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Investidores estrangeiros estão sentindo amor pelo Brasil

Investidores estrangeiros chegam ao país atraídos por algo que nem impostos altos podem tirar: consumidores jovens cada vez mais educados e prósperos

Jobs: ele disse não a loja da Apple no Brasil, mas a Apple mudou de ideia (Justin Sullivan/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2014 às 15h33.

12 de junho – Não, declarou Steve Jobs. A Apple Inc. não abriria uma loja no Brasil, com sua taxação “maluca” e "superalta”. Era 2010, e Jobs estava escrevendo francamente a um funcionário do Rio de Janeiro .

Quatro anos depois, o sucessor de Jobs tinha uma mensagem diferente para os brasileiros.

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“Obrigado a todos que visitaram nossa nova loja”, escreveu o CEO Tim Cook no Twitter em fevereiro, depois que 1.700 pessoas lotaram um shopping do Rio para a inauguração da primeira loja da Apple na América Latina. “Somos brasileiros, com muito orgulho, com muito amor”, cantavam seus funcionários de camisas azuis, adaptando uma música ouvida em estádios e bares durante jogos da Seleção.

A Apple é uma de muitas marcas estrangeiras que estão sentindo amor pelo Brasil – ainda que os brasileiros, atolados em uma depressão econômica, não estejam sentindo o mesmo.

Enquanto o país sedia a Copa do Mundo deste ano e se prepara para os Jogos Olímpicos em 2016, o otimismo que o levou a se candidatar a sediar os dois eventos esportivos mais famosos do planeta se evaporou, informará a Bloomberg Markets na sua edição de julho e agosto de 2014.

A inflação e o crescimento cambaleante estão pressionando a nova classe média do Brasil, cuja raiva é tão intensa e abrangente que entre suas metas está a própria Copa – algo impressionante em um país que é a definição de amor pelo futebol.

Manifestantes vaiaram a Seleção, o troféu da Copa e a presidente Dilma Rousseff, responsabilizada pelos brasileiros por gastar extravagantemente em estádios e negligenciar serviços públicos básicos.

Investidores estrangeiros

Investidores estrangeiros ainda vêm, atraídos por algo que nem impostos altos podem tirar: consumidores jovens cada vez mais educados e prósperos. Companhias tão diversas quanto a Forever 21 Inc., conhecida por modas baratas e alegres, e a montadora de veículos de luxo Bayerische Motoren Werke AG se estabelecerão neste ano.

Pode ser difícil achar brasileiros comuns que concordem com essas empresas, em meio a informes de manifestantes bombardeando a polícia com pedras – ou, durante um confronto em maio, arremessando flechas – e reclamações generalizadas contra a corrupção pública.

Quando o País ganhou o direito a sediar ambos os eventos esportivos na década passada, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Lula para todos os brasileiros – foi aclamado como milagreiro.

O ex-líder sindical chefiou o País durante um boom épico nos seus oito anos na presidência, entre 2003 e 2010. O índice acionário de referência, o Ibovespa, cresceu seis vezes, e o crescimento econômico anual alcançou até 7,5 por cento.

Isto permitiu a Lula transferir muito dinheiro a seu ambicioso programa Bolsa Família, que dá a brasileiros de baixa renda um estipêndio mensal em troca por enviarem seus filhos à escola e ajudou a reduzir a taxa de pobreza pela metade.

Os brasileiros sentem saudades desses dias atualmente. O crescimento econômico se reduziu a apenas 2 por cento anual, e o mercado de ações declinou mais de 20 por cento nos três anos sob Dilma, chefe da Casa Civil no governo de Lula.

Longe de destacar as fortalezas do Brasil, a Copa do Mundo está revelando uma fraqueza fundamental. Lula prometeu que os projetos dos jogos dariam grande impulso a investimentos em melhorias no transporte, e Dilma promoveu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que revigoraria a economia.

Em vez disso, os US$ 3,6 bilhões gastos em novos estádios quase quadruplicaram as estimativas iniciais. Outros projetos se atrapalharam: Contas Abertas, organização que trabalha pela transparência do governo, disse em abril que somente 12 por cento dos projetos de obras públicas planejados tinham sido completados. Um trem-bala prometido entre o Rio e São Paulo foi arquivado.

Classe média

Conhecido há tempos pela mistura entre riqueza fabulosa e pobreza calamitosa, agora o Brasil tem uma classe média com 109 milhões de membros, segundo a empresa de pesquisa Data Popular. A Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo define a classe média como aquela com média de renda per capita mensal dentre R$ 291 (US$ 124) e R$ 1.019, segundo dados de meados de 2012.

Esses consumidores são uma bênção para empresas brasileiras e internacionais. Depois que a média de renda mensal quase dobrou entre 2006 e 2012, as famílias brasileiras puderam gastar em mais do que nos produtos básicos.

As vendas de comida empacotada subiram 9 por cento por ano no País nos últimos cinco anos, e a indústria poderia adicionar US$ 75 bilhões em vendas até 2018, estima Sean Walker, presidente para a América Latina da General Mills Inc., a fabricante dos cereais Cheerios, com sede em Minneapolis.

O país também tem fraquezas fundamentais, segundo estimativas do Banco Mundial, e não está abordando-as com urgência. No que tange à facilidade para fazer negócios, o banco coloca o Brasil 116° de 189 países; em 2006, era 119°. Este dado reflete uma burocracia bizantina em um país com fama de protecionista. Como reza um ditado português, “para inglês ver”.

Originalmente, a frase fazia referência às leis de abolição da escravatura aprovadas pelo Brasil no século 19° sob pressão da Grã-Bretanha; exprime-se o sentido de que algumas políticas são só encenação.

Devido aos impostos e às taxas de que reclamava Jobs, o iPhone 5 vendido pela Apple no Rio – anunciado em cartazes com as cores amarela e verde do Brasil e o slogan “que bonito é” – é o mais caro do mundo, a US$ 1.257, comparado com US$ 649 nos EUA.

Em março, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, falou com estudantes de Economia em uma universidade de São Paulo. Ele defendeu as políticas do seu governo e o campo a favor dos investimentos.

O Brasil superou a crise financeira de 2008 melhor do que a maioria das principais economias e engrossou as reservas de moeda estrangeira para mais de US$ 370 bilhões, disse ele. Mantega apontou para os 20 milhões de empregos criados desde 2003.

Ele disse que o gasto em infraestrutura poderia ajudar o crescimento a alcançar 4 por cento anual durante os próximos oito anos.

Essa última alegação é conspicuamente otimista: economistas consultados pela Bloomberg predizem um crescimento de 1,8 por cento em 2014, de 2 por cento em 2015 e de 2,7 por cento em 2016.

Se Mantega tiver razão, então que bonito é mesmo para a Apple e Tim Cook. Caso os pessimistas e o povo brasileiro estejam sendo mais realistas, Steve Jobs poderia acabar tendo razão de novo.

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