Gustavo Montezano: para o presidente do BNDES, não são necessários novos esclarecimentos (Valter Campanato/Agência Brasil)
Agência O Globo
Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 16h37.
Última atualização em 18 de dezembro de 2019 às 16h37.
Rio de Janeiro - O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou, nesta quarta-feira, que não há mais esclarecimentos necessários a se fazer sobre operações realizadas pelo banco no passado. Nos últimos meses, dentro de seu objetivo de "explicar a caixa-preta do BNDES" - expressão usada por críticos para apontar suposta falta de transparência -, Montezano se pronunciou sobre operações como o investimento na JBS e o apoio à exportação de serviços de engenharia por empreiteiras.
Na apresentação de um plano trienal para o BNDES, o executivo deu a entender que considera a "explicação da caixa-preta" algo, por ora, superado. - Hoje, entendemos que não há nada, nenhum evento mais, que requeira esclarecimento. A sociedade está com informação de qualidade, substancial. Mas, se for necessário, vamos expor novamente - afirmou. - Esse processo de abertura do BNDES não tem um marco temporal, é permanente.
No evento, Montezano se comprometeu a conceder empréstimos que gerem e mantenham 1,2 milhão de empregos por ano até 2022. A promessa está no plano trienal, que prevê também a estruturação, nesse prazo, de projetos que ampliem o acesso ao saneamento básico para mais 20 milhões de pessoas no futuro e a venda de 30 empresas públicas.
Apresentar um plano trienal era uma das cinco metas da gestão de Gustavo Montezano este ano, que incluíam também elevar a transparência do banco ("explicar a caixa-preta), acelerar a venda de ações de empresas maduras, pagar a dívida com o Tesouro e a melhorar a prestação de serviços a governos. Na opinião do presidente do banco, essas cinco metas foram concluídas.
Na apresentação a jornalistas e diretores do banco, Montezano argumentou que é falsa a percepção de que a carteira de ações do BNDES, que soma mais de R$ 110 bilhões, foi lucrativa no longo prazo. Ele usou números para mostrar que, ao longo dos anos, esse investimento rendeu menos que o CDI, taxa que segue de perto os juros básicos do país e não oferece risco.
Segundo ele, se nos últimos dois anos a carteira vem sendo favorecida pela recuperação na Bolsa, em prazos mais longos, ela perde para o CDI. Em 10 anos, as ações subiram apenas 4,4% ao ano, enquanto o CDI registrou avanço de 9,9%. Em 18 anos, foram 12,2% em média para a carteira e 12,4% para o CDI.
- Chama atenção como nós, como sociedade, nunca discutimos essa carteira da BNDESPar. Ela trouxe risco para o BNDES e deixou dinheiro na mesa. Fazendo uma conta de padeiro, ficaram R$ 100 bilhões na mesa - afirmou Montezano. - O acionista (governo federal) que estava aqui há alguns anos esperava do banco a geração de dividendos e tributos para que eles contassem como receita primária. Então, quanto maior fosse a carteira, melhor seria. Agora não é mais assim.
Montezano frisou que a redução da carteira de ações não compromete a rentabilidade do banco, pelo contrário:- A lucratividade, sem considerar a renda variável, é equivalente a 5 vezes a nossa despesa. O BNDES é o banco mais sólido do mundo nesse quesito. Por isso me surpreenderam as dúvidas que havia aqui no banco e lá fora sobre o seu futuro se vendêssemos as ações.
Embora Montezano considere que tenha conseguido acelerar a carteira de ações do banco, apenas esta semana o BNDES conseguiu realizar uma venda substancial: se desfez na terça-feira de R$ 2,1 bilhões que tinha em papéis do frigorífico Marfrig. Era inicialmente esperada para este mês a venda de R$ 8 bilhões em ações da JBS, mas a transação acabou ficando para o ano que vem.
O banco tenta agora vender sua participação na Petrobras, que ultrapassa os R$ 50 bilhões. A expectativa é que o BNDES contrate até semana que vem o consórcio de bancos para abrir mão das ações ordinárias (ON, com voto). O Conselho de Administração do BNDES também já liberou os executivos para vender na Bolsa em até seis meses todas as ações preferenciais (PN, sem voto).
- Esperamos a precificação da oferta de ações da Saudi Aramco acontecer. Não iríamos lançar uma operação enquanto houvesse aquele elefante na estrada. Ficamos educadamente esperando - justificou Montezano. - Mas não temos nenhuma pressa. Tudo vai depender da demanda do mercado. Temos três anos para fazer esse desinvestimento.
Enquanto reduz o tamanho da carteira de ações, o BNDES quer elevar o investimento em fundos. O banco está investindo R$ 400 milhões em um fundo da Pátria Investimentos focado em infraestrutura que terá patrimônio de R$ 10 bilhões.
O banco também anunciou esta semana o lançamento de um fundo que aplicará em projetos de Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês, que é o ecossistema de sensores e máquinas conectadas à rede). O banco e a empresa americana de tecnologia Qualcomm aportarão R$ 40 milhões cada um.
- Também queremos estruturar até 2022 pelo menos cinco fundos voltados para pequenas e médias empresas - disse Leonardo Cabral, diretor responsável pela área de mercado de capitais, que não quis estimar o tamanho da carteira de fundos que o banco terá no futuro.
Quando tomou posse, em setembro, Montezano afirmou que iria analisar se seria necessário fazer um Plano de Demissão Voluntária (PDV) no BNDES. Perguntado sobre isso nesta quarta-feira, o presidente disse que a decisão foi postergada para o próximo trimestre.
Ele falou que será crucial levar em conta na decisão o andamento da cessão de funcionários do BNDES a outros órgãos. Já há cerca de 50 técnicos do BNDES na fila para empréstimo à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e há pedidos vindo de outros seis órgãos, como IBGE e Susep, regulador do setor de seguros.