Economia

Preço do petróleo impacta decisão do Copom sobre a nova Selic

Expectativa sobre decisão da Petrobras quanto aos preços dos combustíveis será determinante na decisão sobre corte da taxa básica de juros já em agosto ou só em setembro

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Como o Comitê de Política Monetária (Copom) já conquistou fama inconteste de extremo conservadorismo na condução da política monetária -- ou seria sábia cautela? -- tem minguado o número de analistas dispostos a apostar no corte da taxa básica de juros da economia nesta quarta-feira (17/8), ao final da reunião mensal do colegiado. A equipe de economistas do Bradesco projetava corte da Selic em agosto, mas agora aposta em manutenção.

O que afeta o relativo otimismo da última ata do Copom é a nova escalada do petróleo e as dúvidas sobre a reação da Petrobras a esse movimento. Embora a estatal continue fiel à sua política de preços mais atenta a outros condicionantes do que aos interesses da empresa (leia a opinião de um especialista em energia), as margens da Petrobras estão espremidas demais. "Eles já seguraram muito aumento, e continuar segurando seria ameaçar demasiadamente o capital dos acionistas, entre os quais está a própria União", afirma Marcel Pereira, da RC Consultores.

Para Monica Baer, da consultoria MB Associados, já que os preços dos alimentos, os preços industriais e o câmbio estão jogando a favor do controle da inflação, talvez seja este o momento ideal para absorver um reajuste de combustíveis. "Pode ser muito melhor fazer isso agora do que em 2006, ano eleitoral", diz. "Com a vantagem de que, se as cotações do petróleo recuarem no ano que vem, podem até baixar os preços dos combustíveis, obtendo com isso algum dividendo em popularidade."

Seguindo raciocínio contrário, caso a Petrobras segure os preços, a despeito das cotações atuais do barril, entre 60 e 65 dólares, ela pode ser obrigada a fazê-lo no ano que vem. Até lá, nada impede que os preços agrícolas e o câmbio (sem falar na popularidade do governo) estejam deteriorados.

O custo de corrigir os combustíveis agora é basicamente afastar um pouco o IPCA da meta central. Por hipótese, ao invés de fechar o ano nos 5,1% perseguidos, fecharia em algo em torno de 5,5%, mas não muito acima disso. "Para quem temia um IPCA de 8%, encerrar 2005 em 5,5% não é nada mau", afirma Monica. Assim, nesta quarta-feira, o Copom pode segurar a Selic em 19,75% ao ano, e quando começar o ciclo de alívio monetário, teria margem para estrear com um corte um pouco mais ambicioso, de 0,5 ponto percentual.

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A LCA Consultores vê plenas condições para o Copom baixar os juros, hoje mesmo, em 0,5 ponto percentual. As primeiras prévias do IGP-M e do IGP-10 sinalizariam que a prolongada deflação no atacado agropecuário e industrial começa a se estender para o varejo e para a construção civil. O IPCA de julho teria demonstrado que os núcleos da inflação ao consumidor estão se acomodando em níveis mais compatíveis com as metas. O comportamento das expectativas inflacionárias também justificaria a retomada imediata do corte da Selic.

Mas mesmo a LCA ressalva que não se deve descartar a manutenção da Selic nos atuais 19,75% ao ano por mais um mês. "A sustentação de um ritmo relevante de expansão da atividade econômica doméstica amortece as pressões por uma política monetária menos contracionista", justifica a consultoria em análise divulgada nesta terça-feira (16/8).

Além disso, o agravamento da crise política pode gerar nos membros do Copom o receio de que uma decisão de corte de juros seja mal interpretada. "Parte do mercado poderia tomar um corte de juros como reflexo de injunções políticas."

A Tendências Consultoria Integrada aposta em manutenção da Selic. Os sinais de equilíbrio entre oferta e demanda ainda não seriam inequívocos, sendo prudente esperar pelo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre.

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