Apetite insaciável por baterias que alimentam tudo despertou interesse por uma mulher que cuida de cabras na vila de Klinovac, Sérvia (Konstantinos Tsakalidis/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 2 de setembro de 2019 às 12h09.
Um patinete antigo barulhento durante uma tarde de verão lânguida trouxe mantimentos e um punhado de dinheiro para a casa de Sasa Antic. Como muitos de seus vizinhos, o sérvio de 30 anos está sem trabalho há algum tempo, por isso a família depende da chegada da pensão de sua mãe.
No entanto, enterrada no solo sob este canto esquecido da ex-Iugoslávia está a perspectiva de uma nova frente europeia na batalha econômica com a Ásia. Geólogos exploram a paisagem montanhosa do metal que se tornou onipresente na tecnologia moderna: o lítio.
"Seria uma dádiva de Deus se pudessem provar reservas de lítio", disse Antic, enquanto sua mãe contava os dinares entregues a ela por um comerciante que também lhes entregava leite, pães e manteiga em Klinovac, uma aldeia de celeiros, casas de pedra e mais cabras que carros. "Esta é a parte menos desenvolvida da Sérvia, e estamos em um beco sem saída."
A busca global por lítio está em alta já que empresas buscam reduzir o uso de combustíveis fósseis. A BloombergNEF estima que a demanda por baterias relacionada ao material de lítio aumentará oito vezes nos próximos 11 anos.
Os depósitos estimados da Sérvia são os maiores da Europa, e o apetite insaciável por baterias para diversas aplicações, desde iPhones até carros da Tesla, leva mineradoras como a Rio Tinto a estudar a viabilidade de minerá-lo.
Em fevereiro, o presidente Aleksandar Vucic classificou os estudos como "uma das maiores esperanças para a Sérvia" e instou empresas a acelerar os trabalhos para iniciar a produção.
No coração dos sonhos de lítio da Sérvia está o equivalente terrestre da kriptonita - a rocha fictícia do planeta natal do Super-Homem -, descoberta em 2004. O mineral, apelidado de “jadarita”, em alusão ao Vale Jadar, possui uma estrutura química semelhante ao composto que pode ser usado para “corroer” os poderes do super-herói. Contém lítio e boro, utilizados em cerâmica, fertilizantes e isolamento.
O filão de lítio da Sérvia, se puder ser extraído com lucro, é grande o suficiente para ajudar o continente a competir com o desenvolvimento asiático, especialmente na China, o terceiro maior produtor mundial de lítio e o principal fabricante de baterias de íon de lítio.
A Rio Tinto, uma das maiores empresas de mineração do mundo, e a australiana Jadar Lithium estão testando a quantidade de lítio existente na Sérvia. A Rio Tinto não quis comentar. A Jadar Lithium, que inclui um grupo de investidores desconhecidos representados pelo JPMorgan Chase, não quis dar detalhes do projeto.
Estimativas otimistas do governo e exploração preliminar sugerem que pode haver até 200 milhões de toneladas de depósitos na Sérvia, enquanto o US Geological Survey disse que havia 1 milhão de toneladas de reservas identificadas no país, tornando-o uma das fontes mais ricas de lítio na Europa.
(Com a colaboração de Irina Vilcu, Lynn Thomasson e Patricia Suza.