Economia

Questão Macro: inflação alta confunde, mas cenário para 2021 é favorável

Aceleração dos preços neste final de ano pressiona o índice no curto prazo, mas meta de 2021 deve ser alcançada sem grandes entraves

Álvaro Frasson, Fabiane Stefano e Arthur Mota apresentam Questão Macro a partir desta semana (Divulgação/Divulgação)

Álvaro Frasson, Fabiane Stefano e Arthur Mota apresentam Questão Macro a partir desta semana (Divulgação/Divulgação)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 16h45.

Última atualização em 9 de dezembro de 2020 às 17h02.

Os números da inflação têm chamado a atenção nos últimos meses. Só em novembro, o IPCA subiu 0.89%, a maior alta para o mês desde 2015, acima das expectativas do mercado, cuja mediana ficava em torno de 0,78%. Em outubro, o índice subiu ligeiramente menos (0,86%). Mas, paradoxalmente, a alta desses índices neste momento favorece um cenário de inflação dentro da meta de 3,75% em 2021.

"O nível da inflação vai terminar 2020 bem alto, e em dezembro devemos ver novamente algo na casa do 1% por conta do choque no preço da energia, que hoje está no seu patamar mais caro", explicou o economista Arthur Mota, da EXAME Research, no Questão Macro desta quarta, 9. "O que isso significa? Caso tenhamos algum problema de energia no ano que vem, o preço máximo da energia é o que está hoje — já está tudo precificado."

Segundo o economista, a tendência de alta se mantém no começo de 2021, jogando o acumulado em 12 meses do índice para a casa dos 6% em algum momento no primeiro semestre. "Mas, bem lá na frente, essa pressão começa a ceder, encerrando o ano perto do centro da meta. Haverá um grande desconforto em relação a esses números, até uma pressão sobre a autoridade monetária, mas o mercado já está contando com isso."

Nesta quarta, 9, o mercado aguarda ansioso a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que deve manter a taxa básica de juro a 2% a.a. A expectativa, portanto, se volta para o forward guidance, a sinalização dos juros para os próximos meses, já que desde a última reunião do órgão, há 45 dias, muita coisa mudou: Biden foi eleito nos Estados Unidos, pavimentando o caminho para um pacote fiscal trilionário, as vacinas estão cada vez mais próximas e a pandemia de covid-19 tem ganhado tração pelo mundo, inclusive no Brasil.

O Banco Central se preocupa com o impacto do avanço da pandemia na atividade econômica, mas vai aproveitar esse cenário global mais favorável para comprar um pouco mais de tempo, porque ele vê outros vetores acomodando esse impacto, como situação externa favorável e a chegada das vacina pelo menos para os grupos de risco e a situação externa favorável. Se a Selic permanecer em 2%, ele já está num patamar bastante estimulante para a economia.

Arthur Mota, economista da Exame Research

O andamento das pautas econômicas em Brasília, apesar de sempre moroso, continua no radar do mercado, que em 2020 aposta apenas na tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da PEC Emergencial, cuja prévia do relator foi divulgada nesta semana. A peça prevê a liberação de 200 bilhões de reais com a extinção dos fundos públicos, mas deixa em aberto a possibilidade de gastar esse montante com medidas emergenciais.

"Isso é muito ruim, porque o aumento da despesa primária aumenta o déficit e a expectativa da dívida pública", explica Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital. "O relator da PEC quis dizer o quê? Não vamos furar o teto, mas talvez sim. Tem um risco nessa PEC, e eu quero ver como o Banco Central vai reagir a ela."

Para Frasson, pautas como reforma tributária e o orçamento do próximo ano estão travadas pelos grandes embates políticos que elas geram nos bastidores. Mas que, apesar disso, existem algumas sinalizações positivas para a economia vindo do Congresso. "Ao menos as pautas microeconômicas, como o Marco Legal do Saneamento e a Lei da Cabotagem estão avançando", comentou o economista.

Esses e outros assuntos foram debatidos nesta tarde, no programa semanal Questão Macro, apresentado pelos economistas Arthur Maia, da EXAME Research, e Álvaro Frasson, do BTG Digital. A conversa é mediada pela jornalista Fabiane Stefano, editora de macroeconomia da EXAME. 

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:InflaçãoPolítica fiscalPolítica monetária

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor