Economia

Procuradores da Fazenda se rebelam contra Guedes e ameaçam deixar cargos

Eles ameaçam entregar todos os cargos e parar o funcionamento do órgão se Guedes nomear Marcelo de Siqueira para comandar a Procuradoria-Geral da Fazenda

Guedes: a PGFN é responsável por atuar na cobrança judicial das dívidas que as empresas e pessoas físicas têm com a União (Fernando Frazão Agencia Brasil/Agência Brasil)

Guedes: a PGFN é responsável por atuar na cobrança judicial das dívidas que as empresas e pessoas físicas têm com a União (Fernando Frazão Agencia Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 11h24.

Brasília — Nem mesmo assumiu o cargo, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, já enfrenta uma rebelião dos procuradores da Fazenda Nacional.

Eles ameaçam entregar todos os cargos de chefia e parar o funcionamento do órgão se Guedes nomear o atual diretor do BNDES Marcelo de Siqueira para comandar a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

Órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, a PGFN é responsável por atuar na cobrança judicial das dívidas que as empresas e pessoas físicas têm com a União.

A PGFN também dá pareceres jurídicos sobre as decisões do Ministério da Fazenda, que será incorporado à nova pasta da Economia.

Os procuradores alegam que Siqueira não é funcionário da PGFN e, portanto, não teria nenhum conhecimento da área para comandar o órgão. A categoria compara a escolha de Siqueira como a indicação de um "general do Exército para comandar a Marinha".

Segundo o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, apurou, pelo menos 80 procuradores já anunciaram à equipe de transição que vão deixar o cargo assim que Guedes confirmar a indicação de Siqueira.

O presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), Achiles Frias, disse, porém, que são quase 300 procuradores com cargos em comissão que vão entregar os cargos. Eles prometem partir para o confronto e boicote de Siqueira. No total, são 2.100 procuradores em todo o País.

"Assim que Siqueira for nomeado, ninguém vai trabalhar com ele. Não vai ter ninguém para trabalhar com ele", disse Frias. Segundo ele, todos os procuradores vão entregar os cargos de chefia.

"Eles não se sentirão confortáveis para trabalhar com uma pessoa que não sabe o trabalho que nós fazemos", disse. A categoria não tem restrições a nomes desde que seja um procurador da PGFN, afirmou.

Frias lembra que, depois de um período de crise em 2015, quando dois procuradores caíram em menos de seis meses, a procuradoria entrou numa fase de tranquilidade. O órgão nesse período conseguiu evitar perda de R$ 2 trilhões para a União, segundo o sindicato.

Há praticamente duas décadas, a chefia da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional é ocupada por um procurador da Fazenda Nacional (PFN). A categoria vê como um retrocesso uma mudança nessa tradição.

Procurada, a equipe de Guedes não quis comentar. Os procuradores votaram para definir a entrega dos cargos; 86% foram favoráveis ao movimento.

Receita

Além dos problemas com PGFN, o time de Guedes enfrenta resistências na Receita Federal. Uma das categorias com maior poder de pressão do governo federal, com mobilizações históricas que afetaram a arrecadação e os despachos aduaneiros em portos e aeroportos, os auditores da Receita não gostaram da decisão de Guedes de colocar o órgão no terceiro escalão, sob o comando de Marcos Cintra, futuro secretário-geral de Arrecadação.

Há uma preocupação também de perda de influência na formulação da política tributária, movimento que já foi admitido nos bastidores por integrantes da equipe de Guedes.

O futuro ministro ainda não anunciou o nome do novo secretário da Receita. O atual comandante da Receita, Jorge Rachid, teve reuniões com a equipe de Guedes.

Ele foi cotado a permanecer no cargo, mas Guedes avalia outros nomes. Um dos cotados é o secretário adjunto, Paulo Ricardo Cardoso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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