Previdência brasileira é desigual e insustentável, diz NYT
Mas "poucos legisladores estão dispostos a dizer aos votantes que terão que trabalhar por mais tempo e ganhando menos em seus anos dourados", diz jornal
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de fevereiro de 2018 às 12h35.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2018 às 16h27.
São Paulo - O sistema de Previdência brasileiro é caro, desigual e insustentável, de acordo com uma matéria do The New York Times publicada neste domingo (25).
Números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) citados pela reportagem mostram que a idade média de aposentadoria no país é de apenas 56 anos para homens e 53 anos para mulheres.
Mais de um terço dos subsídios ao sistema é direcionado aos 20% mais ricos da população enquanto apenas 4% tem como destino os 20% mais pobres, de acordo com dados do Banco Mundial também citados no texto.
"Analistas e políticos de todo o espectro político já reconhecem faz tempo que o sistema de pensões é insustentável e um dos principais fatores para as contínuas dificuldades econômicas do país", diz o jornal.
Os gastos com Previdência já respondem por um terço do Orçamento e quase dobraram seu peso na economia nos últimos anos, indo de 4,6% do PIB em 2014 para 8,2% do PIB em 2016.
É uma porcentagem bastante alta na comparação internacional, ainda mais considerando que a população brasileira ainda é relativamente jovem.
Só que mesmo com números tão contundentes, o timing da reforma se provou desafiador demais.
Com eleições já em outubro, "poucos legisladores estão dispostos a dizer aos votantes que eles terão de trabalhar por mais tempo para receber menos dinheiro em seus anos dourados", diz o NYT.
Mas o jornal também destaca que um dos obstáculos para mudar o sistema é a desconfiança da população com a elite política do país após tantas acusações de corrupção e privilégios escancarados.
Temer é citado como um garoto-propaganda problemático, já que embolsa uma aposentadoria generosa há duas décadas.
Apesar de tudo, a reforma da Previdência parecia com alta chance de aprovação até de maio do ano passado, quando foi divulgada a gravação de Michel Temer com Joesley Batista, um dos donos da JBS.
Todo o capital político do presidente foi direcionado para afastar as acusações no Legislativo e a emenda constitucional acabou engavetada recentemente, com o governo estimando que faltavam pelo menos 40 votos para atingir o mínimo de 308 dos 513 deputados para aprovação.
Além disso, a aprovação da intervenção federal de segurança no Rio de Janeiro bloqueou a possibilidade de mudanças constitucionais enquanto estiver em vigor.
Segundo o jornal, mesmo alguns apoiadores do presidente reconhecem que evitar uma "perda embaraçosa no Congresso" foi justamente uma das motivações por trás do decreto.