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Problemático resgate do Chipre deixa novamente euro em xeque

A Comissão Europeia colocou nesta quarta-feira nas mãos de Nicósia a formulação de um plano alternativo

O presidente do Chipre Nicos Anastasiades: a economia cipriota só representa 0,2% do PIB da eurozona, mas essa ajuda de 10 bilhões de euros significa metade do produto interno produto do país. (REUTERS/Eric Vidal)
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Da Redação

Publicado em 20 de março de 2013 às 14h09.

Bruxelas - O problemático resgate do Chipre se transformou na última crise da eurozona, e a Comissão Europeia colocou nesta quarta-feira nas mãos de Nicósia a formulação de um plano alternativo para o país sair de uma situação que deixa novamente em xeque o euro, segundo advertem os analistas.

"O Conselho segue preparado para facilitar soluções e prossegue seus contatos com o Chipre, outros Estados-membros no Eurogrupo, instituições europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI)", disse hoje o porta-voz comunitário Olivier Bailly após a rejeição do Parlamento cipriota ao resgate revisado.

No entanto, Bailly deixou claro que o Chipre deve "apresentar um cenário alternativo que respeite o critério da sustentabilidade da dívida e os parâmetros financeiros correspondentes", que estabelecem uma ajuda de até 10 bilhões de euros e uma contribuição do país de 5,8 bilhões.

O analista Zsolt Darvas, do centro de estudos Bruegel, em Bruxelas, qualificou hoje de "perigoso" a rejeição do Parlamento ao resgate modificado (que excluía a taxação dos depósitos inferiores a 20.000 euros) porque "o que está em jogo é nada mais nada menos do que o colapso total do sistema bancário cipriota e uma possível saída descontrolada do euro".

Já o grupo de estudo europeu Open Europe advertiu que a rejeição "poderia pôr em dúvida a permanência do Chipre na eurozona", na qual poucos acreditavam que sanear a economia do país seria tão difícil.

A economia cipriota só representa 0,2% do PIB da eurozona, mas essa ajuda de 10 bilhões de euros significa metade do produto interno produto do país. Já os ativos do sistema bancário do Chipre representam oito vezes seu PIB.


Aos riscos econômicos se somaram agora problemas políticos e possíveis consequências "explosivas", segundo a Open Europe.

Como cenário de fundo está a polêmica decisão do Eurogrupo de romper com um tabu inimaginável ao envolver os cidadãos nas perdas dos bancos.

Na cúpula do G8, realizada em Deauville (França), em 2010, a Alemanha e a França concordaram que os bancos deveriam participar de potenciais reestruturações de dívida, uma situação que com a crise grega foi reconhecida como erro, mas que agora voltam a cometer, apontam os analistas.

Darvas argumentou que não é contrário ao imposto sobre as poupanças, porque sem o envolvimento dos cidadãos a "ajuda financeira do Chipre chegaria a quase 100% de seu PIB", mas ressaltou que a taxação não deveria abranger os depósitos com menos de 100.000 euros, somente os grandes correntistas, muitos deles russos.

Os analistas das duas instituições advertem que nesta situação há poucas alternativas e menos tempo para encontrar uma saída. "Sem uma solução rápida e possível, haverá uma fuga de depósitos no Chipre no primeiro dia que os bancos abrirem", previu Darvas.

Sem a contribuição das poupanças, o Chipre teria dificuldades para reunir os 5,8 bilhões de euros exigidos pela eurozona, por isso uma ideia seria que os 17 países que utilizam a moeda forneçam mais verbas, segundo os analistas.


Nicósia contava com arrecadar 1,3 bilhão de euros com o imposto sobre as contas com até 100.000 euros. Se as negociações forem prolongadas, o Banco Central Europeu também enfrentaria a situação complicada de ter de decidir se segue ou não apoiando com liquidez um sistema bancário quase quebrado.

Se a Rússia entrasse em cena, "o Chipre teria que pagar provavelmente um alto preço" por sua ajuda, assinalou Darvas, que aponta para uma possível compensação a Moscou em forma do controle sobre jazidas de gás em águas cipriotas e as "consequências geopolíticas" que isto significaria.

Raoul Ruparel, da Open Europe, também acredita que interessa a Moscou ajudar o Chipre para reduzir as perdas sobre os depósitos de cerca de 20 bilhões de euros de russos na ilha, mas concorda que a moeda de troca que Nicósia teria que oferecer não agrada a UE, que não ia querer ver um dos seus membros tão ligado com a Rússia.

No entanto, apontam que é justamente isso que poderia fortalecer a posição negociadora do Chipre com a eurozona.

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Bruxelas - O problemático resgate do Chipre se transformou na última crise da eurozona, e a Comissão Europeia colocou nesta quarta-feira nas mãos de Nicósia a formulação de um plano alternativo para o país sair de uma situação que deixa novamente em xeque o euro, segundo advertem os analistas.

"O Conselho segue preparado para facilitar soluções e prossegue seus contatos com o Chipre, outros Estados-membros no Eurogrupo, instituições europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI)", disse hoje o porta-voz comunitário Olivier Bailly após a rejeição do Parlamento cipriota ao resgate revisado.

No entanto, Bailly deixou claro que o Chipre deve "apresentar um cenário alternativo que respeite o critério da sustentabilidade da dívida e os parâmetros financeiros correspondentes", que estabelecem uma ajuda de até 10 bilhões de euros e uma contribuição do país de 5,8 bilhões.

O analista Zsolt Darvas, do centro de estudos Bruegel, em Bruxelas, qualificou hoje de "perigoso" a rejeição do Parlamento ao resgate modificado (que excluía a taxação dos depósitos inferiores a 20.000 euros) porque "o que está em jogo é nada mais nada menos do que o colapso total do sistema bancário cipriota e uma possível saída descontrolada do euro".

Já o grupo de estudo europeu Open Europe advertiu que a rejeição "poderia pôr em dúvida a permanência do Chipre na eurozona", na qual poucos acreditavam que sanear a economia do país seria tão difícil.

A economia cipriota só representa 0,2% do PIB da eurozona, mas essa ajuda de 10 bilhões de euros significa metade do produto interno produto do país. Já os ativos do sistema bancário do Chipre representam oito vezes seu PIB.


Aos riscos econômicos se somaram agora problemas políticos e possíveis consequências "explosivas", segundo a Open Europe.

Como cenário de fundo está a polêmica decisão do Eurogrupo de romper com um tabu inimaginável ao envolver os cidadãos nas perdas dos bancos.

Na cúpula do G8, realizada em Deauville (França), em 2010, a Alemanha e a França concordaram que os bancos deveriam participar de potenciais reestruturações de dívida, uma situação que com a crise grega foi reconhecida como erro, mas que agora voltam a cometer, apontam os analistas.

Darvas argumentou que não é contrário ao imposto sobre as poupanças, porque sem o envolvimento dos cidadãos a "ajuda financeira do Chipre chegaria a quase 100% de seu PIB", mas ressaltou que a taxação não deveria abranger os depósitos com menos de 100.000 euros, somente os grandes correntistas, muitos deles russos.

Os analistas das duas instituições advertem que nesta situação há poucas alternativas e menos tempo para encontrar uma saída. "Sem uma solução rápida e possível, haverá uma fuga de depósitos no Chipre no primeiro dia que os bancos abrirem", previu Darvas.

Sem a contribuição das poupanças, o Chipre teria dificuldades para reunir os 5,8 bilhões de euros exigidos pela eurozona, por isso uma ideia seria que os 17 países que utilizam a moeda forneçam mais verbas, segundo os analistas.


Nicósia contava com arrecadar 1,3 bilhão de euros com o imposto sobre as contas com até 100.000 euros. Se as negociações forem prolongadas, o Banco Central Europeu também enfrentaria a situação complicada de ter de decidir se segue ou não apoiando com liquidez um sistema bancário quase quebrado.

Se a Rússia entrasse em cena, "o Chipre teria que pagar provavelmente um alto preço" por sua ajuda, assinalou Darvas, que aponta para uma possível compensação a Moscou em forma do controle sobre jazidas de gás em águas cipriotas e as "consequências geopolíticas" que isto significaria.

Raoul Ruparel, da Open Europe, também acredita que interessa a Moscou ajudar o Chipre para reduzir as perdas sobre os depósitos de cerca de 20 bilhões de euros de russos na ilha, mas concorda que a moeda de troca que Nicósia teria que oferecer não agrada a UE, que não ia querer ver um dos seus membros tão ligado com a Rússia.

No entanto, apontam que é justamente isso que poderia fortalecer a posição negociadora do Chipre com a eurozona.

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