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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h50.
O tão festejado superávit comercial recorde de 33,7 bilhões de dólares, conquistado pelo Brasil no ano passado, não seria alcançado sem o avanço das exportações do agronegócio. Apesar disso, o governo continua demonstrando uma política ambígua em relação ao setor, que pode comprometer o desempenho no futuro. A análise partiu do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas.
Segundo o Ibre, um exemplo da hesitação das autoridades em desenvolver o agronegócio é a postura em relação aos transgênicos, que "pode estar refreando progressos com potencial tão promissor quanto os da soja do cerrado e da soja tropical no passado". O instituto lembra que o algodão transgênico do tipo BT (Bacilus Turgensis), por exemplo, é proibido no Brasil, mas já está sendo plantado em nações como a Austrália, tão ou mais conservadora que os brasileiros em termos de proteção ambiental.
"O risco é o de que a ambigüidade do poder público em relação ao agronegócio capitalista, refletida também na forma de tratar a questão dos transgênicos, impeça o contínuo bom funcionamento da moldura institucional que permitiu o grande salto das últimas décadas", afirma o Ibre.
Outro desafio para assegurar a competitividade do setor no mercado externo é a questão sanitária. Em vários episódios, outros países questionaram as condições sanitárias do Brasil. São exemplos recentes a suspeita de vaca louca, levantada pelo Canadá, o embargo das exportações de soja para a China e de carne suína para a Rússia. Em todos os casos, o governo brasileiro se mobilizou para provar o cuidado com que os produtos são processados. Mesmo assim, o Ibre recomenda maior atenção para o problema, pois "uma acusação nem sempre bem fundamentada de um país importador pode arrasar globalmente as vendas externas de um determinado produto".
O terceiro ponto que o governo precisa atacar é a infra-estrutura logística, a fim de favorecer o escoamento da produção do agronegócio. As más condições das estradas, a malha ferroviária ainda insuficiente e o congestionamento nos portos são fatores de redução das margens do setor.
Quanto às negociações internacionais, o Ibre afirma que é necessário insistir na conclusão de acordos de livre comércio com os diversos blocos econômicos e organismos multilateriais, como a Organização Mundial de Comércio (OMC). Segundo o Ibre, o forte protecionismo que cerca o agronegócio em outros países prejudica a competitividade brasileira.