Economia

Qual é o potencial econômico da paz com a Coreia do Norte?

Como ficam as ações na Coreia do Sul? Se a economia da Coreia do Norte se abrir, o que acontece com a Ásia? As questões foram tratadas em relatório do UBS

Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un 27/04/2018 Korea Summit Press Pool/Pool via Reuters (Korea Summit Press Pool/Reuters)

Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un 27/04/2018 Korea Summit Press Pool/Pool via Reuters (Korea Summit Press Pool/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 4 de maio de 2018 às 06h00.

Última atualização em 4 de maio de 2018 às 06h01.

São Paulo - As duas Coreias estão a caminho de uma paz duradoura? Ninguém sabe, mas há muito tempo que as perspectivas não eram tão positivas.

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, tiveram um encontro histórico no final de abril.

Entre sorrisos e apertos de mão, eles cruzaram suas respectivas fronteiras pela primeira vez desde o armistício de 1953 e se comprometeram com a “desnuclearização” da península.

Agora os investidores se perguntam se o processo pode impulsionar o mercado de ações na Coreia do Sul e catalisar uma abertura da economia norte-coreana. O tema foi tratado em relatório recente do banco UBS.

No caso das ações, o banco aponta que os ganhos seriam maiores entre as empresas com algum potencial de comercializar com a Coreia do Norte ou que se beneficiem diretamente de uma aproximação com a China, hoje uma espécie de mediadora das Coreias.

Mas a recomendação de Yong-suk Son, analista do banco, é "focar nos fundamentos, já que o impacto da geopolítica é frequentemente volátil e de fôlego curto".

Um acordo de paz de caráter permanente poderia diminuir de forma geral o risco, podendo levar a uma reavaliação do patamar das ações sul-coreanas.

Economia

No caso de repercussões macroeconômicas, o que conta é o contraste gigantesco entre as duas economias: a Coreia do Norte tem metade da população da Coreia do Sul, mas apenas 1,2% do seu PIB.

A economia norte-coreana é tão pequena que "mesmo em um cenário muito positivo, as repercussões potenciais do seu crescimento para outras economias na região provavelmente serão bem limitados no curto a médio prazo", diz a nota do economista Li Zeng.

Mas também há complementariedades. Um exemplo: "a Coreia do Sul está enfrentando desafios demográficos, enquanto a Coreia do Norte tem uma população relativamente bem educada cujo potencial provavelmente ainda não foi totalmente explorado".

Conheça as duas economias por meio de dados das Nações Unidas compilados pelo UBS:

Coreia do NorteCoreia do Sul
População25,5 milhões50,1 milhões
PIB em 2017 (em US$)16,3 bilhões1,4 trilhão
PIB per capita em 2017 (em US$)64827.397
Empregados na agricultura58,9%5,0%
Empregados na indústria19,3%24,7%
Empregados em serviços21,8%70,3%
Taxa bruta de matrícula (ensino primário)93,4%98,9%
Taxa bruta de matrícula (ensino médio)27,9%93,4%

Uma coisa é certa: nada sai mais caro do que uma guerra, tanto em termos humanos quanto materiais.

Em agosto de 2017, a consultoria britânica Capital Economics divulgou um relatório assinado por Gareth Leather, economista sênior para Ásia, com estimativas para a economia em caso de conflito.

A Coreia do Sul responde por cerca de 2% do PIB global. Se seu PIB cair pela metade, o do mundo cai 1%. Não é um exagero: na Síria, por exemplo, a guerra já derrubou o PIB em mais de 60%.

O mais devastador conflito em termos econômicos desde a Segunda Guerra Mundial foi justamente a Guerra da Coreia (1950-1953), que matou 1,2 milhão de pessoas e derrubou o PIB do país em 80%.

Também haveria reflexos nas cadeias de valor globais. A Coreia do Sul é sede das três maiores fabricantes de navios do mundo e de empresas como Samsung e LG, além de ser o maior produtor mundial de telas de cristal líquido.

No caso de uma posterior unificação, a estimativa oficial da Coreia do Sul é que reconstruir a economia da vizinha e evitar uma migração em massa custaria US$ 1 trilhão – duas ou três vezes o custo estimado da reunificação alemã.

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