuters. O Banco Central (BC), no entanto, surpreendeu e cortou a taxa em 0,5 ponto percentual.
Na ata da reunião, divulgada na véspera, o BC citou as perspectivas ruins para o cenário externo e seu consequente efeito desinflacionário para justificar o movimento na taxa que, para o mercado, vai continuar.
O mercado, pelo menos por ora, parece não ter "comprado" essa ideia. O último relatório Focus --que traz estimativas apuradas pelo BC junto a instituições financeiras-- mostrou aumento nos prognósticos para a inflação neste ano e também no próximo.
Segundo uma fonte do governo, "é razoável supor que, com a percepção (do mercado) de que a inflação ainda traz risco, os investidores pensem mais firme em procurar NTN-B". Segundo essa fonte, o governo poderia avaliar duas opções: aumentar a oferta desses papéis, sem buscar tanto prêmio menores, ou aproveitar a maior demanda para reduzir os prêmios sem elevar a quantidade de títulos à venda.
O aumento da demanda por NTN-B também mostra que já há uma elevação da chamada inflação implícita do papel, a projeção de preços calculada com base na procura pelo título.
De acordo com cálculos de Ramos, da Icap, a inflação implícita da NTN-B com vencimento em 2014 está em torno de 6,10 por cento, mais que os 5,70 por cento do dia 30, antes da queda da Selic, e próximo do pico atingido no dia 1o de setembro, de 6,30 por cento.
O aumento da oferta desse papel ao mercado, segundo os especialistas,também respalda a maior demanda por um "seguro" contra a inflação. Entre janeiro e agosto deste ano, o Tesouro Nacional ofertou, em leilões com duas etapas, 14,3 por cento a mais de NTN-B quando comparado aos oito primeiros meses de 2010. O taxa média, contudo, caiu para 6,27 por cento, contra 6,37 por cento.
"E deve cair mais", acrescentou o gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, Henrique de la Rocque.
Estratégia do governo
Para de la Rocque, a maior oferta de NTN-B pelo Tesouro neste ano também tem um componente estratégico para o governo, que preferiria aumentar a parcela de dívida pública com papéis que seriam menos custosos à frente.
"Se ele (o governo) acha que a inflação vai cair, vai convergir para a meta, então nada mais natural que querer elevar a fatia de títulos atrelados à inflação. Agora, vai haver problema se isso de fato não ocorrer", afirmou.
De acordo com o relatório da Dívida Pública do Tesouro Nacional referente a julho, o estoque de NTN-B no mercado está em 427,02 bilhões de reais, o equivalente a 25,73 por cento da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna.
O número mostra que houve um crescimento na participação das NTN-B no estoque de dívida pública. Entre 2008 e 2010, essa fatia estava em torno de 23 por cento, acima dos 19,78 por cento vistos em 2007.
Considerando a dívida mobiliária interna como um todo, os títulos com rentabilidade prefixada --como as Notas do Tesouro Nacional-série F (NTN-F)-- detinham a maior participação: 34,49 por cento em julho. Os papéis com rendimento flutuante --como as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), que têm a Selic como referência-- responderam por 32,61 por cento da dívida.