Lira turca: queda da moeda representa o maior desafio econômico para o país de Recep Tayyip Erdogan desde a crise financeira de 2001 (Kerim Okten/Bloomberg)
AFP
Publicado em 13 de agosto de 2018 às 17h25.
A queda vertiginosa da moeda turca, a lira, frente ao dólar representa o maior desafio econômico para a Turquia de Recep Tayyip Erdogan desde a crise financeira de 2001.
Veja que as razões desta queda são tanto conjunturais como estruturais.
Em 10 de agosto, que os economistas já batizaram como "sexta-feira negra", a lira perdeu 16% de seu valor frente ao dólar, uma queda acelerada pelo tuíte de Donald Trump anunciando sua intenção de duplicar as tarifas sobre a importação de aço e alumínio turcos.
Erdogan tentou nesta segunda-feira tranquilizar os mercados e afirmou que os fundamentos da economia turca são "sólidos".
Os economistas, entretanto, estimam que, além das políticas econômicas do governo, é preciso buscar outras explicações para as dificuldades da Turquia, 17ª economia mundial.
No começo de agosto, os Estados Unidos impuseram sanções contra dois ministros de Erdogan em protesto pela prisão de um pastor americano. Ancara, por sua vez, aplicou medidas similares.
Esta crise entre dois membros importantes da Otan, a mais grave em 40 anos, desestabilizou os investidores e provocou uma espetacular queda da lira turca frente ao dólar na semana passada.
As sanções dos Estados Unidos "secam os fluxos de capitais" em direção à Turquia, apontou a Capital Economics.
Antes da crise com os Estados Unidos, os economistas anunciavam uma iminente tormenta financeira. Os especialistas consideram que Erdogan antecipou em junho as eleições, previstas para 2019, para tentar esquivá-la.
A tensão entre Ancara e Washington só fez "exacerbar" uma crise econômica emergente, explica Paul T. Levin, diretor do Instituto de Estudos Turcos da Universidade de Estocolmo.
Os problemas estruturais da Turquia se refletem em uma forte inflação, que em julho chegou a quase 16% interanual, e um déficit das contas correntes que não para de aumentar.
Desde a sua chegada ao poder em 2003, Erdogan construiu grande parte de sua popularidade a partir de um elevado crescimento e de colossais projetos de infraestrutura.
Os economistas descrevem o presidente turco como um partidário do "crescimento a qualquer preço", começando com um forte endividamento.
Em muitas ocasiões, as teses defendidas por Erdogan provocam surpresas. Foi o caso de quando ele disse que baixar as taxas de juros reduz a inflação, enquanto a maioria dos economistas afirma o contrário.
"Era evidente há muito tempo (...) que o mau governo econômico acabaria tendo consequências", assegura Levin.
O Banco Central da Turquia em teoria deve ser independente, mas muitos economistas acreditam que está cada vez está sob pressão de Erdogan.
Sua decisão de não aumentar suas taxas de juros na semana passada alarmou os mercados.
Nesta segunda-feira, o Banco Central anunciou uma série de medidas para tranquilizar os investidores, entre elas a que daria toda liquidez necessária às entidades bancárias.
"As medidas em relação à liquidez não atacam o problema principal que é a queda da lira", assegura Konstantinos Anthis, analista para ADS Securities.
Após as eleições de junho, a Turquia passou a um sistema "hiperpresidencial" que concentra nas mãos do chefe de Estado todos os poderes executivos.
Erdogan também nomeou como ministro do Tesouro e das Finanças seu genro, Berat Albayrak, que tem pouca experiência.
"Sem dúvida, é a ausência de uma resposta rápida, firme e racional por parte das autoridades turcas o que enviou a lira ao abismo", explica Levin.