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Protecionismo ameaça nações emergentes, afirma Lula

Em entrevista ao Wall Street Journal, o presidente citou como exemplo de fechamento de barreiras uma cláusula recém-aprovada nos EUA

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2009 às 16h26.

A crítica ao protecionismo voltou a ser o tema principal do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no exterior. Em entrevista ao periódico nova-iorquino Wall Street Journal (WSJ), publicada nesta quarta-feira (11), Lula afirmou que a onda recente de protecionismo por parte dos países ricos ameaça a economia das nações emergentes.

“Não podemos aceitar a idéia de que, por irresponsabilidade dos banqueiros e de alguns poucos líderes, que não atuaram como reguladores, o resto do mundo acabe pagando a conta, especialmente os mais pobres”, afirmou o presidente, numa tradução livre das aspas publicadas pelo WSJ.

O jornal explica que Lula teria citado como exemplo de protecionismo atual a cláusula Buy American, mesmo depois de atenuada. A cláusula é parte do pacote de estímulo à economia aprovado pelo Congresso americano em fevereiro e previa, em sua versão inicial, que os projetos financiados pelo pacote só poderiam usar produtos manufaturados, ferro e aço produzidos nos Estados Unidos. A regra foi modificada, mais tarde, para se adequar às regras internacionais de comércio, mas continuou sendo alvo de críticas de países como Brasil e China.

Entre elas, o Brasil pretende incluir a retomada das negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o compromisso de evitar novas formas de fechamento dos mercados. O país também pretende pôr em pauta a tentativa de aumentar a regulação do sistema financeiro e o pedido de que as nações mais ricas aumentem o fluxo de crédito para exportações por parte das economias menos desenvolvidas.

Aliado dos EUA?

O Wall Street Journal afirma que o Brasil é um defensor “improvável” do livre comércio, já que impõe “altas tarifas de importação” para bens que vão de computadores a automóveis, e se opôs aos esforços dos EUA para criar “um gigantesco acordo de livre comércio no Ocidente”, sem especificar que acordo seria esse.

No entanto, o texto ressalta que o governo brasileiro tem se esforçado para transformar o país num interlocutor dos países pobres em fóruns internacionais e que o interesse dos EUA em fortalecer relações com o país é “crescente”.

Para o WSJ, o Brasil se beneficia das novas reservas de petróleo e da capacidade de se transformar num interlocutor dos EUA com a América Latina, num momento em que as relações americanas com países como Venezuela, Bolívia e Equador vão de mal a pior.

Lula teria dito aos jornalistas que tem insistido com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para baixar o tom do discurso anti-americano e tentar uma retomada das relações com os EUA. Em troca dessa intermediação, o governo Obama se comprometeria a acabar como embargo comercial a Cuba.

Discurso recorrente

A indisposição de Lula com o protecionismo nos países desenvolvidos tem sido assunto recorrente dos discursos presidenciais, especialmente nos contatos com políticos e jornalistas estrangeiros. Graças à postura de defensor do livre comércio, Lula já estaria conquistando dividendos políticos no exterior.

Na última terça-feira, Lula e o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, fizeram declarações conjuntas de que os países que adotam o protecionismo acabam por afundar sua própria economia.

Já na semana passada, num encontro realizado em São Paulo com o primeiro-ministro holandês Jan Peter Balkenende, o presidente disse aos repórteres que o fechamento de barreiras poderia levar a economia mundial ao caos, e não à solução.

No mesmo dia do encontro, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, elogiou o Brasil por seu esforço na luta pelo livre comércio, após a intensificação da crise global.

“Se fosse para dar um prêmio por esse período, eu penso que o presidente Lula o teria”, afirmou Lamy, segundo agências internacionais.

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