A equipe de Guaidó administra as operações diárias da Citgo (Luisa Gonzalez/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 24 de abril de 2019 às 16h26.
Última atualização em 24 de abril de 2019 às 16h42.
A equipe econômica do líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, está pressionando para garantir que um pagamento de juros de US$ 71 milhões seja feito sobre o último título remanescente de governo do país que não está em default.
A Assembleia Nacional, controlada pela oposição, vai iniciar as discussões sobre o desembolso na quarta-feira, antes de oficialmente aprovar, no início da próxima semana, o pagamento aos detentores dos títulos da PDVSA, a petrolífera estatal, com vencimento em 2020, de acordo com três parlamentares com conhecimento do assunto.
Isso porque o título tem o suporte da participação majoritária na Citgo, a refinaria americana de propriedade venezuelana que a oposição agora supervisiona após assumir a sede em Houston. O não pagamento provavelmente desencadearia uma corrida para cobrar a garantia da Citgo.
Tecnicamente, o conselho de administração da PDVSA, controlada pelo presidente Nicolás Maduro, tem autoridade para pagar também. A empresa desembolsou quase US$ 1 bilhão no final do ano passado para se manter atualizada com a obrigação, mesmo com a Venezuela tendo deixado de honrar mais de US$ 10 bilhões em pagamentos de outros títulos.
No entanto, o governo não tem intenção de pagar agora, já que a equipe de Guaidó administra as operações diárias da Citgo e as sanções dos EUA impedem que a refinaria pague dividendos à PDVSA.
“Esse título tem características especiais”, disse Alejandro Grisanti, membro de um conselho paralelo da PDVSA nomeado por Guaidó, em um esforço para assegurar o controle sobre as finanças do país. “É uma garantia excessiva da posição na Citgo, e essa é uma das razões pelas quais podemos chegar a um consenso com todos os venezuelanos de que esse pagamento deve ser feito.” O Ministério das Finanças da Venezuela não respondeu aos pedidos de comentários.
O pagamento dos juros vence em 29 de abril. O contrato de garantia inclui um período de carência de 30 dias antes de os valores mobiliários serem declarados em default. As notas de 8,5% foram cotadas a aproximadamente 90 centavos de dólar na terça-feira, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, em comparação a um preço médio para a dívida venezuelana e da PDVSA de cerca de 30 centavos.
A equipe de Guaidó provavelmente fará o pagamento para manter o controle da Citgo, joia da coroa venezuelana no exterior, de acordo com Jan Dehn, chefe de pesquisa do Ashmore Group em Londres. A empresa é a maior detentora declarada dos títulos, segundo dados compilados pela Bloomberg. “Eles terão de arranjar o dinheiro”, disse Dehn.
A oposição liderada por Guaidó pretende fazer o pagamento usando fundos de uma conta de garantia da PDVSA que a equipe controla, e não do dinheiro ligado à Citgo, de acordo com Grisanti.
“O pagamento precisa vir da PDVSA”, disse ele. “Não é uma dívida contraída pela Citgo ou pelo governo central.”