Economia

Previdência e eleição 2018 barram otimismo maior com privatização

A mudança da Previdência segue vista como urgente após o governo ter de elevar as metas fiscais, com déficit superior a R$ 500 bi de 2017 a 2020

Temer: o mercado e o governo não devem entrar em um “clima de já ganhou”, diz o consultor Nathan Blanche (Paulo Whitaker/Reuters)

Temer: o mercado e o governo não devem entrar em um “clima de já ganhou”, diz o consultor Nathan Blanche (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 22h02.

São Paulo - As incertezas com a reforma da Previdência e a eleição de 2018 impedem o mercado de comemorar mais efusivamente o programa de privatizações do governo Temer, que surpreendeu os investidores tanto pela dimensão de empresas e setores da economia envolvidos quanto por incluir a Eletrobras, maior estatal de energia do país.

A mudança da Previdência segue vista como urgente após o governo ter de elevar as metas fiscais, que passaram a apontar déficit superior a R$ 500 bilhões de 2017 a 2020. A eleição de um presidente favorável às reformas no próximo ano também é condição para sustentar o otimismo do mercado.

Apesar dos avanços representados pelo plano de privatizações e pela redução do subsídio nos juros do BNDES, o mercado e o governo não devem entrar em um “clima de já ganhou”, diz o consultor Nathan Blanche, que considera tanto a reforma da Previdência quanto a eleição de um governo comprometido com as reformas em 2018 fundamentais para consolidar a atual onda otimista do mercado.

“A reforma da Previdência é fundamental, é o oxigênio que o país necessita”, diz o sócio-diretor da Tendências Consultoria.

“A reforma da Previdência já está mais de 20 anos atrasada”, diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra. Diante das dificuldades políticas reconhecidas pelos investidores, Kawall considera que há mais espaço para uma reação positiva do mercado no caso de aprovação da reforma do que um potencial de queda caso o tema não avance no Congresso.

Ainda assim, ele avalia que a reação será negativa caso nem mesmo uma “reforma mínima” seja aprovada neste governo.

O anúncio da privatização da Eletrobras é um sinal “emblemático” da mudança positiva no cenário econômico, diz Cristiano Ayres, diretor e sócio do Banco Modal. Apesar das dúvidas sobre a reforma da Previdência, o executivo observa que o teto de gastos representará uma “camisa de força” para os governantes, impedindo uma maior deterioração das contas públicas. Para consolidar o otimismo do mercado, ainda falta reduzir a incerteza com 2018, com o surgimento de um candidato viável que defenda a manutenção do rumo atual, diz Ayres. Nesse caso, o país poderia viver em 2018 um “mercado altista político”.

Blanche reconhece que o espaço para ganho dos ativos brasileiros é expressivo caso, além das privatizações, o país em 2018 tenha a Previdência reformada e uma coalizão política eleitoralmente forte e comprometida o ajuste fiscal, abertura da economia e redução do peso do estado.

Ele observa que o dólar caiu menos que o risco Brasil desde 2016. Além disso, as contas externas equilibradas poderiam também ajudar a fazer o câmbio a rumar para R$ 2,50 em um cenário do tipo “Brasil dando certo”. A inflação baixa, por sua vez, poderia permitir à taxa de juros cair para até 6%.

“Tem muito capital no mundo. O cenário global favorece países emergentes que fazem a lição de casa”, diz Blanche.

Rodrigo Abreu, economista da Caixa Asset, avalia que o país pode fazer a travessia até 2019 até mesmo sem reformar a Previdência, desde que haja perspectiva de que o próximo governo irá manter a proposta da reforma. Ainda assim, adverte ser necessário cuidado para evitar a generalização do otimismo recente.

“Não dá para excluir a possibilidade de o quadro político complicar”, diz Abreu, citando entre os riscos ainda presentes as delações da Lava Jato e a esperada segunda denúncia contra o presidente Temer.

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