Pessoas caminham na beira do lago Jackson em Jackson Hole, no Wyoming, nos Estados Unidos (David Paul Morris/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 23 de agosto de 2018 às 17h31.
Última atualização em 23 de agosto de 2018 às 18h38.
As férias de verão nos principais bancos centrais terminam nesta semana. Seus líderes se encontrarão na sexta-feira e no sábado durante o simpósio anual do Federal Reserve, em Jackson Hole, no Estado americano de Wyoming.
O presidente do Fed, Jerome Powell, discursa na sexta de manhã. Investidores esperam que ele esclareça diversas questões, como a trajetória provável dos juros nos EUA, o plano para o balanço patrimonial da instituição e a visão dele sobre a turbulência nos mercados emergentes.
O escritório regional do Fed em Kansas City, anfitrião do evento, divulgará a lista de palestrantes e participantes na noite de quinta-feira. O tema oficial é o impacto econômico de companhias gigantes como a Amazon.com.
A expectativa é que o Fed eleve a taxa básica de juros dos EUA pela terceira vez no ano em setembro, mas um quarto acréscimo em dezembro é considerado menos provável. Também não se sabe até que ponto o juro pode subir antes que o aperto monetário seja pausado.
Powell deixou esse quadro ainda mais nebuloso em julho, quando disse a parlamentares que elevações graduais nos juros eram adequadas “por ora”.
O economista-chefe para os EUA do Barclays, Michael Gapen, espera que o encontro produza alguma informação atualizada sobre o plano do Fed para a redução do balanço patrimonial. Esse processo está diminuindo o nível das reservas no sistema bancário e há indícios de que esteja afetando a capacidade do Fed de administrar a taxa básica de juros.
O estresse em mercados emergentes, especialmente na Turquia, deve ser tema de discussões paralelas durante o encontro. No entanto, economistas acreditam que, a menos que as condições financeiras globais piorem consideravelmente, o Fed não adiará a elevação dos juros em setembro.
“Até que isso represente uma ameaça próxima à perspectiva econômica nos EUA, o Fed dificilmente deixará de fazer o que é adequado com base nos fundamentos domésticos”, afirmou Carl Tannenbaum, economista-chefe da Northern Trust, em Chicago.
Além das preocupações com mercados emergentes, o alastramento de disputas comerciais e os sinais de desaceleração do crescimento na China trazem riscos à expansão global.
O Banco Central Europeu definiu uma trajetória relativamente clara para a política monetária ao longo do próximo ano. O plano é suspender as compras de títulos no final do ano e manter os juros nos menores níveis históricos “pelo menos durante o verão de 2019”. O presidente do BCE, Mario Draghi tem alertado que incertezas globais “proeminentes” são o principal risco ao forte avanço econômico da região.
O Banco do Japão fez em julho o ajuste mais significativo na política monetária em dois anos e ainda está avaliando a reação do mercado. O comandante Haruhiko Kuroda avisou que o BC vai calibrar as operações no mercado de títulos nos próximos meses para permitir a alta dos rendimentos dos papéis de 10 anos.
Já o Banco da Inglaterra vem lidando com as implicações da saída do Reino Unido da União Europeia. Sem grandes progressos na negociação de um relacionamento comercial com a UE no futuro, o banco central britânico precisa fazer planos para lidar com uma potencial saída difícil do bloco (possibilidade conhecida como “hard Brexit”).
As discussões formais e os estudos apresentados durante o simpósio em Jackson Hole serão voltados para o tema oficial: o aumento da concentração de mercado nas economias desenvolvidas.
Com menos empresas controlando fatias maiores de diversos setores, a pergunta é se essa concentração diminuirá a concorrência e trará consequências negativas para consumidores, trabalhadores e a economia como um todo.